Há avançados e avançados. Pinheiros, baixinhos, aqueles bons de bola, os trapalhões, os que jogam bem de costas para a baliza, os chatos, os que correm como se não houvesse amanhã. Há ainda aqueles que não nascerem para aquilo, que até acabam a jogar a defesa central (lembra-se de Azar Karadas?). Há também os avançados que falham o mais fácil e metem o mais complicado. Depois, há aqueles que marcam. E pronto. Slimani é destes, mas com uma mistura esquisita de tudo o que falámos em cima. Esta noite, em Penafiel, embalou o Sporting com dois golos e evitou uma insónia a Marco Silva. Freddy Montero voltou aos golos. O colombiano não marcava para o campeonato desde 8 de dezembro de 2013.

Aborrecida. Foi assim a primeira parte. Uns tapavam os caminhos para a baliza, outros guardavam a bola e queriam descobrir buracos na muralha defensiva alheia. Adrien ficou no banco e, em muitos momentos do jogo, notou-se a falta da inteligência e serenidade do médio. André Martins, apesar da boa vontade e de aqui e ali mostrar bom toque de bola, não tem estaleca para agarrar o jogo leonino e fazer maravilhas entre o meio-campo e a defesa do rival. Até tem queda para fazer tabelas, mas falta algo.

Do outro lado estava uma equipa confiante, que recuperou o fôlego após quatro derrotas em outros tantos jogos. Rui Quinta, o antigo adjunto de Vítor Pereira no FC Porto, assumiu o barco e tratou de amealhar pontos. Primeiro venceu o Vitória de Setúbal (2-0) e depois empatou no campo do Moreirense (0-0). Este Penafiel é frágil e limitado, admitamos. Mas tem o coração que às vezes falta aos grandes, e é por isso que acontecem as surpresas.

Sem muita arte e engenho, a oportunidade mais perigosa da primeira parte chegou depois de (mais) um erro de Sarr (16′). O jovem central francês continua a acumular bolinhas vermelhas na caderneta. Guerra, qual seta com o olho na baliza, aproveitou e seguiu a alta velocidade. Na cara de Rui Patrício, que chegava a esta partida com o ego cheio depois da super-exibição com o Chelsea, chutou para as nuvens. Ficava o aviso, que se suspeitava ser um caso sem exemplo.

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Do outro lado foi Slimani quem esteve mais perto do golo. Cédric, também ele convocado para a seleção, rematou de longe e Haghighi, o iraniano que esteve no Campeonato do Mundo no Brasil, não sacudiu a bola e deixou-a ali perto da baliza. Slimani dominou, descaído para a esquerda já dentro da área, mas o destino seria a rede lateral. Este não é o Slimani do Mundial…

Os 5.200 adeptos presentes no Estádio 25 de abril não tiveram sorte com a fava. O jogo estava fraco. Chato, para não dizer pior. O meio-campo do Sporting, que teve um João Mário muito discreto, não conectou. André Martins fez de vagabundo, mas falta muita coisa para ser o 10 que os leões precisam. Jefferson recuperou a titularidade, mas estave um desastre nos cruzamentos. Nani não estava nos seus dias, enquanto Carrillo confirmava a história de ser irregular.

A bola era do Sporting — 61% de posse de bola –, mas não sabia muito bem o que fazer com ela. Arriscando a repetição de outros textos: faltam ideias. Não é por acaso que a equipa chegou a Penafiel com quatro empates em seis jornadas. Intervalo.

O ar sério de Marco Silva não deixava dúvidas. Esta equipa tem problemas. Principalmente no ataque. O treinador ex-Estoril Praia não esperou muito para mudar as coisas. Aos 57′ colocou em campo Adrien e Montero por William Carvalho, que tinha cartão amarelo, e André Martins. Estaria em marcha um 4-4-2? Sim, senhor. O banco ainda tinha mais munições para o caso de as coisas não melhorarem. Capel e Tanaka eram soldados à disposição.

Mas o golo chegaria (69′). O suspeito do costume voltaria a fazer das suas. Quem é? Que pergunta: Slimani, pois claro. A bola chegou ao corredor esquerdo, onde estava o desinspirado Jefferson, que tinha mais uma oportunidade para mudar o rumo da história neste 25 de abril. O pé esquerdo foi fiel e tocou na bola como já tocou tantas vezes no passado. O cruzamento saiu perfeito, mas exigia uma entrada de alguém destemido, audaz. E foi isso que aconteceu. Nas alturas, Slimani entrou determinado para marcar o primeiro da noite, 1-0.

O que aconteceu dois minutos depois é que foi delicioso. Cédric aventurou-se na complicação que é fazer passes longos e isolou Slimani. O avançado argelino impôs-se à dupla de centrais, Bura e Pedro Ribeiro, ajeitou a bola com o joelho e rematou com o pé esquerdo. A bola, seduzida pelo drama, ainda tocou na trave, mas acabou dentro da baliza. Mais um belo golo deste avançado que esteve para abandonar Alvalade. Marco Silva sorriu e bebeu um golo de água. Já podia respirar fundo.

O três-zero chegaria por um ex-suspeito do costume, que não marcava desde o bis no 2-0 ao Gil Vicente na 12.ª jornada da época passada. Falamos de Freddy Montero, sim. Diego Capel, que substituíra Carrillo, cruzou rasteiro e, ao segundo poste, o avançado encostou para a baliza deserta. Acabava assim uma seca de dez meses.

A segunda parte de gala ainda meteria Nani ao barulho. Montero descobriu o internacional português do lado direito, já dentro da área, e o extremo, com a classe que habituou muita gente, com um gesto que podia muito bem viver em Old Trafford, picou a bola por cima do guarda-redes Haghighi. Que diferença da primeira parte para a segunda. Este jogo até faz lembrar uma teoria de Cristiano Ronaldo. “Os golos são como o ketchup: quando aparece, aparece tudo de uma vez”, disse, durante o Mundial-2010. Foi isso mesmo que aconteceu em Penafiel.