A rodagem

Comecemos pelo que sabemos (ou julgamos saber). A fazer fé nos boatos e fotos que correm pela net, a pré-produção já começou algures na Irlanda do Norte. A produção propriamente dita — que é como quem diz, as gravações — arranca em Outubro, segundo disse à Collider o próprio Nikolaj Coster-Waldau a.k.a. Jaime Lannister. Se demorar mais ou menos os mesmos seis meses das anteriores, lá para Março ou Abril, estão a filmar o último plano – um shot glorioso em que Tyrion cavalga um dragão em direcção ao Night King e… bom, não sabemos.

Os números

A temporada final vai ter apenas seis episódios, contra os dez das seis primeiras e os sete da sétima. A boa notícia é que corre insistentemente a tese de que serão maiores, talvez a rondar a hora e meia, como se cada um fosse uma longa-metragem (o último da sétima temporada, lembremos, já teve cerca de 80 minutos).

[por dentro do último episódio da temporada 7:]

O argumento

De acordo com a IndieWire, o argumento do primeiro episódio foi entregue a Dave Hill, que já antes assinara os guiões de “Home”, segundo episódio da sexta temporada, e “Eastwatch”, o quinto e um dos mais chatos da sétima. O segundo episódio foi para Bryan Cogman, responsável por “Stormborn”, que fora precisamente o segundo e, já agora, um dos melhores da sétima temporada. Os quatro da recta final ficam nas mãos dos próprios David Benioff e D. B. Weiss, nem mais nem menos do que os showrunners e ciosos autores da adaptação da série.

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A estreia

Agora, uma coisa que não sabemos e que nos anda a comer por dentro como uma daquelas sanguessugas de Melisandre: a data de estreia. As seis primeiras temporadas começaram sempre em Abril; a sétima já só estreou em Julho devido aos atrasos na produção, que teve de esperar que o aquecimento global fizesse o favor de deixar nevar o suficiente para se filmar o Norte e o lado de lá da Muralha; a oitava sabe-se lá. Em entrevista à Entertainment Weekly, o director de programas da HBO, Casey Bloys, disse que podíamos só vir a ter temporada final em 2019, uma vez que o mais importante agora era dar aos autores todo o tempo de que precisassem para escrever. E eis o que tememos: que o senhor Casey tenha razão, circunstância em que lhe desejaremos, ardentemente, que vá fazer amor com um dragão com azia.

[um comentário do elenco:]

A história

A oitava temporada vai trazer, por fim, a tão esperada batalha entre vivos e mortos, no fundo a definitiva guerra dos tronos. Imagina-se, portanto, valores de produção ainda mais altos, ainda mais exteriores, ainda mais efeitos especiais. Como é que isto acaba? Não deixava de ser interessante que a morte vencesse, uma vez que, enfim, é o que tem acontecido nestes últimos 200 mil anos de humanidade, mas talvez não seja o final mais simpático para uma série de entretenimento, de maneira que alguém há-de matar a morte.

“Guerra dos Tronos”. E no fim há sangue. Sangue por todo o lado

Os zombies

Até lá, no entanto, é melhor ir-se preparando para ver pelo menos umas quantas das suas personagens preferidas virarem zombies desalmados e ganharem aquela cor de quem anda com problemas de fígado. Candidatos? Jorah tem ar de mártir, Ser Davos tem ar de mártir, Bronn tem ar de quem já está a 50% da transformação para zombie, mas ainda falta aqui alguém de primeira linha para sofrermos a sério com a transformação. Aceitam-se apostas.

O romance

OK. É verdade que, numa série em que já houve dois casos incestuosos entre irmãos e um de um pai com as filhas, um affair entre uma tia e um sobrinho pode parecer café pequeno, mas continua a não ser a coisa mais cool de se colocar no status (“Jon – Numa relação com: Tia Dany”). Em princípio, o que se espera é que o íntegro e puritano Jon se afaste da situação assim que dê pelo elefante na sala e fustigue até ao fim dos tempos pela noite do outro dia (passe o lamentável exercício de português). Antes disso, contudo, ainda é esperado que o vejamos voar ao lado de Daenerys, no dorso de um dragão – ou devemos antes dizer: do primo? No fundo, quem tinha razão era Ygritte: “You know nothing, Jon Snow”. Que é como quem diz: não sabes nada, puto.

[o exército dos mortos:]

A vingança

Mas a história de amor entre estes dois que, já de si, nada tinha de simples, é capaz de complicar ainda mais antes de se resolver. Reparou naquele plano de Tyrion vendo Jon esgueirar-se para o quarto de Daenerys no fim do último episódio? Pareceu-lhe inocente? Certo. Há muito que todos sabemos que nunca há nada inocente na “Guerra dos Tronos”, quanto mais agora, nesta avançada altura do campeonato. Vai para aí um falatório por essa internet afora acerca do assunto, mas talvez ninguém o tenha colocado melhor do que Joanna Robinson, da Vanity Fair. Como Robinson repara, Cersei deixou uma pista preciosa no último diálogo com o irmão: “Ela é o teu tipo – uma rameira estrangeira que não se sabe meter no seu lugar”. Na verdade, o amor explicaria melhor do que qualquer outro instinto político ou mesmo vingativo a dedicação de Tyrion à causa Targaryen. Mas tememos pelo que possa acontecer ao nosso bom Tyrion caso se deixe levar pelo ciúme ou pela frustração da rejeição.

A aposta

Então, com quem fica Daenerys no fim? Se o sobrinho é o sobrinho, se nunca deu qualquer sinal de apreciar em Tyrion mais do que o seu conselho e se Jorah nos parece destinado ao sacrifício depois de um glorioso feito final qualquer? Bom, o leitor lá saberá, mas nós estamos a pôr o nosso dinheiro em Daario Naharis, aquele mercenário apessoado que vimos pela última vez em Meereen já lá vai ao tempo e que pode muito bem agora aparecer entre a Golden Company que Euron Greyjoy foi buscar para servir a Cersei.

[nos bastidores de uma das cenas chave do episódio 7, temporada 7:]

Os irmãos

E com Jaime e Cersei, como é que é o ballet? Há quem ache que um mata o outro, ou que se matam mesmo um ao outro. Não os acompanhamos nessa – mas quem sabe? Cersei não seria uma boa personagem se não tivesse nada de bom, seria apenas caricaturalmente má, e vimos no último episódio como teve a oportunidade de matar Jaime e o poupou – ou por amor, ou por bluff. Quanto a Jaime, sabemos bem, desde o episódio um, como a ama e os disparates que é capaz de fazer por causa disso. Sabemos também o lento caminho que tem feito até ser “o mais estúpido dos Lannister”, que é como quem diz, o mais bonzinho (sim, e isto inclui Tyrion). A nossa suspeita é, portanto, que não é Cersei quem o mata, mas o amor que tem por ela.

Guerra dos Tronos: o que aconteceu de errado na 7.ª temporada (e o que pode o último episódio corrigir)

A gravidez

Dissemos que Cersei não matou Jaime no último episódio ou por amor ou por bluff. Que bluff? A gravidez, possivelmente. Vimos na quinta série, e Cersei recorda-a na sexta, a profecia que uma bruxa lhe anunciou em criança: que casaria com o rei, que seria rainha até aparecer outra que a derrubaria e que teria três filhos, mas que a todos veria morrer. Ora, Cersei já teve e perdeu três filhos: Joffrey, Myrcella e Tommen; portanto, das duas, uma: ou este filho nem nasce ou nunca existiu, e por isso Cersei poupa Jaime, porque, ao contrário do que apregoa, ninguém mais lhe resta.

A má da fita

Então, e quem mata Cersei, grávida ou não? Bom, digamos que já restam poucos nomes da lista de Arya, que muitos não foi ela quem teve o gosto de… apagar, e que era talvez a única vingança digna para os acontecimentos do “casamento vermelho”. Ah. Há quem aponte que, nos livros, a profecia completa da bruxa incluía outro ponto: o de que Cersei morreria às mãos do irmão mais novo. Bom… Arya tem um certo jeito com máscaras.

[os segredos da batalha do gelo:]

O palpite

Então, Jaime não fica com Brienne? Quer dizer… Há, ao que parece, uma certa falange de apoio a esta causa. Digamos que não estamos a ver. Era como a princesa ficar com o anão – nada contra, mas não é costume. O palpite completo é: Jaime bate a bota e Brienne fica com Tormund Giantbane, o líder dos selvagens, com quem poderá ter lindos bebés gigantes e ruivos.

Os outros

Bom, a “Guerra dos Tronos” tem tantas personagens, tantas linhas de história, que tem mesmo de se preocupar em começar a fechá-las logo desde o primeiro episódio da temporada final – doutro modo, haverá uma catadupa de desfechos simplistas como só se toleraria, porventura, à novela das sete. Referindo só o desfecho esperado para duas ou três: o Cão mata o irmão Montanha e acerta finalmente contas com ele, que o queimou na infância; Theon mata Euron e recupera – por assim dizer – a masculinidade (já se ressuscitaram homens inteiros em “GoT”, mas digamos que ainda não tivemos notícias de que alguém o conseguisse fazer com, ehem, peças); Stannis Baratheon – que nunca vimos realmente morrer – ainda volta para qualquer coisa rápida e terrível.

O vencedor

Então, mas, afinal, e quem é que fica com o trono? Não contamos com grandes surpresas aqui: fica Daenerys, dizemos nós – Jon tem todo o ar de quem abdicar em favor dela, não tem? E, no fim de contas, é a mensagem que há tanto tempo “GoT” parece carregar através da personagem da rainha Targaryen: um elogio da liberdade, o fim dos poderes absolutos. Isto é, Westeros acabando não com um governo ditado pela guerra ou pela hereditariedade, mas escolhido e aclamado pelos povos. Com a rainha amada, que liberta os escravos. Agora, é só esperar até 2019.

Alexandre Borges é escritor e guionista. Assinou os documentários “A Arte no Tempo da Sida” e “O Capitão Desconhecido”. É autor do romance “Todas as Viúvas de Lisboa” (Quetzal).