No Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, um grupo de enfermeiros ajuda a retirar a dor de doentes oncológicos a partir de massagens, melhorando a sua qualidade de vida e reduzindo o uso de fármacos.

Dentro de uma sala da Unidade de Dor, ouve-se uma música calma e relaxante, enquanto a enfermeira Graça Folhas faz uma massagem nas costas a Maria Filomena, doente oncológica.

“Isto é mesmo bom”, aponta a doente, que fez uma mastectomia há cinco anos e que há dois foi à sua primeira sessão de massagens no IPO de Coimbra.

Apesar da música relaxante, uma panóplia de discos perto da aparelhagem pretende responder aos gostos de cada doente, ouvindo-se dentro daquela sala “desde pimba a Chopin”.

A primeira vez que Maria Filomena entrou na sala, estava cética. E mesmo depois de sair não mudou de opinião.

Contudo, na terceira sessão, “tudo correu bem”. Para além da massagem, fez perguntas sobre a terapia e sobre como lidar com a dor.

“Pensava que era como um spa, mas não é”, conta, sublinhando que, enquanto recebia a massagem, foi aprendendo como se haveria de deitar, de descer e subir escadas, andar e tomar banho.

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De noites não dormidas, consegue hoje “dormir cinco ou seis horas perfeitas, sem a ajuda de fármacos”, tendo voltado a ganhar a autonomia perdida com as dores cervicais.

Quando sai da sala, na qual se lê numa placa “aqui a dor não entra”, todo o seu corpo reage.

“Parece que sai a porcaria toda”, conta.

Depois do ceticismo, defende hoje que aquelas sessões deveriam ser “um serviço hospitalar” como o é a cirurgia, pedindo ainda um “local melhor e maior” para as sessões.

O projeto “Bem-estar”, criado em 2005, começou com três enfermeiros do serviço de cirurgia do IPO de Coimbra, que tiveram formação na área da massagem, tendo neste momento 10 enfermeiros na iniciativa, que se encarregam de garantir o serviço dois dias por semana, informou Dulce Helena, enfermeira-chefe do serviço de cirurgia do IPO.

Contudo, haveria procura “para cinco dias por semana”, disse à agência Lusa Dulce Helena, notando que, de momento, há uma lista de espera de 20 pessoas.

A terapia, que pode envolver técnicas como a termoterapia, reflexologia, aromaterapia ou reiki, ajuda a “reduzir a dor, a medicação e a ansiedade” dos doentes.

“A maior parte dos casos são de sucesso e os doentes pedem sempre mais sessões”, congratula-se, sendo este projeto uma complementaridade à terapia farmacológica, havendo uma avaliação do doente antes de ser integrado nesta terapia.

No decorrer das sessões, regista-se no paciente uma “estabilização dos sinais vitais, um aumento da saturação de O2 [oxigénio] e uma diminuição da dor”, sendo que nas primeiras 24 horas após a massagem os doentes não recorrem à “medicação SOS [normalmente paracetamol]”, refere Graça Folhas, que entrou neste projeto em 2006.

Para a enfermeira, as massagens dão-lhe “uma satisfação imensa”.

“Há uma vontade expressa de ajudarmos os outros”, num ambiente em que a relação “com o doente é muito diferente” e em que este se abre e “fala da dor”, podendo o enfermeiro perceber melhor o que o afeta.