O Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou esta sexta-feira que um entendimento partidário “é tão importante para o futuro dos portugueses que é fundamental insistir” para que seja alcançado, adiantando que não desistirá de fazê-lo.

“Já uma vez escrevi e afirmei que é difícil mudar as atitudes dos partidos. Há uma história atrás de cada um deles, parecem existirem interesses particulares que se sobrepõem aos interesses nacionais. E por isso nós devemos não aceitar esta situação, eu não vou resignar-me”, afirmou Cavaco Silva aos jornalistas, no Porto.

Falando à margem da cerimónia de inauguração do edifício central do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), Cavaco lamentou que no ano passado, em julho, os partidos do “chamado arco do Governo”, “à última hora e de forma inexplicável”, não tivessem alcançado um acordo.

“O país estaria diferente, o país estaria melhor”, disse.

“Temos que continuar a trabalhar para que as tais idiossincrasias partidárias sejam rogadas para segundo plano e as atitudes sejam semelhantes aquelas que acontecem nos outros países da União Europeia”, disse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O chefe de Estado defendeu ser importante contribuir “para reduzir o nível de crispação, de tensão político-partidária e de agressividade de linguagem entre as diferentes forças políticas, porque nesse caso, agora e no futuro, será difícil entendimento”.

Lembrando que recentemente o Conselho Económico e Social “de forma muito formal insistiu” na necessidade de haver um entendimento entre os partidos, Cavaco considerou que “tem aumentado o número de personalidades e instituições que apelam aos partidos para um entendimento a médio prazo”.

“Eu penso que isto é importante, porque vai sendo colocada uma pressão para que os líderes partidários e os partidos ultrapassem as suas idiossincrasias e, no fundo, Portugal não seja uma exceção em relação ao que se passa no resto da Europa, em que existem diálogos fáceis para alcançar entendimentos que servem os interesses do país”, sustentou.

Questionado sobre se o ‘timing’ para que os partidos cheguem a um consenso se está a esgotar, Cavaco Silva disse que “o prazo esgota-se quando nós nos aproximarmos dos atos eleitorais”.

“E os portugueses não estão bem conscientes, talvez, de quantos atos eleitorais marcarão o ano de 2015. Pensa-se que são dois, mas são três: são as eleições legislativas, para a escolha do Presidente da República e as eleições regionais para a Madeira”, disse, alertando para a “confusão” que se poderá criar se “existir interpenetração entre as campanhas eleitorais que visam escolher representantes para órgãos tão distintos”.

Na sua opinião, o país não pode parar durante quatro meses.

Cavaco sublinhou que nunca preanuncia a convocação de partidos, lembrando a conversa “muito interessante” que há pouco tempo teve com o secretário-geral do PCP, mas que “parece que alguém não compreendeu”.

Jerónimo de Sousa teve uma audiência, a seu pedido, com o chefe de Estado a 16 de junho, onde voltou a apelar ao Presidente da República para que dissolva a Assembleia da República e “devolva a palavra ao povo”,

O líder comunista disse, contudo, no final da reunião, que o Presidente da República tem “posições claramente divergentes” do PCP e adiantou não ter ficado com a ideia que possa existir alguma antecipação do calendário eleitoral do próximo ano para evitar que as legislativas coincidam com a apresentação do Orçamento do Estado para 2016 e se realizem poucos meses antes das presidenciais.