O país passou a semana a descodificar a opção de António Costa por Sampaio da Nóvoa para as presidenciais de 2016. Ora, neste jogo de adivinhas, podem-se lançar grandes intrigas ou elaborar hipóteses mais ou menos rebuscadas, mas a resposta mais provável de ser a verdadeira é, também, a mais simples: porque Guterres está fora da corrida, Sampaio da Nóvoa é o mais popular dos potenciais candidatos à esquerda. Isso bastou-lhe para ser o escolhido, da mesma forma que Marcelo acredita bastar-lhe a exibição das suas audiências televisivas para reunir o apoio da direita. O apoio resulta da aplicação de uma fórmula apontada ao poder – a popularidade informa sobre o potencial eleitoral de um candidato. Demasiadas vezes, na política é mesmo só o que interessa.
A explicação pode ser simples, mas a opção por esta estratégia da popularidade tem mais interesse e repercussões do que se possa pensar, sobretudo para as legislativas. Isto porque a aplicação dessa estratégia no apoio a Nóvoa não é um caso isolado, mas um exemplo fresco de como António Costa pensa a política e de como, nestes sete meses de liderança do PS, impôs a popularidade como prioridade. Fê-lo na colagem do PS ao Syriza, quando ainda perdurava a ilusão de que o novo governo grego não era o que afinal é – um misto de amadorismo e irresponsabilidade. Fê-lo na questão do perdão da cobrança de taxas ao Benfica, caindo nas boas graças de uma instituição que “é uma nação”. Fê-lo face ao projecto-piloto de descentralização recentemente implementado, opondo-se por conveniência a uma política que sempre defendeu. Fê-lo no adequar sistemático do seu diagnóstico do país à audiência – tudo está mal se discursar em Bragança para militantes, tudo está bem se falar num congresso para empresários chineses. E fê-lo agora no apoio a Sampaio da Nóvoa quando se apercebeu que não teria Guterres. O diagnóstico é válido para legislativas e presidenciais: ninguém sabe o que Costa defende para o país, mas já se compreendeu que acredita nesta estratégia da popularidade para alcançar vitórias eleitorais.
Esta estratégia é legítima e terá certamente as suas vantagens, mas também coloca problemas e duas implicações graves para António Costa. A primeira é o caminho marcado por altos e baixos. Ao eleger a popularidade como prioridade, Costa obrigou-se à gestão semanal de avanços e recuos, a dar o dito por não dito, a traçar um percurso incoerente em que nada é definitivo (como o apoio a Nóvoa, por confirmar e agora refém de sondagens) e perante o qual ninguém sabe com o que contar. É esse o risco de fazer política ao ritmo das modas – enquanto estas mudam rapidamente, espera-se que as convicções e os programas políticos se mantenham firmes. Daí que a segunda implicação seja a desconfiança que essa estratégia gerou no país, nomeadamente porque parte do pressuposto que os portugueses confiam ser possível governar Portugal, num contexto de crise, sem defender algumas medidas difíceis e impopulares. Evidentemente, não é possível e, obviamente, os portugueses não são parvos. As sondagens não estão más para o PS por um acaso. Até porque nada como isto separa mais claramente Passos Coelho de António Costa – um assume-se disposto a fazer o que for preciso na governação (“que se lixem as eleições”), o outro não se atreve a esboçar uma ideia que fure consensos.
Antes da crise e da assistência financeira, talvez a estratégia da popularidade fosse uma fórmula vencedora, tanto para legislativas como para presidenciais. Mas os tempos agora são outros e, sobretudo para as legislativas, já ninguém confia em salvadores ou em discursos simplistas. Costa ainda não o percebeu. É que, ao contrário do que parece crer, já não basta a popularidade para vencer eleições.