Com o tema da dívida como pano de fundo, Jerónimo de Sousa voltou esta segunda-feira a defender que o Governo vive na ilusão de achar que consegue devolver o país à rota do crescimento económico sem romper de vez com os “constrangimentos” do euro e da União Europeia. Os resultados até agora conseguidos — “manifestamente insuficientes”, lembrou o secretário-geral do PCP — são fruto de um conjunto de fatores que Portugal “não controla no futuro” e não de um verdadeiro “modelo alternativo de desenvolvimento”.

No arranque das jornadas parlamentares do PCP, que se estendem até terça-feira, em Coimbra, Jerónimo de Sousa denunciou a falta de investimento no país, “o mais baixo desde a década 50 do século passado”, e a preocupação excessiva do Governo com o défice.

Não é o défice das contas públicas o grande problema do país, como se poderia deduzir pela induzida e forçada atenção e nada inocente centralidade que assume no quadro dos conjuntos dos problemas nacionais. É um problema, mas não é o problema”, defendeu o líder comunista.

Num momento em que António Costa celebra o défice de 2,1% que conseguiu em 2016, Jerónimo de Sousa aproveitou o encontro com os militantes e deputados comunistas para criticar, ainda que de forma implícita, as “ilusões” do primeiro-ministro socialista.

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“Iludir que o país paga anualmente em juros da dívida pública mais de oito mil milhões de euros, dos quais mais de metade sai para o estrangeiro, para os credores oficiais da troika e os credores privados externos, fundamentalmente bancos e fundos de investimento, é adiar uma saída sustentada da crise”, afirmou Jerónimo de Sousa, argumentando que, “ao ritmo, muito insuficiente, a que a cresce a economia do país, só praticamente no fim da década se aproximará dos níveis de produção de riqueza que tinha antes da crise 2007/2008”.

As contas de Jerónimo para o (parco) crescimento

Se dúvidas restassem, Jerónimo de Sousa fez questão de desfazê-las, distinguindo, um por um, os fatores que ajudaram a garantir o parco crescimento — nas palavras do comunista — do país. “Não ter em conta que Portugal beneficia neste momento de fatores que não controla no futuro, nem estão garantidos fora da atual conjuntura — baixas taxas de juro, baixos preços de petróleo, prolongamento do programa de expansão monetária do BCE, afluxo de turistas desviados de outros destinos pode servir para justificar uma opção política que se recusa a enfrentar as verdadeiras causas dos nossos problemas”, afirmou o secretário-geral do PCP.

Mas, essa batalha — a da renegociação da dívida –, o Governo socialista não quer travar de forma unilateral no palco europeu. Os comunistas não esquecem, mas vão apontando baterias a outras lutas internas. À cabeça, o fim das penalizações nas reformas antecipadas de quem tem 40 anos de descontos ou mais. O Governo socialista apresentou aos parceiros uma proposta onde prevê reformas antecipadas sem penalizações para trabalhadores com, pelo menos, 48 anos de descontos. Para o PCP, essa proposta “não corresponde aos anseios dos trabalhadores e defrauda as expectativas criadas”.

Por isso mesmo, em Coimbra, Jerónimo de Sousa deixou a promessa: no próximo debate quinzenal, na quarta-feira, o PCP volta à carga e vai pressionar António Costa a aceitar proposta do PCP. “Não nos revemos em tal proposta e continuamos a insistir que é necessária, ainda este ano, uma resposta urgente que corresponde às justas expectativas dos trabalhadores”, assegurou o comunista.

O secretário-geral do PCP criticou mais uma vez a venda do Novo Banco, prometendo uma oposição de princípio à operação. “Esta entrega do Novo Banco, que o governo PS quer agora concretizar, é a opção defendida desde o início por PSD e CDS. É uma opção que prejudica o país e o povo e é, por isso, uma opção que o PCP rejeita. Para integrar o Novo Banco no setor público bancário, contam com a nossa força e a nossa iniciativa. Para entregar o banco a grupos privados e passar a fatura povo, sabem que contarão com a nossa oposição”, disse ainda Jerónimo de Sousa.