Estados Unidos e Cuba iniciam hoje em Havana a jornada de conversações sobre assuntos migratórios e o processo de normalização das relações diplomáticas entre os dois países, suspensas há mais de meio século.

Na ilha, entre hoje e sábado, estará a primeira missão norte-americana de alto nível diplomático a visitar a Cuba castrista, liderada pela secretária de Estado adjunta para a América Latina, Roberta Jacobson.

Segundo informações divulgadas por Havana e Washington, as primeiras conversações específicas para o restabelecimento das relações diplomáticas estão agendadas só para quinta-feira para o Palácio de Convenções da capital cubana.

Hoje, os dois países vão manter uma ronda de conversações sobre temas migratórios, reuniões que Cuba e os Estados Unidos começaram a realizar no âmbito de acordos alcançados em 1994 e 1995 para manter uma imigração “segura, legal e ordenada”.

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A equipa norte-americana nesta reunião é presidida pelo subsecretário assistente do Gabinete para os Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Edward Alex Lee.

A reunião vai servir para “avaliar o progresso dos acordo migratórios e as ações assumidas pelas duas partes para enfrentar a emigração ilegal e o tráfico de emigrantes, entre outros temas”, indicou, na passada sexta-feira, a diplomacia cubana.

Na quinta-feira, os dois países realizam a primeira reunião oficial sobre a normalização de relações.

“Nesta reunião vão ser abordados os princípios e os passos para o restabelecimento de relações diplomáticas e a abertura de embaixadas nos dois países”, referiu o Ministério das Relações Exteriores cubano, precisando que a delegação da ilha será chefiada pela diretora-geral para os Estados Unidos, Josefina Vidal.

No mesmo dia está agendado outro encontro para “abordar assuntos bilaterais, incluindo áreas de cooperação em temas de interesse mútuo”, concluiu a diplomacia cubana.

O lado norte-americano precisou que a agenda das reuniões vai incluir matérias como disposições técnicas e logísticas, tais como as operações da embaixada, pessoal e processamento de vistos.

Durante a estadia em Havana, Roberta Jacobson vai encontrar-se com membros independentes da sociedade civil, bem como líderes religiosos e empresários.

Estas conversações surgem depois de o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e o Presidente de Cuba, Raul Castro, terem anunciado, a 17 de dezembro de 2014, uma aproximação histórica entre os dois países.

Um embargo económico, comercial e financeiro contra Cuba foi imposto pelos Estados Unidos em 1962, depois do fracasso da invasão da ilha para tentar derrubar o regime de Fidel Castro em 1961, que ficou conhecido como o episódio da Baía dos Porcos.

Ao longo das últimas semanas, os dois países têm dado sinais de progresso neste processo de normalização.

Os Estados Unidos colocaram em vigor, na sexta-feira passada, um conjunto de medidas para aliviar algumas restrições impostas pelo embargo, enquanto o regime cubano libertou 53 presos que eram considerados como prisioneiros políticos pelas autoridades norte-americanas. No passado fim de semana, uma delegação de congressistas norte-americanos visitou Havana.

Na segunda-feira, um grupo de 78 personalidades – antigos políticos (democratas e republicanos), empresários e membros da comunidade cubano-americana – escreveu uma carta a Barack Obama a pedir que o governante “trabalhe com o Congresso para atualizar o quadro legislativo em relação a Cuba”.

Na missiva, assinada por proeminentes figuras republicanas como o antigo secretário de Estado George Shultz da administração de Ronald Reagan e importantes empresários cubano-americanos (Alfonso Fanjul), as personalidades defendem que era necessária uma abertura em relação a Cuba porque “a abordagem [norte-americana] de 54 anos para promover os direitos humanos e a democracia em Cuba falhou”.