Há-de haver um início de ano em que a grande notícia vai ser: Meryl Streep não foi nomeada para um Óscar. Não será este ano, porque Streep acaba de ter a sua 19ª nomeação, desta vez para Melhor Actriz Secundária, pela sua bruxa de “Caminhos da Floresta”. Ao ritual das “previsões” das nomeações às estatuetas, seguiu-se o do anúncio das ditas, logo sucedido por ainda outro: o dos críticos e jornalistas a exultar pelos filmes e intérpretes que gostam e que foram nomeados, e indignados pelos que não foram.

Entre as boas notícias, três dos melhores filmes estreados nos EUA em 2014, “Grand Budapest Hotel”, de Wes Anderson, “Boyhood”, de Richard Linklater, e “Sniper Americano”, de Clint Eastwood, foram justa e certeiramente distinguidos com um total de 21 nomeações. Nas más, o exibicionista “Birdman”, de Alejandro González Iñárritu, e o pastelão “O Jogo da Imitação”, de Morten Tyldum, somam 17 indicações. Incrivel, quase obscenamente, enquanto Tyldum foi nomeado para Melhor Realizador (inserir gargalhada sonora aqui), Clint Eastwood não o foi, pelo soberbo “Sniper Americano”, onde mostra que é o único e genuíno herdeiro de mestre John Ford.

O “maverick” deste ano é “Whiplash-Nos Limites”, de Damien Chazelle, com quatro nomeações, incluindo Melhor Filme, Actor Secundário e Argumento Adaptado. “Foxcatcher”, de Bennett Miller, teve cinco, mas não conseguiu Melhor Filme. No rol de filmes injustiçados com indicações menores ou técnicas, constam “Interstellar”, de Christopher Nolan, e “Mr. Turner”, de Mike Leigh. Se havia um actor que merecia estar na corrida ao Óscar de Melhor Actor, era Timothy Spall pela sua interpretação do pintor William Turner (já distinguida no último Festival de Cannes). E também Amy Adams tinha merecido a nomeação a Melhor Actriz em “Olhos Grandes”, de Tim Burton (mas está lá Marion Cotillard, brilhante em “Dois Dias, uma Noite”, dos irmãos Dardenne).

Vai já muito barulho pelas redes sociais pelo facto de “Selma” e do seu actor principal, o inglês David Oyelowo, que faz de Martin Luther King, terem sido alegadamente preteridos (“Selma” concorre só para Melhor Filme e Melhor Canção). Mas a verdade é que “Selma” é uma fita medíocre, politicamente correcta e piedosamente didáctica, tutelada por Oprah Winfrey, que procura capitalizar no complexo de culpa que os liberais americanos têm a respeito da luta dos negros pelos direitos civis nos anos 60.

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Muita gente lamentou também o facto de “O Filme Lego” ter ficado em branco na categoria de Melhor Longa-Metragem de animação, mas quem como eu, o achou visual e sonoramente massacrante, não lamentará essa ausência. (Nem com uma Meryl Steep em Lego lá no meio se safava). E “last but not least”, há que realçar ainda as duas nomeações do consagrado Alexandre Desplat em Melhor Banda Sonora, por “Grand Hotel Budapest” e “O Jogo da Imitação”.

Um tema de ‘Grand Budapest Hotel’