A Tesla continua a ser uma empresa altamente deficitária, perdendo milhões de dólares por ano, mas a verdade é que os seus investidores não parecem assustados e o seu CEO também não, justificando os resultados negativos com o forte período de investimento que a marca atravessa.

Aquilo que separa o construtor americano dos lucros é exclusivamente o Model 3, ou melhor, a sua capacidade de produzi-lo ao ritmo inicialmente previsto, que era de 5.000 unidades por semana no final de 2017 e o dobro no fim de 2019, o que equivale a cerca de 500.000 veículos por ano (só do Model 3), um crescimento notável para um fabricante que não ultrapassa os 100.000/ano dos Model  S e X.

Na passada quarta-feira, a Tesla confirmou que continua apostada em cumprir os objectivos a que se comprometeu em Dezembro, que apontam para um ritmo de 2.500 Model 3 até Março, para depois atingir as 5.000 unidades em Junho. Segundo Elon Musk, o raciocínio é relativamente simples:

É apenas uma questão de tempo, pois se conseguimos enviar um Tesla Roadster até ao Anel de Asteróides, também conseguiremos resolver os problemas com a produção do Model 3.”

De caminho, o CEO da Tesla e SpaceX admitiu que actualmente o fabrico do modelo se processa de forma semi-automática, mas que tudo se resolverá com o equipamento que já foi testado na Alemanha e que chegará à fábrica de Fremont, na Califórnia, em Março.

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E mais promessas…

O problema de Musk, seja na SpaceX ou na Tesla, não é cumprir a suas promessas, é realizá-las dentro dos prazos divulgados. Exemplos há vários, desde 5.000 Model 3 por semana, que derrapou de Dezembro de 2017 para Junho de 2018 (a correr tudo bem), ou o Falcon Heavy voar em direcção a Marte, foguetão que foi apresentado em 2011, para voar em 2013, e que apenas deslocou há dias, em 2018. Atrasado, mas voou na perfeição.

No capítulo das promessas, Elon Musk fez outras num passado recente, entretanto já actualizadas. A primeira tem a ver com o Autopilot, que é de longe o melhor sistema já no mercado a proporcionar um nível de condução autónoma 2,5, ou seja, em que o veículo resolve uma série de situações, mas o condutor tem de estar atento para poder agir em caso de necessidade. O CEO da Tesla prometeu realizar uma demonstração do Autopilot, até final de 2017, já numa versão com um nível de automatismo 4 (o condutor já não tem de intervir), em que ia ligar a costa do Pacífico à do Atlântico, nos EUA, ou seja, uma viagem de 4.300 km. Numa recente carta aos accionistas, Musk informou que o Autopilot irá beneficiar da introdução imediata de melhorias, que irão permitir realizar a demonstração “coast to coast” até ao final de 2018. É um atraso de um ano – para muitos, uma consequência da Tesla se ter afastado da Mobileye em 2016, cujos Lidar facilitavam a optimização do sistema. Mas, se o conseguir, será o primeiro construtor a alcançar o que todos perseguem. E dizemos “primeiro construtor”, pois tudo indica que quem está à frente neste processo é a Waymo, da Google, mas é só um palpite.

Outras das promessas, além claro está do Semi e do Roadster, é o Model Y, o SUV concebido com base na base do Model 3, que a Tesla espera que dê menos preocupações. O que até deverá acontecer, pois recorre aos mesmos materiais (carroçaria e chassi em aço, em vez de alumínio, dos Model S e X), usa o mesmo tipo de baterias (novas e distintas das utilizadas até aqui pelos S e X, o que tem sido outra fonte de atrasos) e corre no mesmo tipo de linha de produção.

O Model Y começará a absorver investimentos a partir da segunda metade de 2018, para iniciar a produção em 2020, com a localização da linha de produção a ser anunciada ainda este ano. O veículo será um SUV, uma versão à escala do Model X, mas ainda assim com as dimensões de um BMW Série 4. E não terá portas a abrir tipo asa de falcão, como o X, uma vez que essas tornam a construção mais dispendiosa e problemática.