O Metropolitano de Lisboa parou de funcionar. Está a decorrer uma greve de 24 horas, causando problemas nas rotinas de muitos lisboetas e não só.

John Perry, 29 anos, e Elizabeth Perry, 28 anos, são um casal britânico em lua-de-mel, em Lisboa. Para os cinco dias de férias, escolheram um hotel na baixa lisboeta, na zona do Chiado. E estavam a contar com o Metro como meio de transporte para o aeroporto na quinta-feira, mas, até conversarem com o Observador, na véspera, não sabiam da greve. “Oh, isso é um problema. Não fazíamos ideia, nem o rececionista do hotel nos avisou”, diz John Perry, num tom surpreso. “Só espero que não seja a loucura de trânsito como em Londres, quando há algum problema com o Metro”, complementa Elizabeth.

John Perry tem os óculos de sol na cabeça e está de calções, apesar de o clima ter estado chuvoso nos últimos dias. Pergunta: “Será que os tuk-tuk levam pessoas ao aeroporto?”

Nas estações do Metro de Lisboa, ao final do dia de quarta-feira, estava a ser passada uma mensagem a avisar da paragem do dia seguinte, mas só em português. É possível que alguns turistas fiquem confusos.

João Nascimento, 55 anos, diz que vai ter de “acordar 40 minutos mais cedo amanhã”. Nos dias normais, para vir da Pontinha para os Anjos demora cerca de uma hora. “É menos tempo de sono, percebe?”, diz. “Mas eles tem os seus direitos. Não adianta ficar irritado com isto.” Ainda assim, João lembra que “ainda há pouco tempo houve uma greve que só durou até às 11 da manhã” e admite não saber ao certo o que está em causa na paragem desta quinta-feira.

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Segundo as informações divulgadas na página da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, com estas paragens “os trabalhadores exigem a manutenção da componente social do serviço prestado pela empresa” e “o cumprimento integral do Acordo de Empresa e o fim dos roubos nos salários e nas reformas”, entre outras coisas.

Nuno Luís, 37 anos, estava sentado na estação da Baixa-Chiado, à espera do próximo metro no sentido de Santa Apolónia, a jogar no telemóvel, na quarta-feira à tarde. “A greve de amanhã, não me vai causar grande transtorno, porque entro de férias”, diz, ao Observador. Mas Nuno não se esquece do impacto de uma greve no Metro no trânsito de Lisboa: “Quer saber quais são os piores dias para conduzir nesta cidade? Dias em que há jogos de futebol, à sexta-feira, nos dias de greve do Metro e quando chove – ui, então aí é que é o caos.”

Paulo Cruz, 45 anos, parecia pouco convencido com legitimidade desta paragem. “Fazer greve é estar no local de trabalho e não se apresentar ao serviço. Agora eles [os funcionários do metropolitano de Lisboa] nem põem cá os pés”, dizia, de forma apressada, enquanto entra na carruagem.

De todos os utilizadores regulares do Metropolitano de Lisboa, Maria Felicidade, 79 anos, era a mais cáustica para com o acontecimento do dia seguinte e admitia que este lhe ia causar “grandes dificuldades”. “As colunas que estão espalhadas pelas estações diziam: ‘pedimos desculpas pelo incomodo causado’. Se eles fossem sinceros, diziam: pedimos desculpas pelos problemas que levantamos.” Para quinta-feira, Maria Felicidade já esteve a calcular o tempo de que vai precisar para se deslocar do Caís do Sodré até ao Areeiro. “Estive a ver os autocarros, ainda há pouco, e preciso de uma hora e meia para lá chegar, porque estou a partir do princípio que muita gente que eu vai estar atarantada e à procura deles.” E mais: “Se houvesse um contrabalanço, uma resposta a isto [a greve], mas não acontece nada. Eu sou contra a greve, não serve de nada”, dizia.  

Inês Sousa, 18 anos, vestia uma t-shirt amarela rabiscada com canetas de tinta permanente e tem uma “minhoca de latas de alumínio” presa nos pés. Entrou este ano em medicina, mudou-se de Beja para Lisboa, e participa na praxe. “Avisei os meus doutores que talvez amanhã [quinta-feira] não possa ir à praxe, mas eles deram-me logo o horário dos autocarros. Se me atrasar, disseram que vou ter de dançar a macarena trinta vezes”, dizia ao Observador, explicando que acha piada a estas exigências. “Lisboa pode parar, o metro paradíssimo, mas a praxe não”, acrescentou.