Alberto Contador desfez hoje qualquer dúvida quanto à sua vitória na Volta a Espanha em bicicleta, ao triunfar no alto de Ancares, para garantir que, salvo qualquer azar, no domingo celebrará a conquista da sua sexta grande Volta.

Aos 31 anos, o líder da Tinkoff-Saxo, que, nas suas próprias palavras nem se preparou para esta Vuelta, interrompe um interregno de dois anos de grandes triunfos e esquece a desilusão que foi a presença no Tour2014, juntando a camisola vermelha desta edição às de 2008 e 2012, e às amarelas da Volta a França (2007 e 2009) e à rosa do Giro2008.

Um dia depois de ter dado a falsa ilusão de ter a liderança sob ameaça, Contador mostrou-se calculista, respondendo a todos os ataques do seu maior rival, o britânico Chris Froome, para, finalmente, desferir o golpe final a 600 metros de Ancares, onde estava situada a meta, juntamente com uma contagem de categoria especial, e onde garantiu a vitória final, ao cumprir os 185,7 quilómetros desde Santo Estevo de Ribas de Sil em 5:11.43 horas, isto é, 16 segundos mais rápido do que o ciclista da Sky.

Feitas as contas, e com apenas um curto contrarrelógio de 9,7 quilómetros para cumprir no domingo em Santiago de Compostela, o madrileno de Pinto tem 01.37 minutos de vantagem para Froome e 02.35 minutos para Alejandro Valverde (Movistar), que levou a melhor no duelo com Joaquim Rodriguez (Katusha) na luta pelo último lugar do pódio, ao ser terceiro na etapa, a 57 segundos de Contador.

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“Ainda é preciso ultrapassar o ‘crono’, mas com as diferenças que consegui hoje, salvo algum percalço, [a Vuelta] sim, está ganha”, assumiu o homem da Tinkoff-Saxo que, depois de vencer o Giro2008 vindo da praia, triunfou na Vuelta2014 alegadamente sem treinar (reza a lenda que, depois de operado da lesão contraída numa queda no Tour, terá rolado na bicicleta apenas com uma perna).

Contador é imbatível, pelo menos na Vuelta. Antes mesmo da 20.ª tirada sair para a estrada e de somar a sua segunda etapa nesta edição, já os dados estavam a seu favor: nunca em todas as grandes Voltas que disputou o madrileno perdeu a camisola de líder depois de a ter envergado.

Mas há mais: com os seus três triunfos, “El Pistolero” iguala os melhores de sempre na prova espanhola, o compatriota Roberto Heras (que na estrada ganhou quatro, mas perdeu uma na secretaria por uso de doping) e o suíço Tony Rominger, e alcança um feito de que apenas dois homens, o belga Eddy Merckx no Tour e francês Bernard Hinault no Giro, foram capazes — ganhar uma grande Volta em todas as suas primeiras três participações.

No entanto, havia que confirmar na estrada o que diziam os números. Com as decisões reservadas para o alto de Ancares, os franceses Jerome Coppel (Cofidis) e Maxime Mederel (Europcar), o holandês Wout Poels (Omega Pharma-Quickstep) e o polaco Przemyslaw Niemiec (Lampre-Merida) lançaram-se na fuga do dia, anulada já na última das quatro subidas do dia – Niemiec, vencedor nos Lagos de Covadonga, foi o último resistente, cedendo a nove quilómetros da meta.

Com a Sky a impor o ritmo na subida de 12,7 quilómetros, com uma pendente média de 8,6% e rampas de quase 20%, foi óbvia a estratégia de Contador. “A tática era simples: seguir na roda de Froome”. E assim foi. O espanhol respondeu a todas as investidas do britânico, que tentou uma e outra vez, mas tal como em 2011 vai ter de se contentar com o segundo lugar da geral.

Domingo será dia de festa para toda a Tinkoff-Saxo, Sérgio Paulinho incluído. O lugar tenente de Contador, que hoje foi 56.º na etapa e é 57.º na geral, volta a celebrar a conquista de uma grande Volta.

Já para André Cardoso, que hoje não conseguiu entrar na fuga do dia, o saldo é positivo: hoje foi 16.º na tirada, a 05.21 minutos de Contador, e vai terminar a Vuelta entre os 30 primeiros, uma vez que neste momento é 25.º.

“Tentei com tudo o que tinha entrar na fuga, mas nem sempre é como queremos! Depois disso, estive no apoio ao líder até à subida final, mas também por ser praticamente o último dia queria mostrar que não estou doente, queria brindar os portugueses com o melhor de mim, apesar de todo o trabalho ao longo do dia”, confessou à Lusa o ciclista da Garmin-Sharp, agradecendo o meu apoio “a todos os portugueses e galegos” que muito puxaram por si.