A peça “Os Belos Dias de Aranjuez”, de Peter Handke, estreia-se em Portugal, na quarta-feira, em Lisboa, na presença do autor, numa sessão única, integrada na programação do Lisbon & Estoril Film Festival. O espectáculo será no Pequeno Auditório do CCB.

A encenação é de Tiago Guedes, que aceitou o convite do produtor Paulo Branco, diretor do festival, e, em declarações à Lusa, afirmou ter gostado do texto, “por não ser simples”. “Desafiou-me não ser um texto simples, que fala de amor e da dificuldade que é o homem e a mulher encontrarem-se, e é um texto com muitas camadas de profundidade, que quis explorar com os atores”, disse.

Em palco vão estar Isabel Abreu e João Pedro Vaz. Sobre o cenário, Tiago Guedes não quis adiantar pormenores: “Prefiro que seja uma surpresa”, afirmou. A razão dessa surpresa é estar em palco um objeto do qual o encenador afirmou gostar muito, tendo apenas afirmado que o foi um trabalho da Ângela Rocha e o desenho de luz de Nuno Meira. “Está muito trabalho feito nesta peça e são dois excelentes atores”, disse o encenador, que realçou o facto de apresentar a peça na presença do autor.

O austríaco Peter Handke é apresentado pelo festival como “um dos maiores autores da literatura contemporânea, que se revelou também no ensaio, na prosa de reflexão e na poesia”. O autor tem várias obras traduzidas para português, nomeadamente “A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty”, “Uma Breve Carta para um Longo Adeus”, “Para uma Abordagem da Fadiga”, “O Chinês da Dor”, “Numa Noite Escura Saí da Minha Casa Silenciosa” e “Poema à Duração”.

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Handke é autor e coautor, respetivamente, dos argumentos de “Movimento em falso” e de “As asas do desejo”, do cineasta alemão Wim Wenders, que, entre as suas primeiras longas-metragens, tem a adaptação de “A angústia do guarda-redes antes do penalty”, do escritor austríaco.

O escritor e dramaturgo de 71 anos foi distinguido este ano com o Prémio Internacional Ibsen. “É fácil imaginar Peter Handke como a antítese do dramaturgo Henrik Ibsen”, disse o júri do prémio atribuído no passado mês de março. “Ele é um poeta épico, inovador e um contador de histórias experimentado, com as traduções das obras da antiguidade para o palco”. Todavia, destacaram os jurados, “os dois dramaturgos têm muito em comum, e talvez o mais central seja o sentido de descoberta”, “a capacidade de percecionar a essência do tecido social”. “Se Ibsen foi o modelo de dramaturgo da época burguesa, que ainda não terminou, Peter Handke é, sem dúvida, o mais eminente poeta épico do teatro”, escreveu o júri.

O encenador Tiago Guedes dirigiu, no cinema, com Frederico Serra, as longas-metragens “Coisa Ruim” e “Entre os Dedos”, mas tem desenvolvido também, em paralelo, trabalho no teatro, como a encenação das peças “Blackbird”, de David Harrower, e “The Pillowman”, de Martin McDonagh.

“Os Belos Dias de Aranjuez”, que terão uma única representação no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival, na quarta-feira, foram traduzidos pela escritora Maria Manuel Viana, autora de, entre outros, “A Paixão de ana b.” e “A Dupla Vida de Mª João”.