As ligações que existem entre o BES e a Eurofin, financeira suíça que está a ser investigada pelo Banco de Portugal, estão em destaque no Wall Street Journal. E há três personagens principais: Francisco Machado da Cruz, ex-contabilista da ESI, João Moreira Rato, administrador financeiro do Novo Banco, e João Poppe, sobrinho de Ricardo Salgado. Todos com ligações à Eurofin.

Machado da Cruz auditou as contas da Espírito Santo Internacional (ESI) a título individual, enquanto trabalhava para o grupo suíço Eurofin, a financeira que criou os produtos de dívida que permitiram que os clientes do BES financiassem o Grupo Espírito Santo (GES). João Poppe, diretor na Eurofin, é sobrinho de Ricardo Salgado, mas o jornal refere que este quadro não esteve envolvido nas operações com unidades do GES.

Em 2008, João Poppe lançou um hedge fund de pequena dimensão, fundo de investimento alternativo que investe em ativos de maior risco, com João Moreira Rato, o atual administrador financeiro do Novo Banco. O Nau Capital, que liga Moreira Rato aos Espírito Santo, foi constituído com dinheiro do BES, 200 milhões de euros, e foi, posteriormente, vendido à Eurofin, refere a notícia do jornal norte-americano. Quando o fundo foi vendido, Moreira Rato já não pertencia à Nau Capital. Saiu em 2010.

Nenhum dos três intervenientes prestou declarações ao The Wall Street Journal sobre estes assuntos.

Francisco Machado da Cruz foi o contabilista, de 55 anos, que deixou de auditar a ESI em janeiro de 2014, mês em que escreveu uma carta a Ricardo Salgado a anunciar a sua demissão “com efeitos imediatos”, segundo o jornal. Em maio, Ricardo Salgado disse, em entrevista ao Jornal de Negócios, que Francisco Machado da Cruz era responsável pelas irregularidades detetadas na ESI: os cerca de 1,3 mil milhões de euros de dívida que não tinham sido registados nas contas de 2012 da holding.

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Em junho, o comissaire aux comptes, como referiu Salgado, reagiu. “Em 2008, sabiam que faltava dinheiro no passivo Ricardo Salgado e José Castella. (…) Manuel Fernando Espírito Santo e José Manuel Espírito Santo sabiam que uma parte do passivo não estava reflectido nas contas mas não conheciam o seu valor concreto”, revela Francisco Machado da Cruz nos documentos a que o semanário Expresso teve acesso e que foram entregues ao Banco de Portugal.

Alguns dias depois, Machado da Cruz depôs no comité de auditoria da Espírito Santo Financial Group (ESFG) e contrariou o que tinha dito antes: avançou que era o único responsável pelas irregularidades. O comissaire aux comptes de Salgado também fazia parte da administração da Rioforte e do Banco Espírito Santo Angola (BESA). Atualmente, preside ao arranha-céus Espírito Santo Plaza, em Miami, que pertence ao grupo Espírito Santo.

Peritos em contabilidade avançaram que não é habitual que uma empresa da dimensão da ESI recorra a um auditor individual e não a uma empresa. A decisão pode ter infringido as regras de Bruxelas.

Uma fonte próxima da Eurofin avançou ao Wall Street Journal que a empresa suíça nunca vendeu instrumentos financeiros diretamente aos clientes do BES e que desenvolveu os produtos estruturados do banco seguindo todas as regras que são aplicadas pelos reguladores. A mesma fonte adiantou que a Eurofin está a rever a relação longa que tem com o GES.

Peritos em contabilidade disseram ao jornal que é incomum uma empresa da dimensão da ESI não recorrer a auditores estabelecidos para tratar das contas e que a decisão pode mesmo ter violado as regras ditadas por Bruxelas. “Para que uma auditoria tenha valor, o auditor tem de ser independente. Isto quer dizer que se tem de olhar para todas as relações, serviços e interesses financeiros que podem refletir-se numa opinião não objetiva”, explicou Tony Bromell, responsável no instituto de contabilistas inglês ICAEW ao Wall Street Journal.