“Sim, estou em prisão domiciliária. Mas hoje eu quero estar com vocês, por isso, também vou”. Alexei Navalny escreveu estas palavras no Twitter, onde colocou uma selfie tirada no metro de Moscovo. O tweet mostra o blogger e opositor número um de Putin a desafiar a prisão domiciliária, deslocando-se para uma manifestação contra o presidente russo em Moscovo, apenas horas depois de um tribunal o ter condenado a três anos e meio de prisão com pena suspensa. Foi nesse protesto que Navalny acabou por ser detido.

O New York Times escreve que a detenção durou apenas algumas horas. Segundo a agência noticiosa russa Interfax, as autoridades disseram que a polícia se limitou a acompanhar Navalny a casa.

Depois da detenção, Navalny continuou no Twitter, pedindo a todos os que se encontravam presentes na manifestação na praça Manezh para não deixarem o local. “Eles não podem prender toda a gente”, escreveu. Entretanto, a AP relata que milhares de russos estão neste momento a manifestar-se na Praça Vermelha, preparando-se a polícia para intervir e dispersar os manifestantes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nesta terça-feira, Alexei Navalny e o irmão Oleg foram considerados culpados de terem desviado cerca de 30 milhões de rublos (aproximadamente 485 mil euros) da empresa de cosméticos francesa Yves Rocher.

O julgamento foi originalmente marcado para o dia 15 de janeiro, tendo sido antecipado para esta terça-feira, antes das comemorações de ano novo, numa tentativa de prevenir protestos anti-Putin, escreve o Guardian.

Alexei Navalny, que arriscava uma pena de 10 anos na prisão, viu com surpresa ser-lhe aplicada uma pena de prisão suspensa de três anos e meio e reagiu com choque à sentença dada ao irmão, condenado a três anos de prisão efetiva. Quando a juíza Yelena Korobchenko perguntou se a decisão judicial tinha ficado clara, Alexei gritou: “Porque é que prendem o meu irmão? É para me castigarem ainda mais?”, disse, acrescentando que as autoridades russas estão a “destruir e a torturar os parentes dos opositores políticos”, segundo a BBC.

À saída do tribunal, Navalny fez a sua própria sentença: “Este regime não merece existir. Tem de ser destruído”. Depois, o blogger pediu aos moscovitas que enchessem as ruas esta terça-feira. A banda Pussy Riot apelou a uma manifestação contra a condenação dos irmãos Navalny.

O correspondente da BBC em Moscovo assistiu ao julgamento e ouviu os apoiantes de Navalny, convencidos de que o veredicto foi político, e não uma questão de justiça. O amigo e também opositor ao regime Ilya Yashin disse, citado pelo Guardian, que ao “sequestrar politicamente” o irmão de Navalny, o Kremlin está a tentar “esmagar o espírito” do blogger, tentando que este se cale.

Desde fevereiro que Alexei Navalny se encontra em prisão domiciliária depois de ter violado a proibição de viajar imposta na sequência do caso da fraude à Yves Rocher.

Em julho de 2013, Navalny foi condenado a cinco anos de prisão pelo alegado roubo de 16 milhões de rublos (cerca de 236 mil euros) de uma empresa de madeira em 2009, mas acabou por ser libertado pouco depois.

Como escreve a BBC, as autoridades russas têm procurado limitar as atividades e a influência pública daquele que é considerado o “inimigo número 1 de Putin” e que ficou em segundo lugar nas eleições para mayor de Moscovo em 2013, com 27% dos votos. Até agora a pressão sobre Navalny estava a ser exercida com cautela, segundo a cadeia britânica, uma vez que as autoridades não queriam transformar o opositor num mártir atrás das grades.