Jessie Reyez entrou em palco com um sorriso rasgado. Acenou a quem por ali estava e começou o concerto sem dó nem piedade com “Fuck It”, música que abre o seu primeiro EP, Kiddo, lançado este ano. Reyes, nome desconhecido para muitos, não é um dos grandes do cartaz desta sexta-feira. E isso notou-se. Depois do fim do concerto de Pusha T., o Palco EDP ficou praticamente vazio. Mas quem por ali ficou não se arrependeu.

Filha de imigrantes colombianos no Canadá, Jessie fala, naturalmente, um “poquito” de espanhol. “Mas gostava de dizer qualquer coisa [em português]”, disse com a sua voz doce, atirando depois em português: “Obrigada por estarem aqui!”. Enquanto pegava na guitarra acústica, explicou que foi por causa das covers que tocava que lhe deram “uma oportunidade” de vingar no mundo da música. “Por isso, vou tocar umas covers para vocês”, porque é importante homenagear as “nossas raízes”. A primeira foi “Cocoa Butter Kisses”, do norte-americano Chance the Rapper, numa versão tão Jessie que foi difícil evitar sorrir.

Mas a melancolia depressa se tornou em raiva, quando a canadiana cantou sobre a traição de um homem e sobre necessidade de dizer à mulher que o roubou: “Não, ele é meu”. Com a raiva ainda a pulsar nas veias, interpretou “Gatekeeper”, também do novo Kiddo, tema duro sobre a indústria musical com versos de dar arrepios na espinha:

WeWe are the gatekeepers, spread your legs, open up
You could be famous, girl, on your knees
Don’t you know what your place is?

Percorrendo o palco, irada, transformou-se completamente. No final, de volta à voz doce, afirmou quase envergonhada: “Às vezes fico um bocadinho chateada, mas só um bocadinho”. Já perto do final, agarrou novamente na guitarra para o tema que a tornou famosa, “Figures”. A música fala de uma “separação triste, muito triste”, mas Jessie gosta que as “pessoas a cantem”. É uma forma de se sentir melhor. “Este é o meu sonho desde os três anos, Obrigada, muito obrigada por estarem aqui!”

A música de Jessie é assim, uma vezes cheia de raiva, outras vezes repleta de uma doce melancolia que lhe fica tão bem. Porque “a vida tem altos e baixos, é preta e branca”, e o que Jessie Reyez canta vem do coração.

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