O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, defendeu hoje que a chamada “lusofonia económica” é uma das maiores oportunidades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que representa quatro por cento do comércio mundial.

O governante português, que intervinha na abertura do seminário diplomático, em Lisboa, destacou que as questões económicas começam a assumir um papel cada vez mais central na atuação da organização lusófona, “falando-se da possibilidade de a ‘lusofonia económica’ constituir uma das maiores oportunidades da CPLP numa nova economia global”.

“A organização representa cerca de quatro por cento do comércio mundial e engloba alguns países com as economias mais dinâmicas das regiões em que se inserem, constituindo um importante elo de ligação a uma vasta rede de organizações económicas regionais”, sustentou Machete, perante diplomatas e outros membros do Governo.

Para o governante, “o desenvolvimento desses espaços económicos irá criar novas oportunidades de comércio e de investimento, tanto para empresas lusófonas como para as que comerciam com estas, incluindo as provenientes dos novos observadores associados” – casos do Japão, Turquia, Namíbia e Geórgia.

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Recordando que a CPLP, que cumpriu no ano passado 18 anos, “sempre se caracterizou pelo seu caráter evolutivo”, o ministro mencionou que, em 2016, na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo dos nove países lusófonos será definida a nova visão estratégica da organização.

No ano passado, Timor-Leste assumiu pela primeira vez a presidência da CPLP, na 10.ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Díli, quando foi admitido um novo Estado-membro, a Guiné Equatorial – que se juntou a Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor.

Sobre a adesão do novo membro, marcada pela polémica, Rui Machete lembrou que “por iniciativa de Portugal, na declaração de Díli ficou registada a necessidade de um compromisso claro por parte da Guiné Equatorial da adoção dos princípios por que se rege a CPLP, designadamente na abolição da pena de morte, dando seguimento à moratória anteriormente aprovada”.

Na sua intervenção, o ministro aproveitou para destacar a qualidade das relações bilaterais de Portugal com os restantes países lusófonos.

Depois da expulsão de magistrados portugueses de Timor-Leste, no final do ano passado, é necessária uma “reavaliação da cooperação na área da Justiça”, que ainda está a decorrer, mas Portugal mantém o interesse “numa cooperação profícua e setorialmente diversificada”.

Quanto a Angola – depois de em 2013 o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, ter desaconselhado uma parceria estratégica com Portugal -, as relações bilaterais “são hoje de uma densidade e dinamismo assinaláveis”.

“Para além das relações económicas, continuaremos em 2015 a aprofundar a coordenação política sobre temas internacionais de interesse comum, o que se justifica ainda mais pelo protagonismo que Angola vem assumindo na resolução de crises regionais e pela sua recente eleição para o Conselho de Segurança das Nações Unidas”, destacou Machete.

Sobre a Guiné-Bissau, o ministro recordou o sucesso das eleições legislativas e presidenciais da primavera passada na escolha de “autoridades legítimas” e declarou o empenho de Portugal para que aquele país africano “reconquiste o seu lugar no panorama internacional e consolide a restauração da sua ordem constitucional, terminando com o isolamento”.

Com Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, as relações bilaterais são de excelência, referiu.

O Brasil conserva “o seu estatuto de prioridade regional, tanto pelas evidentes afinidades históricas e culturais, como pela muito relevante comunidade portuguesa ali residente”, com aquele país a manter a sua posição de terceiro mercado português de exportação fora da União Europeia e o primeiro na América Latina – dados que Machete apontou como “razões mais do que suficientes para a realização, em 2015, da 12.ª Cimeira Luso-brasileira”.

O ministro apontou ainda outras prioridades da diplomacia portuguesa, nomeadamente na Ásia: são os casos da China, com o relacionamento económico a aprofundar-se no ano passado, do Japão, que tem em Portugal o mais antigo parceiro na Europa, e ainda a Coreia do Sul, país com que Lisboa quer promover “uma maior proximidade institucional e económica”.

O Governo português quer ainda reforçar a proximidade com os países do Magrebe, em particular Marrocos, Argélia e Tunísia – com os quais realiza cimeiras bilaterais – e, ainda em África, com o Senegal, Nigéria, Gana, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Zimbabué, África do Sul e Namíbia.

Portugal e os Estados Unidos estão unidos por “fortes laços” e as “relações económicas e de segurança constituem as duas dimensões com maior potencial de crescimento”, disse Machete, que destacou ainda que no ano passado Lisboa se empenhou no reforço do relacionamento com a América Latina, em especial a nível económico-comercial, nomeadamente na Colômbia, México, Peru e, em breve, o Chile.