Uma salada russa. O prato costuma servir de desculpa fácil quando se tem de falar em misturas. A salada portuguesa é diferente. Nesse caso há um ingrediente em maioria e o resto do prato enche-se (aí sim) com uma mescla de outras coisas. É esta a receita do campeonato nacional: 51,4% do total de jogadores das 18 equipas da liga são portugueses e o resto é uma mistura de nacionalidades, que vai desde a Martinica até à Albânia. As contas justificam-se para servir à mesa uma realidade – não é fácil formar um onze português no campeonato.

Ainda menos escolher o melhor. Dos 414 futebolistas que terminaram esta época nos plantéis da primeira liga – e com minutos contados no campeonato -, apenas 213 têm Portugal no passaporte.

Nos três grandes a salada não tem muito de nacional. Entre os portugueses que têm minutos nas pernas, apenas Adrien Silva, Cédric Soares, Rui Patrício (único totalista) e William Carvalho se podem gabar de terem começado mais de 25 jogos no campeonato. São todos do Sporting. De resto, nenhum dos três portugueses do Benfica chegou aos mil minutos jogados na liga – o que mais se aproximou foi André Almeida, com 739.

No Porto, apenas Varela conseguiu recolher mais de dois terços (1849) do tempo disponível (2700). Josué e Licá (1231 e 1096 minutos) foram aparecendo até ao Natal, mas começaram a esconder-se no banco de suplentes a partir daí. O inverso fez Ricardo Quaresma, que chegou ao clube em janeiro e ainda conseguiu somar 896 minutos.

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Autor: Andreia Costa

No melhor onze escolhido pelo Observador apenas surgem dois nomes importados dos grandes. À falta de minutos portugueses no Benfica, Sporting e Porto, olha-se depois para os mais pequenos. E para as surpresas. Para a defesa vieram dois homens da quarta equipa menos batida na liga (Estoril). No meio campo ficou um nome que o Vitória de Setúbal foi resgatar no último Verão à terceira divisão (Campeonato Nacional de Seniores). Na frente não podiam faltar duas peças: o melhor marcador português (Bebé) e o que mais bolas ofereceu para que outros marcassem (Candeias).

 

1. Ricardo (Académica) | 31 anos – 2700 minutos – 39 golos sofridos

Ricardo (Cortada)

Batalha dos totalistas. O palco é a baliza. De um lado Rui Patrício, guardião da seleção e de um Sporting rejuvenescido. Tão vulnerável esteve nas duas épocas anteriores que, em 2013/14, deu menos nas vistas por ter uma equipa mais fechada e coesa à frente. Ricardo, por contraste, apareceu sempre na Académica.

Os 35 golos sofridos pelos estudantes (7.ª melhor defesa do campeonato) podiam ter escalado ainda mais, não fosse a presença do guarda-redes de 31 anos entre os postes. Já muitas bolas Ricardo agarrara na época passada, sobretudo durante a campanha da Académica na fase de grupos da Liga Europa. Antes de 2013/14 arrancar, mereceu logo uma chamada à seleção nacional. Por tanta consistência e segurança – sobretudo nos jogos contra os grandes – ganhou a luta nas preferências do Observador. Fala-se numa transferência para o Porto, merecida, mas também tardia.

2. Mano (Estoril) | 27 anos – 2264 minutos – 1 assistência

Mano (Cortada)

Longe vão os tempos em que Mano ouvia Jorge Jesus a dirigir-lhe berros, junto à linha lateral, quando coincidiu com o treinador no Belenenses (2007/08). Seis anos depois, poucas coisas lhe podem ser apontadas. Aprendeu a ser certo a defender e a dosear os arranques em velocidade para o ataque. Roubou o lugar a Anderson Luís (titular da época passada) e aguentou o lado direito da quarta melhor defesa do campeonato.

3. Rúben Ferreira (Marítimo) | 24 anos – 1755 minutos – 1 golos – 2 assistências

RubenFerreira (Cortada)

A posição de lateral esquerdo é uma patologia crónica – nascidos em Portugal, os jogadores não abundam. Na Madeira está um caso raro. Esta nem foi a melhor temporada de Rúben Ferreira: em 2012/13, por exemplo, Paulo Bento chegou a pegar no telefone e a convocá-lo para a seleção. Esta época até fez alguns jogos pela equipa B do Marítimo, mas acabou com duas assistências e um golo marcado na primeira liga. Aos 24 anos, já apareceu no radar do Sporting e está na altura de testar com uma camisola mais pesada o que de bom mostrou no Marítimo.

4. Paulo Oliveira (Vitória de Guimarães) | 22 anos – 2520 minutos – 1 golo

PauloOliveira (Cortada)

À segunda época a correr pela titularidade, há central em Guimarães. E para o futuro. Nos 18 encontros em que esteve no relvado só por cinco vezes viu um árbitro mostrar-lhe um cartão amarelo. Nas contas com centrais portugueses, apenas João Real (Académica) e Nuno André Coelho (Braga) fizeram melhor, com três e dois. O primeiro já é trintão (30 anos), o segundo para lá caminha (28) e, portanto, de nenhum se espera tanto como de Paulo Oliveira. A prová-lo está o facto de Paulo Bento ter pensado nele enquanto matutava sobre os pré-convocados para o Mundial do Brasil.

5. Rúben Fernandes (Estoril) | 28 anos – 2023 minutos – 2 golos

RubenFernandes (Cortada)

Aqui houve duas dúvidas, ambas canarinhas. Qual dos centrais escolher? Yohan Tavares, homem que passou a época ao lado de Rúben Fernandes, teve mais minutos de jogo. E mais cartões amarelos também (seis contra um). 1-0, ganha Rúben. O historial também o favoreceu: esta foi a segunda época de Fernandes na liga (veio do Portimonense), enquanto Tavares contou a sua quarta temporada. 2-0. Rúben Fernandes aguentou, é seguro a distribuir a bola e ajudou a fechar uma equipa que apenas sofreu mais um golo (26 vs 25) que o Porto. E vá, joga de pé esquerdo e havia poucos nesta equipa.

6. William Carvalho (Sporting) | 22 anos – 2534 minutos – 4 golos

William (Cortada)

Não é fácil dizer o que ainda não tenha sido dito. A época começou com vozes a falarem que da Bélgica vinha um jovem do Sporting para competir com Fito Rinaudo. Competição não houve muita, já que William Carvalho foi titular em 29 jornadas do campeonato (só falhou o clássico na Luz, em fevereiro). Sobre o físico, os passes acertados e a certeza de fazer bem as coisas simples foram os primeiros elogios. A confiança foi crescendo e viu-se William a arriscar no passe longo, a driblar para se livrar de cercos inimigos e até a marcar golos de avançado. Uns quantos elogios depois e Paulo Bento chamou-o. Já conta com duas internacionalizações e deverá estar no avião para o Brasil.

7. Candeias (Nacional) | 26 anos – 2150 minutos – 4 golos – 11 assistências

Candeias (Cortada)

É rei de uma coisa: das assistências. Onze golos do Nacional vieram dos seus pés e, a falar português, o mais próximo foi Josué (cinco assistências). À terceira época a crescer na Madeira, Candeias foi o nome perigoso que sempre prometera ser. Juntem-se os quatro golos marcados (um ao Porto e outro ao Benfica) e tem-se um extremo que garante resultados – esteve em 34,8% dos golos do Nacional no campeonato. Os encarnados repararam e já o contrataram para a próxima época. Aos 26 anos, a promessa pode deixar de o ser e cabe a Jorge Jesus (ou não) indicar-lhe o caminho.

8. Pedro Tiba (Vitória de Setúbal) | 25 anos – 1845 minutos – 1 golos – 5 assistências

PedroTiba (Cortada)

Estava perdido no Tirsense. Ou seja, alguém no departamento de scouting do Vitória de Setúbal pegou nos binóculos e fez bem o seu trabalhol. Aos 25 anos, Pedro Tiba aterrou na primeira liga e trouxe pulmão, força e pernas incansáveis. É daqueles médios que abafam a própria técnica em prol de correrias e esforço. Segurou o meio campo setubalense e, quando em janeiro passou a ter a companhia de João Mário, soltou-se e começou a aparecer mais junto à outra área. De todas as surpresas, esta foi a melhor.

9. Bebé (Paços de Ferreira) | 23 anos – 2117 minutos – 11 golos – 1 assistência

Bebé (Cortada)

Até 29 de dezembro, um golo marcado. Quando o ano dobrou a esquina, porém, Bebé saiu das alas e passou para o meio – agora, a tarefa era ser ponta-de-lança. Meia época depois, 11 golos no campeonato. A partir de janeiro, o homem emprestado pelo Manchester United nunca esteve mais do que três jornadas sem marcar e, contas feitas, acaba como o melhor marcador português no campeonato. Se o Paços está hoje a discutir o playoff para se manter na primeira liga (0-0 na primeira mão, contra o Desportivo das Aves), os agradecimentos devem dirigir-se a Bebé.

À terceira experiência longe de Inglaterra (Besiktas em 2011/12 e Rio Ave em 2012/13), foi desta que Bebé começou a justificar os 8 milhões de euros pagos pelo United para o roubar de Guimarães, em 2011. Resta saber se, em Manchester, alguém viu a prestação do único jogador que Alex Ferguson admitiu ter contratado sem nunca o ter visto jogar.

10. Adrien Silva (Sporting) | 25 anos – 2458 minutos – 8 golos – 3 assistências

Adrien (Cortada

O homem do penálti. No Sporting, dos nove que bateu no campeonato, marcou sete. Logo, só um golo apareceu com a bola a rolar (foi contra o Belenenses, no Restelo). Entre um ladrão de bolas (William) e um irrequieto mas discreto médio (André Martins), Adrien foi o motor do qual os leões também foram dependendo. O 23 de Alvalade foi, sobretudo, consistente – a qualidade que lhe faltou na época anterior e que levou a que muitos na bancada o olhassem de lado. Terão sido os mesmos olhos a espantarem-se quando Adrien nem nos pré-convocados de Paulo Bento constou. E isso só pode ser um sinal de que, aos 25 anos, finalmente cresceu e apareceu.

11. Rafa (Sporting de Braga) | 21 anos – 1594 minutos – 3 golos – 3 assistências

Rafa (Cortada)

De Santa Maria da Feira (veio do Feirense, da segunda liga) chegou a Braga um jovem em torno de quem “se criou um romance”, como chegou a lamentar Jesualdo Ferreira, em novembro. Os raides de Rafa com bola, contra tudo e todos, levaram o treinador a dizer também que “só [seria] um jogador de top quando” percebesse “que não joga sozinho”, mas “com os outros”. Aí, ainda era extremo.

Em fevereiro, após dois golos marcados ao Gil Vicente, já o treinador dizia que “podia jogar no meio”. Em março, com nove golos (entre liga e taças) e três assistências, estreou-se na seleção (no 5-1 aos Camarões). Dias depois, apareceu uma lesão que o parou durante um mês. Hoje está pré-convocado para o Mundial e fecha a época como uma das melhores coisas que aconteceu ao campeonato português. Ah, e só tem 21 anos.

Suplentes:

12. Rui Patrício (Sporting) | 26 anos – 2700 minutos – 20 golos sofridos
13. Pedro Queirós (Vitória de Setúbal) | 29 anos – 2527 minutos – 1 assistência
14. Tiago Gomes (Estoril) | 27 anos – 1260 minutos
15. Tarantini (Rio Ave) | 30 anos – 2216 minutos – 2 golos – 3 assistências
16. Danilo Pereira (Marítimo) | 22 anos – 2265 minutos – 1 golo
17. Gonçalo Santos (Estoril) | 27 anos – 2278 minutos – 3 assistências
18. Silvestre Varela (Porto) | 29 anos – 1849 minutos – 5 golos – 4 assistências