Havia alguma expetativa em relação à apresentação oficial da equipa do Sporting aos seus sócios, no estádio José Alvalade. Não que pudesse haver uma surpresa de última hora, mas para se perceber que jogadores tinham sido já cortados para empréstimo após o estágio na Suíça. A montanha pariu um rato e o clube optou por uma versão “politicamente correta” de apreço por todos, os que ficam e os que saem. Foram todos apresentados, 32 jogadores. E ninguém ficou com a amaldiçoada camisola 7.

Nomes como Azbe Jug, Leonardo Ruíz, André Geraldes, Francisco Geraldes ou Ryan Gauld, que devem sair para rodar por empréstimo, ainda subiram ao relvado numa apresentação que, à semelhança do último ano, terminou com o treinador, Jorge Jesus, e o presidente, Bruno de Carvalho, a subirem de mãos dadas no ar. Houve, ainda assim, uma novidade: a apresentação do novo team manager dos leões, André Geraldes. Todos foram ao centro do terreno, foram aplaudidos, ouviu-se ‘O Mundo sabe que’, houve fogo de artifício e estava feito. Vamos então à curiosidade dos números das camisolas, que tem um pouco mais para contar do que a apresentação.

Em 1995, depois de um imbróglio complicado de resolver (assinou pela Juventus e pelo Parma), Luís Figo acabou por sair para o Barcelona. O extremo terminava contrato, não renovou mas, ainda assim, os catalães tiveram de pagar uma compensação de dois milhões de euros (na altura ainda era assim, antes da lei Bosman). Quase nada para o valor do jogador, nada mesmo tendo em conta o vazio que deixaria na equipa. Nessa época de 1995/96, a primeira pós-Figo, houve duas alterações: passaram a ser três substituições em vez de duas e cada jogador tinha o seu número fixo (antigamente era de 1 a 11). Foi também a partir daí que, quem ficou com a camisola 7 que era do internacional português foi “amaldiçoado”.

Sá Pinto foi o primeiro detentor da camisola, entre 1995 e 1997. Nesse ano, num episódio que ficou famoso no futebol português, agrediu Artur Jorge, então selecionador, em pleno Jamor. Sofreu um pesado castigo e acabou por ser vendido pouco depois aos espanhóis da Real Sociedad. Seguiu-se Iordanov, em 1997/98, o avançado búlgaro que criou uma empatia rara com os adeptos. Nessa mesma época, e depois de ter sentido uma súbita falta de força na perna, fez uma bateria de exames e foi-lhe diagnosticado esclerose múltipla com apenas 29 anos. Continuou a jogar mais três anos, esteve no Mundial de 1998 e celebrou ainda a conquista do título em 2000 (subiu à estátua do Marquês e tudo), mas com menos encontros realizados e sem a influência que outrora tivera.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em 1998/99, chegou Leandro. Avançado brasileiro, talentoso, que até fez 15 golos em 38 jogos mas acabou por sair para o Tenerife e Flamengo após ter sido apanhado em algumas noitadas. Na época seguinte, foi Delfim que ficou com a camisola 7: até começou bem esse ano que marcaria o célebre quebrar do jejum de 18 anos, mas o médio teve várias lesões, foi sujeito a duas operações e nunca mais foi o mesmo. Em 2000/01, Sá Pinto herdou o número; na temporada seguinte, de 2001/02, a última em que o Sporting ganhou o Campeonato, passou para Niculae, avançado romeno que conseguiu um grande arranque de temporada (primeiro sozinho, depois ao lado de Jardel) mas sofreu uma grave lesão no joelho e teve de ser também sujeito a uma intervenção cirúrgica.

Foi por essa altura que começou a aversão à camisola 7 do Sporting, que não teve dono entre 2003 e 2007, altura em que Marat Izmailov chegou a Alvalade. O médio russo, que iria mais tarde para o FC Porto, até fez uma boa primeira época, mas foi perdendo espaço com as sucessivas lesões contraídas, também envolvendo o bloco operatório. Chegamos a 2011/12 e a outro nome que não deixou saudades nos leões: o avançado búlgaro Bojinov, que jogou pouco, mal e teve como gota de água “roubar” um penálti a Matías Fernández para depois falhar. Na época seguinte, Jeffrén, ex-Barcelona, quis trocar o 17 pelo 7. Resultado: esteve tantas vezes lesionado que motivou mesmo processos internos por causa do aval médico da sua contratação.

Shikabala, que chegou em janeiro de 2014, queria também o 7. Era uma espécie de Messi do Egito, mas fez apenas uns minutos de um encontro na última jornada e saiu após alguns problemas disciplinares. Na última temporada, Joel Campbell, avançado emprestado pelo Arsenal, quis também desafiar esse estigma, mas a verdade é que acabou por nunca fazer a diferença no Sporting (mesmo não tendo lesões) e regressar a Londres.

E, já agora, estes foram os 32 jogadores apresentados hoje pelo Sporting, na antecâmara da vitória por 2-1 frente ao Mónaco. Com os respetivos números de camisola que não o 7, como seria de esperar.

Guarda-redes (4): Rui Patrício (número 1), Beto (13), Azbe Jug (26) e Pedro Silva (82)

Defesas direitos (2): André Geraldes (20) e Piccini (92)

Defesas centrais (4): Coates (4), André Pinto (6), Mathieu (22) e Tobias Figueiredo (55)

Defesas esquerdos (2): Jonathan Silva (3) e Fábio Coentrão (5)

Médios defensivos (3): William Carvalho (14), Petrovic (25) e Palhinha (66)

Médios centro (6): Bruno Fernandes (8), Battaglia (16), Francisco Geraldes (18), Mattheus Oliveira (21), Adrien Silva (23) e Ryan Gauld (27)

Extremos (5): Acuña (9), Bruno César (11), Iuri Medeiros (45), Matheus Pereira (73) e Gelson Martins (77)

Avançados (6): Alan Ruíz (10), Daniel Podence (17), Bas Dost (28), Gelson Dala (57), Doumbia (88) e Leonardo Ruíz (90)