Não são as capitais dos seus países nem as universidades na sua região são as maiores ou com mais alunos, mas tanto Delft, uma cidade na costa holandesa, como Aveiro querem utilizar o conhecimento para atrair e fixar estudantes e investigadores. Com mais oito cidades europeias trabalham em rede e na semana passada partilharam a sua experiência em Bruxelas. Delft está a contribuir para tornar o porto de Roterdão no “mais sustentável do mundo” e o distrito de Aveiro vai ter uma incubadora de empresas em cada município.

A EUniverCities agrega 10 cidades europeias de média dimensão que querem partilhar experiências e aprender umas com as outras como interagir com as universidades que têm nos seus territórios. A liderar o projeto está a cidade de Delft, na Holanda. Esta cidade situa-se perto de Haia e Roterdão, tem 100 mil habitantes e uma universidade focada na tecnologia com 20 mil estudantes.

Aveiro, que tem cerca de 60 mil habitantes e uma universidade com 15 mil alunos – 1.500 dos quais estrangeiros, provenientes de 80 países – é a única cidade portuguesa a integrar esta iniciativa e ao Observador, o presidente da Câmara, José Ribau Esteves, explicou que há dois motivos para esta participação: “Estamos a usar o programa para transpor a nossa experiência para a rede, porque de facto em matéria de cooperação entre o poder local e uma universidade, temos coisas a ensinar e para que ganhemos visibilidade, tornando a nossa região e a nossa universidade mais atrativas”.

Em Bruxelas, Delft e Aveiro partilharam a sua experiência durante os EU Open Days, uma iniciativa que reuniu na capital belga mais de 6.000 participantes oriundos da União Europeia, que em conjunto debateram a utilização dos novos fundos de coesão do quadro 2014-2020. Gijsbertus Verkerk, presidente da câmara da cidade holandesa disse que nos anos 80 a sua cidade estava muito virada para a produção de componentes como cabos, mas desde a relocalização dessas indústrias para o continente asiático, a aposta passou a ser tecnológica. Por isso, Delft quer ser uma cidade “atrativa para os investigadores” e assim, apostou num laboratório de processamento tecnológico e dobrou a capacidade da sua incubadora de empresas. “Os Estados-membros não criam trabalho, quem cria trabalho são as cidades”, defendeu o holandês.

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EU Open Days 2014, Brussels, Growing Together,

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Já Aveiro iniciou a relação com a universidade há cerca de duas décadas, aquando da necessidade de despoluir a Ria de Aveiro. “Foi o plano da universidade que levou à criação da Comunidade Intermunicipal de Aveiro, ou seja, a que os municípios se unissem em torno de um projeto comum”, explicou Ribau Esteves aos presentes. As apostas da universidade e da cidade têm estado em sintonia nos últimos anos: mobilidade, ambiente, habitação, economia e governance. Outra prioridade em comum é a utilização dos fundos de coesão. “Em parceria com a universidade, já elaborámos a nossa estratégia de desenvolvimento para este quadro pluri-anual. Fizemos durante dois anos trabalho de reflexão e upgrade do programa de 2007-2013, estamos agora a aprofundá-lo com as empresas e a indústria”, disse Ribau Esteves ao Observador.

Promover o encontro entre as universidade e as cidades

John Goddard, professor emérito da Universidade de New Castle e que se debruça sobre o estudo do Desenvolvimento Regional, disse que cabe às cidades e às universidades encontrarem pontos de interesse em comum. “As universidades não são apenas na cidade, têm de ser da cidade. Elas não podem mudar de sítio, não vão à falência. Cabe também aos investigadores verem-se como cidadãos”, disse o académico que aconselha há anos a Comissão Europeia sobre programas como o EUniverCities.

“Somos liderados pela investigação e a maneira como se transfere conhecimento é através da educação, os próprios alunos que vão para as empresas é que fazem a ligação com as empresas”, indicou John Goddard.

Em Delft, Verkerk diz que uma forma que o município encontrou para atrair e manter os alunos foi dar-lhes alojamento no centro da cidade, mas também inclui-los no centro de decisão e por isso contou que tem um grupo de alunos da universidade no seu executivo. Outros eventos como desporto e dias de voluntariado fazem com que a ligação à cidade se vá aprofundando.

Quanto à dificuldade de manter estas medidas devido à mudança dos executivos camarários a cada eleição, Ribau Esteves disse que o compromisso deve ser sempre entre as instituições e sem prazo de validade consoante o mandato de quem as dirige – “Os reitores também são eleitos”, lembrou. “Há uma ligação fácil entre a democracia e as universidades”, afirmou Ribau Esteves.