Rostos de olhar perdido ou com expressões trocistas. Rostos a derreter. Rostos felizes sem saber porquê. Um homem que é metade pássaro. Todos pintados numa parede azul. São os “Rostos do Muro Azul”, um mural com mais de um quilómetro de pinturas na rua das Murtas, em Lisboa. A partir desta terça-feira, é possível observar estes e outros murais de arte urbana sem sair de casa. O Instituto Cultural da Google lançou o Projeto de Arte de Rua que junta mais de 5000 exemplares de obras de vários países.

Em Portugal, esta coleção conta com o apoio da Galeria de Arte Urbana de Lisboa.  O projeto “Rostos do Muro Azul”, promovido pela Galeria de Arte Urbana, em parceria com o Hospital Psiquiátrico de Lisboa e que neste momento está na sua sétima fase, é apenas um dos 99 projetos de arte de rua localizados em Portugal que estão disponíveis digitalmente. Como os murais da Calçada da Glória ou as pinturas dos artistas brasileiros Os Gémeos na fachada de um prédio na Avenida Fontes Pereira de Melo.

Apesar da quantidade de murais disponibilizados, o mapa da Google utilizado para localizar estas obras de arte tem alguns erros. O pin que corresponde à galeria de arte urbana do parque de estacionamento do Chão do Loureiro está colocado no norte do país. O mural do projeto “Rostos do Muro Azul” surge fora de Lisboa.

Rua Chão do Loureiro

Localização errada da Galeria de Arte Urbana na Rua Chão do Loureiro

 

Rua das Murtas

Localização errada do mural “Rostos do Muro Azul”

Um dos objetivos deste Projeto de Arte de Rua da Google é conservar digitalmente muitas expressões artísticas que acabam por desaparecer das cidades de todo o mundo. A coleção inclui imagens de trabalhos que já não existem como o mural 5Pointz, em Queens, Nova Iorque e os murais do Tour Paris 13, em França.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A base de dados pode ser pesquisada utilizando os critérios cidade, género, artista e outras categorias. Um dos artistas em destaque é o português Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils, que nesta coleção tem nove obras (em quatro países). A Google usou uma câmara especial para captar os trabalhos do artista Vhils que usa um martelo pneumático para esculpir imagens nas paredes dos edifícios. Os utilizadores podem fazer zoom in nas marcas feitas por Vhils.

Para quem quiser conhecer a história do graffiti há uma visita guiada às origens do movimento em Nova Iorque, nos anos 90, com uma seleção especial de murais. Segundo a Google, é possível ver a arte urbana produzida no México, onde existe uma grande tradição de pintura mural, visitar alguns trabalhos nas Filipinas, onde o movimento começa a dar os primeiros passos e perceber como esta técnica está a ser utilizada para revitalizar as cidades, por exemplo na Polónia.

A base de dados do Projeto de Arte de Rua da Google utiliza imagens captadas por organizações culturais de todo o mundo, muitas delas feitas com as câmaras da Google’s Street View. De acordo com o New York Times, com esta iniciativa a Google entra no debate sobre a institucionalização e comercialização de arte que é efémera e que muitas vezes é criada de forma subversiva. Em alguns casos podem levantar-se questões relativas à possibilidade de preservar legalmente algo que muitas vezes é considerado vandalismo.

O jornal norte-americano escreve que, de certa forma, a Google está a fazer aquilo que os fãs de arte de rua por todo o mundo já fazem: tirar fotografias de pinturas em murais e distribuí-las nas redes sociais. Para tentar resguardar-se, a Google só vai incluir nesta base de dados imagens fornecidas por organizações que assinem contratos comprovando que têm direitos dessas obras. A companhia diz também que não vai aceitar imagens de grupos que tentem vender a arte de rua ou imagens dessa arte.

Desta forma, a Google espera ficar de fora de um dos debates mais controversos no meio. Muitos artistas opõem-se à venda da sua arte sem autorização. O artista britânico Banksy, por exemplo, já proibiu a venda de stencis aplicados por si e tirados das paredes públicas. Para ele, essa arte pertence à comunidade. Entre as 30 instituições que deram imagens estão o Museu da Cidade de Nova Iorque, o espaço de exibição contemporânea de Dallas e o Museu de Arte de Rua em França.

O Instituto Cultural da Google é uma iniciativa lançada em 2011 que disponibiliza, online, um arquivo digital de exposições e coleções de todo o mundo. Esta iniciativa estabeleceu parcerias com instituições como o Museu Britânico, o Yad Vashem, o Museu Galileu, em Florença, o Museu de Auschwitz-Birkenau e o Museu da História Polaca, em Varsóvia.

Para além dessas parcerias, o Instituto Cultural da Google inclui o Projeto de Arte da Google (com imagens de alta resolução de obras primas de museus de mais de 40 países) e o Projeto Maravilhas do Mundo (que permite visualizar a três dimensões locais que são património mundial).