António Costa está em estado de graça e tudo lhe corre bem — com tudo o que isso tem de bom e que pode vir a ter de mau. É pelo menos essa a conclusão da versão europeia do jornal online Politico, que dedica um artigo ao primeiro-ministro português. A premissa é simples: com tantas boas novas na economia, o líder socialista está cada vez mais pressionado pelos parceiros de esquerda e pelos sindicatos a reverter as reformas feitas pelo anterior Governo. Mas, apesar dos sinais encorajadores da economia, a margem continua exígua.

O início do artigo do Politico é revelador e não faltam referências aos inevitáveis “fado” e à “saudade” que, aparentemente, atravessam e caracterizam o espírito nacional. “Vários inquéritos mostram os portugueses a rivalizar com os gregos e com os búlgaros pelo título do povo europeu mais melancólico. No entanto, desde que António Costa tomou posse, há 18 meses, parece que a terra do fado e da saudade tem andado a tomar anti-depressivos uns atrás dos outros”.

O jornal passa depois em revista as conquistas recentes do Governo português — o défice mais baixo da democracia, os indicadores positivos no turismo e nas exportações, a saída do Procedimento por Défice Excessivo — sem esquecer os sucessos no Euro 2016 e na Eurovisão e a escolha de António Guterres como secretário-geral da ONU. O Politico socorre-se mesmo de um artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso para resumir o ânimo coletivo: “Começam a enjoar as boas notícias. Nós não fomos concebidos para lidar com tanta alegria”, escreveu MEC. António Costa pensará o mesmo.

O primeiro-ministro começa agora a lidar com a pressão dos sindicatos — à cabeça, a CGTP de Arménio Carlos — e arrisca-se a enfrentar greves em várias frentes — professores, enfermeiros, juízes. No Parlamento, quando já se discutem as primeiras linhas orientadoras do Orçamento do Estado para 2018, Catarina Martins (BE) e Jerónimo de Sousa (PCP) aumentam a parada e apontam baterias à revisão dos escalões do IRS, uma das grandes batalhas das legislativas.

Todas estas reinvidicações surgem numa altura em que o Governo ainda está economicamente sob pressão, continua o Politico. Desde logo, porque o país continua ligado a uma máquina chamada DBRS, a única agência de rating que mantém o país acima de lixo e dentro do programa de compras de dívida pública pelo Banco Central Europeu (BCE). E ainda há a dívida pública, que continua a aumentar e já atingiu 130,4% do PIB.

Costa mantém-se otimista. Não “irritantemente otimista”, como Marcelo chegou a dizer que era, mas com a certeza que “apesar dos protestos, a extrema-esquerda provavelmente não provocará uma crise”, nota ainda o Politico.

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