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Andrew Burton/Getty Images

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À beira da derrota, Bernie não larga Hillary. Razões para Trump rir?

Com a vitória de Clinton quase certa, Sanders recusa-se a sair de cena. Ainda quer tentar a sorte numa convenção disputada. Entretanto, Trump já prepara o caminho para as eleições de novembro.

Com o cabelo bem armado e vestindo um fato púrpura, Hillary Clinton está sentada confortavelmente num bar enquanto dá os últimos goles da sua cerveja. Quando a bebida já está quase terminada, bate com a caneca e vira-se para o empregado, que passa uma toalha branca pelo balcão.

“Bom, barman… Consegui! Ganhei a nomeação! Bom, ainda não. E continuo a perder estados. Mas matematicamente consegui! À matemática!”, diz, para depois levantar o copo bem alto e de seguida beber o que resta dele. “Pronto, acho que vou andando para casa. Não fique a trabalhar até muito tarde!”, acrescenta enfim. “Ah, de certeza que não fico. Até porque tenho de fechar o bar, portanto toda a gente tem de ir andando”, responde-lhe o empregado, que à medida que diz isto, olha em volta, para depois fixar o olhar numa pessoa que está sentada ao fundo do bar. “O senhor incluído!”

Enterrado numa poltrona, de fato azul-escuro, está um homem de óculos, pouco cabelo e cara de ainda menos amigos. É Bernie Sanders. Acenando longamente com o braço, responde ao barman: “Nem pensar! Eu não vou a lado nenhum e posso ficar aqui o tempo que eu quiser!”.

Antes de avançarmos, uma nota bene para quem fala latim, um disclaimer para os anglófonos e um esclarecimento para quem ainda fala português: a cena até aqui descrita faz parte de um episódio do “Saturday Night Live” e é totalmente ficcional. Hillary Clinton é, na verdade, a atriz Kate McKinnon; e o papel de Bernie Sanders é interpretado por aquele que podia ser o seu clone, o comediante Larry David.

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Mas a verdade é que neste momento as eleições primárias do Partido Democrata são mesmo isto. De um lado está Hillary Clinton, a cantar vitória sabendo que ainda é cedo para isso, mesmo que (em parte) a matemática lhe garanta a nomeação para as presidenciais de novembro. Do outro está Bernie Sanders, cujo sucesso inesperado nunca lhe chegou para ultrapassar a sua adversária, mas que, no entanto, insiste em manter-se dentro de campo. A sua promessa é durar até à convenção dos democratas, entre 18 e 21 de julho, onde acredita que será escolhido como o candidato do partido para as presidenciais — algo quase tão provável como, no futebol americano, os portugueses do Algarve Sharks ou do Lisboa Devils vencerem o Super Bowl contra os New England Patriots em fevereiro próximo.

Depois de derrotar 16 adversários nas primárias republicanas, Trump é o "presumível" candidato dos conservadores nas eleições de novembro

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Eis os números, com algumas notas de rodapé. Até agora, Hillary Clinton conquistou 1 750 delegados, ao passo que Bernie Sanders juntou 1 448. Delegados, entenda-se, aqueles que cada candidato recebe consoante os votos que ganha em cada estado. Mas depois há os superdelegados, isto é, delegados que não são eleitos e que consistem em figuras destacadas do Partido Democrata, entre senadores, governadores, ex-Presidentes, antigos candidatos presidenciais e, claro, Barack Obama. Ao todo, são 715. Teoricamente, o voto de cada uma dos superdelegados só será consumado na convenção do Partido Republicano, entre 25 e 28 de julho. Mas na prática, uma grande fatia destes democratas de proa já disse em quem vai votar. E, aqui, os números são amicíssimos de Hillary Clinton, com 537 superdelegados do seu lado. Bernie Sanders, pouco apelativo para o establishment do Partido Democrata, só recebeu o apoio de 42.

E é precisamente à soma dos delegados com os superdelegados que Hillary Clinton vai buscar certezas. Juntando os 1 750 delegados conquistados pelo voto e os 537 que garantem estar do seu lado, a ex-Secretária de Estado tem 2 287 votos a favor. Assim, ficam-lhe a faltar apenas 96 para chegar à meta dos 2 383 delegados necessários para ganhar a nomeação.

É uma caminhada curta quando comparada com a do senador do Vermont: com 1 430 delegados e superdelegados do seu lado, faltam-lhe 893 pessoas para poder tornar-se no nomeado do Partido Democrata para as presidenciais de 8 de novembro deste ano. Para chegar ao nível da sua adversária, Bernie Sanders teria de conquistar 68% dos delegados ainda a jogo. Enquanto isso, as sondagens dão-lhe uma derrota nos dois maiores estados entre os nove que restam — isto é, em New Jersey e na California.

Mas há outras sondagens que Bernie Sanders e a sua campanha frequentemente trazem à conversa: aquelas em que invariavelmente derrota Donald Trump com uma margem maior do que Hillary Clinton. Segundo a media do Huffington Poll Pollster, que agrega as sondagens mais relevantes dos EUA para estas eleições, Bernie Sanders teria 50% contra os 39% de Donald Trump, ao mesmo tempo que Hillary Clinton teria 44%, apenas mais 4% do que o magnata nova-iorquino.

Mas será que estas sondagens são uma bola de cristal fiável para os resultados de 8 de novembro? De acordo com uma recolha do The New York Times, não. Se forem tidas em conta todas as sondagens feitas a partir de 1980 que projetam um confronte de um para um nas presidenciais, aquelas que são feitas, como neste caso, a cinco meses de distância erram em média quase 8% do resultado das eleições. Só a partir de meados de agosto, quando já faltam cerca de 70 dias para as eleições é que as sondagens começam a estabilizar, distando em média cerca de 4% dos resultados finais.

"Nós vamos até à convenção. É extremamente improvável que qualquer um dos candidatos tenha o número necessário de delegados, certo? Por isso esta eleição vai ser decidida pelos superdelegados."
Jeff Weaver, diretor de campanha de Bernie Sanders

Não admira, pois, que na sua versão do Saturday Night Live Hillary Clinton brindasse “à matemática!”. Isto porque para já é apenas a matemática que lhe dá a vitória como “quase” certa. Mas falta o “quase” para Hillary Clinton se tornar a candidata presidencial dos democratas. E é a esse “quase” que Bernie Sanders, o auto-descrito “socialista democrático” senador do Vermont, com 74 anos, se agarra na fase derradeira das primárias democratas.

Desde que Hillary Clinton venceu as primárias no importante estado de Nova Iorque, a 19 de abril, a campanha de Bernie Sanders mudou ligeiramente a sua estratégia e reconhece que teria de começar a apelar aos superdelegados caso quisesse ganhar as primárias.

O caminho foi reconhecido pelo diretor de campanha do senador do Vermont, Jeff Weaver, em declarações à MSNBC naquela noite. “Repare, nós vamos até à convenção. É extremamente improvável que qualquer um dos candidatos tenha o número necessário de delegados, certo? Por isso esta eleição vai ser decidida pelos superdelegados”, começou por dizer. Mais à frente, o jornalista, Steve Kornacki, perguntou-lhe se iria “passar semanas durante o verão a tentar virar superdelegados para o lado de Bernie Sanders antes da convenção” mesmo que Hillary Clinton vença o voto popular nas primárias, que terminam a 14 de junho para os democratas.

“Nesta altura, sim, absolutamente”, foi a resposta.

Gastar tempo com Sanders ajuda Trump?

Desde então, Bernie Sanders tem feito questão de manter essa linha, colocando todas as fichas no cenário de uma convenção disputada, no final de julho. Isto é, daqui a dois meses. Um par de meses em que o senador do Vermont continuará a fazer frente a Hillary Clinton (para já, é a ex-Secretária de Estado, e não o presumível candidato dos republicanos, Donald Trump, o seu maior adversário), ao mesmo tempo que esta, com a matemática do seu lado mas com o calendário a apertar, poderia concentrar-se a 100% a atacar — e a defender-se de — Donald Trump.

“De cada vez que ela tem de desviar o seu dinheiro [de campanha] e a sua atenção para Bernie Sanders em vez de se concentrar em Donald Trump, Hillary Clinton é prejudicada”, garante ao Observador a cientista política Keena Lipsitz, da City University of New York (CUNY).

Para Lipsitz, é difícil entender o que motiva esta estratégia de Bernie Sanders. “Não faço ideia nenhuma daquilo que o motiva além da sua própria ideologia, que parece ser a única coisa que ele tem em conta. Ele parece ser muito pouco pragmático. E o mesmo pode ser dito sobre as pessoas que estão à volta dele.”

Cade Olmstead é, embora à distância, uma das pessoas que estão à volta de Bernie Sanders. No final de janeiro deste ano, o Observador já tinha falado com este jovem de 18 anos residente no Iowa e voluntário na campanha do senador do Vermont. Naquela altura, o tema de conversa era não só as primárias do Iowa — é o primeiro estado a ir a votos, como manda a tradição — mas também as perspetivas de Bernie Sanders. Na altura, Cade disse-nos que era “obcecado” pelo político de 74 anos.

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Cade conheceu Bernie em janeiro, quando este fez campanha no Iowa

Cinco meses depois, o jovem de 18 anos já perdeu a esperanças numa vitória de Bernie Sanders. Tanto que já se refere a ele no pretérito perfeito. Mas também fala no futuro daquilo a que chama “o nosso movimento”. “O nosso movimento é mais do que aquilo que ele foi. Este movimento quer mudar o nosso governo em vários níveis”, diz-nos numa entrevista por Skype. Para isto ir para a frente, Cade defende que a presença de Bernie Sanders até à última é essencial: “É importante ele estar presente para ser um farol do movimento e para podermos continuar a espalhar a nossa mensagem, que tem de ser ouvida independentemente de haver eleições entre a Hillary e Trump. Nós estamos aqui para mudar o sistema e eu acho que, se ele saísse agora, só prejudicaria a nossa mensagem”.

Sobre o “movimento”, Cade, que no outono vai começar a estudar na Universidade do Iowa, diz que o objetivo final é “desafiar o establishment“. Ou seja: “Mudar um sistema político que é feito por grandes negócios e por políticos que se deixam comprar por dinheiro das grandes empresas. O movimento quer apoiar candidatos que não recebam contribuições de corporações ou de dadores milionários. Queremos apoiar pessoas com o mandato do povo e não com o mandato dos interesses”.

Cade está longe de ser a primeira pessoa a pensar nisto. Tanto que um grupo de voluntários e colaboradores da campanha de Bernie Sanders já lançou uma iniciativa, a Brand New Congress, que quer “mudar” o Congresso norte-americano, promovendo candidaturas de “pessoas normais”, dando àquela instituição uma “face mais humana” e menos ligada aos “grandes interesses”. As expressões são de Chelsea Clark. Aos 26 anos, além de trabalhar numa ONG sem fins lucrativos em Miami, é voluntária na campanha de Bernie Sanders e fundadora da Brand New Congress.

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Chelsea trabalha como voluntária para a campanha de Bernie Sanders desde o verão de 2015

Ao telefone com o Observador, Chelsea refere que a ideia da Brand New Congress é “capitalizar com o impulso que Bernie tem neste momento e usá-lo para mudar a maneira como a política é feita neste país”. Quanto a isso, a jovem de 26 anos diz-se “pragmática”, reconhecendo que, embora a iniciativa Brand New Congress seja composta exclusivamente por antigos e atuais membros da campanha de Bernie Sanders, esta terá de incluir todo o espetro ideológico, “dos progressistas aos conservadores”. “Independentemente do quão polarizado este país possa estar, há assuntos nos quais todos podemos concordar”, assegura. “Para isso, às vezes basta que haja senso comum, integridade e valores.”

Hillary Clinton ou Donald Trump? O diabo que escolha

Tanto Cade como Chelsea falam de política com o entusiasmo de quem acompanha umas eleições mais perto do que nunca, investindo-se emocionalmente em todos os detalhes, histórias, viragens bruscas e fait-divers de que a política é feita. Mas, além desse entusiasmo, estes dois jovens apoiantes de Bernie Sanders partilham ainda outro sentimento: o ceticismo. Em relação a quê? Ou, melhor, em relação a quem?

Eis a resposta: Hillary Rodham Clinton, 68 anos, em tempos primeira-dama, ex-senadora por Nova Iorque e antiga Secretária de Estado. E, já sabemos, a maior rival de Bernie Sanders.

Segundo o YouGov, 61% dos eleitores de Bernie Sanders têm uma opinião negativa de Hillary Clinton

Getty Images

Para Cade, a promessa está feita: “Se a Hillary Clinton for a nomeada do Partido Democrata nestas eleições, eu não voto nela”. Isto porque para o jovem do Iowa, seria impensável votar numa política que, diz ele, “está no bolso das grandes empresas e está a favor de que se mandem postos de trabalho para o estrangeiro”.

A “aversão” de Cade a Hillary Clinton é tal que, mesmo que Bernie Sanders seja a escolha da ex-Secretária de Estado para Vice-Presidente, ele continua a não votar nela.

“Muito provavelmente, vou votar na Jill Stein, o Partido Verde”, afiança. Recordamos-lhe as eleições de 2000, em que um número considerável de eleitores votaram em Ralph Nader, do Partido Verde, desviando votos do candidato democrata, Al Gore. No final de contas, percebeu-se que se Al Gore tivesse tido esses votos, George W. Bush nunca teria vencido as presidenciais. E de seguida perguntamos-lhe se não receia que essa via acabe por levar à derrota da democrata Hillary e à eleição do republicano Donald Trump.

“Eu não quero saber assim tanto do partido em si. Aquilo que o que é melhor para o Partido Democrata não é de todo aquilo em que eu penso primeiro. A minha preocupação principal não é evitar que Donald Trump vença as eleições, é garantir que este sistema bipartidário mude.”
Cade Olmstead, apoiante de Bernie Sanders

“Não”, diz, com um sorriso indisfarçável na cara. “Eu não quero saber assim tanto do partido em si. Aquilo que é melhor para o Partido Democrata não é de todo aquilo em que eu penso primeiro. A minha preocupação principal não é evitar que Donald Trump vença as eleições, é garantir que este sistema bipartidário mude”, diz. Mas… E se Trump ganhar? “Bom, se isso acontecer, vamos ter muito trabalho à nossa frente e vamos ter de nos organizar para perceber qual foi o problema que causou isto tudo”, começa por dizer, para depois acrescentar que uma vitória do magnata nova-iorquino poderá ser vantajosa, embora indiretamente. “As pessoas vão começar a sofrer ainda mais economicamente. E embora isso seja um efeito secundário negativo, eu penso que isso pode dar mais energia às pessoas para se libertarem do sistema”, diz. Quando lhe dizemos que, no fundo, ele está a parafrasear a teoria de Marx e a importância que este dava à criação de “consciência de classe”, Cade torna a rir. “Bom, eu sempre fui um marxista!”, responde.

“Ela é uma candidata muito perigosa”

Chelsea não vai tão longe. Está registada no Partido Democrata e pretende continuar a estar, mesmo que Hillary Clinton vença as primárias e mais tarde as eleições presidenciais. Mas, caso isso aconteça, também não será com o seu voto. “Eu não decidi isto de um momento para outro, foi antes um pensamento que eu tive comigo durante muito tempo e que agora já maturou”, justifica.

“Ela não representa de maneira alguma aquilo que são os meus valores”, diz. “Acho que ela é uma candidata muito perigosa, é um falcão de guerra, apoia a extração de gás do subsolo… Eu nunca conseguiria votar numa pessoa assim.” Além disso, Chelsea queixa-se da maneira como as eleições primárias dos democratas têm decorrido, apontando casos de “fraude eleitoral” e de outros “acontecimentos questionáveis”. Um deles foi o caso de Nova Iorque, onde as regras determinaram que os eleitores independentes (uma das bases de apoio mais fortes do socialista, a par do eleitorado jovem) que quisessem votar nas primárias democratas teriam de se registar no partido em outubro. Isto é, meio ano antes das eleições primárias em si, numa altura em que Bernie Sanders era um nome conhecido por muito poucos.

"Eu estava tão entusiasmada com o Bernie Sanders e até cheguei a ouvir histórias de votos a serem mandados para o lixo. Não tenho provas de nada, mas disseram-me que isso tinha acontecido aqui na Florida. E é frustrante termos trabalhado tanto para depois chegarmos ao ponto de nem termos a certeza se o nosso voto foi contado ou não."
Chelsea Clark, apoiante de Bernie Sanders

“Tudo isto demonstrou que nós não vivemos numa democracia. É um oligarquia. Basicamente, os nossos votos não contam”, diz, algo dececionada. “Eu estava tão entusiasmada com o Bernie Sanders e até cheguei a ouvir histórias de votos a serem mandados para o lixo. Não tenho provas de nada, mas disseram-me que isso tinha acontecido aqui na Florida. E é frustrante termos trabalhado tanto para depois chegarmos ao ponto de nem termos a certeza se o nosso voto foi contado ou não.”

Por tudo isto, reforça Chelsea, não votará em Hillary Clinton, mesmo que ainda goste menos de Donald Trump do que da ex-Secretária de Estado. “As pessoas estão fartas de corrupção. E a Hillary Clinton é a representação perfeita disso. É óbvio que eu iria odiar ver uma presidência de Trump, isso seria horrível. Mas uma presidência da Hillary Clinton também será terrível de tantas maneiras… Não seria pior do que Trump, não direi tanto. Mas se eu votasse simplesmente por medo, isso não levaria o nosso país a lado nenhum.”

#NeverHillary

As sondagens indicam que Cade e Chelsea não são os únicos apoiantes de Bernie Sanders a rejeitar qualquer tipo de reconciliação com Hillary Clinton. De acordo com uma sondagem online do YouGov feita no início de maio, 61% dos eleitores de Bernie Sanders têm uma perspetiva negativa de Hillary Clinton, contra 38% que a avaliam de forma positiva. E no final de abril, uma sondagem da McClatchy DC determinou que 25% de eleitores de Bernie Sanders garantiram nunca votar em Hillary Clinton nas eleições presidenciais — por curiosidade, apenas 14% de apoiantes da ex-Secretária de Estado disseram ser incapazes de votar no senador do Vermont.

Keena Lipsitz, a cientista política da CUNY que é especialista em comportamento eleitoral, garante que esta tendência pode ser anulada com o tempo. “Faltam seis meses até às eleições. Há muita coisa que pode mudar em muito pouco tempo”, garante. “Ainda há tempo que chegue para Bernie Sanders ir à convenção, dizer o que lhe apetece e depois anunciar ‘bom, agora vou jogar em equipa’ e deixar as coisas continuarem depois dele”, explica. “Mas como as coisas estão agora, mais parece que ele vai fazer birra, pegar na bola e fugir para casa.” Isto é, acabar por perder as primárias e não declarar apoio à sua adversária — algo que Bernie Sanders já rejeitou, dizendo numa ocasião que vai “certamente apoiar” a ex-Secretária de Estado caso ela seja a nomeada do Partido Democrata; e noutras que fará “todos os possíveis para garantir que nenhum republicano entre na Casa Branca depois destas eleições”.

"Ela é provavelmente uma das pessoas mais qualificadas entre todas aquelas que já se candidataram à Casa Branca!"
Keena Lipsitz, cientista política

Independentemente daquilo que venha a fazer num futuro próximo, Keena Lipsitz adianta que há coisas que Bernie Sanders não conseguirá apagar. Entre elas, destaca a “linguagem” da campanha. “O tom de Sanders perante Clinton tem sido muito mau, ultimamente”, argumenta, referindo como exemplo a situação em que o senador do Vermont disse que a sua adversária não era “suficientemente qualificada para ser Presidente”. “Essa ideia é completamente bizarra. Ela é provavelmente uma das pessoas mais qualificadas entre todas aquelas que já se candidaram à Casa Branca!”

Para Lipsitz, o risco que os democratas correm perante este impasse é o de “desanimarem” o seu próprio eleitorado, tanto por perpetuarem a lógica de confronto intra-partidário, como por potencialmente hostilizarem segmentos do eleitorado “mais à esquerda”, como é o caso de Cade e Chelsea.

Segundo as sondagens, Bernie Sanders venceria Donald Trump com uma margem maior do que Hillary Clinton

ASTRID RIECKEN/EPA

E quem é que vê isto do lado de fora? Donald Trump, é claro. O homem cuja vitória nas primárias ninguém previu e que agora passa apenas por uma mera formalidade. O milionário que entrou de rompante na política norte-americana (apesar de andar a testar o terreno desde pelo menos 1988) e que lhe tirou qualquer previsibilidade. O profissional da polémica que tratou de mudar a maneira como se faz e comunica política nos EUA. O ideólogo amorfo, que tanto tece loas ao capitalismo como critica fortemente o comércio livre.

Em suma, um animador perante um eleitorado desanimado.

Será o suficiente para roubar eleitorado mais à esquerda, nomeadamente aqueles que por tanto odiarem Hillary Clinton estão dispostos a votar naquele que é verdadeiramente o seu maior rival?

Keena Lipsitz responde com aquilo que já se tornou a máxima de todos os cientistas políticos e comentadores norte-americanos — e que grande parte gostaria de ter adotado há bastante mais tempo. “O que estas eleições demonstraram é que ninguém tem uma bola de cristal. Quem disser que sabe o que vai acontecer está a mentir”, garante. Mas, mais à frente, dá a prova de que os velhos hábitos demoram a desaparecer, e faz a leitura possível: “Quem ganha com isto tudo é Trump”.

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