A Argentina pode estar em risco de entrar em incumprimento pela segunda vez em 13 anos, depois do Supremo Tribunal dos Estados Unidos rejeitar um recurso do país a uma decisão que proibia a Argentina de pagar a sua dívida pública até que compensasse os fundos de investimento que, depois da falência de 2001, se recusaram a aceitar uma reestruturação de dívida.

A decisão judicial obriga a Argentina a pagar os juros e a dívida que falta a todos os credores (pré e pós-falência) de igual modo ou a parar simplesmente de pagá-los a todos, e assim entrar em falência.

A presidente Cristina Kirchner recusa-se a negociar com os fundos de investimento, que apelida de “abutres”, enquanto que estes – que foram responsáveis pela ação judicial ao país – até agora só se mostraram disponíveis para serem pagos na totalidade e nada mais. De acordo com o Wall Street Journal, a dívida a estes fundos é de 1,5 mil milhões de dólares.

“A Argentina já mostrou uma vontade mais do que evidente de negociar [a dívida]. Mas há que distinguir entre negociação e extorsão”, disse Kirchner, garantindo que o país não cede a extorsões. A líder da Argentina garantiu que o país vai continuar a pagar os juros devidos aos credores de dívida que foi reestruturada, inclusivamente os devidos no final deste mês, e, assim, evitar a bancarrota.

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Um tribunal de Nova Iorque decidiu que a Argentina não podia amortizar juros e o capital dos títulos de dívida aos investidores existentes até que pagasse aos fundos aos que não aceitaram receber menos do que a dívida e os juros que tinham direito antes da reestruturação de 2011. A decisão desta segunda-feira do Supremo Tribunal dos EUA só veio dar razão a estes hedge funds.

A Argentina tem agora até ao final do mês para decidir se paga a todos ou se simplesmente entra em incumprimento.

Os fundos têm feito uma verdadeira caça aos ativos da Argentina. Segundo o Wall Street Journal, entre as inúmeras medidas está a tentativa de penhorar o avião presidencial argentino em 2007, a penhora de num navio de instrução em 2002 e a tentativa de impedir a Argentina de lançar dois satélites. Em falta estará o pagamento de cerca de 1,5 mil milhões de dólares  (1,11 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual).

A Argentina tem ainda cerca de 55 mil milhões de dólares (cerca de 40,6 mil milhões de euros) de dívida pública que pode ser afetada diretamente por este veredicto.

Em 2001, a Argentina entrou em incumprimento em cerca de 100 mil milhões de dólares da sua dívida (cerca de 73,8 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual), mas em 2005 e 2010 ofereceu em troca da dívida que ficou por pagar nova dívida mas com um valor muito mais baixo. Cerca de 93% dos investidores preferiram ficar com alguma dívida do que perder tudo, mas um leque pequeno de fundos ainda não desistiu de receber tudo o que emprestaram ao país.