O BE alertou esta terça-feira para um retrocesso de 20 anos na oferta de transportes públicos, numa ação contra as privatizações neste setor, em que vários dirigentes viajaram de comboio na linha de Cascais e de barco até Cacilhas.
Nesta ação em Lisboa e na margem do sul do Tejo, no âmbito da interpelação ao Governo marcada para 11 de fevereiro, os bloquistas apresentaram dois projetos de resolução para travar a privatização dos transportes fluviais no Tejo e criar um plano de investimento urgente na linha ferroviária de Cascais para reverter “a contínua degradação do serviço público”.
“Aquilo a que assistimos hoje é a uma desqualificação dos transportes públicos para os tornar um negócio mais apetecível para os privados”, afirmou a porta-voz bloquista, Catarina Martins, aos jornalistas.
Na estação de comboios do Cais do Sodré, em Lisboa, depois de uma viagem deste Cascais, a dirigente do BE, que esteve acompanhada pelo líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, e pela deputada Mariana Mortágua, disse que as principais queixas que ouviu de passageiros se prendem com o preço dos bilhetes e a redução dos horários.
“O que as pessoas nos dizem é que estamos a andar vinte anos para trás, tanto no tempo em que demora o percurso, como na regularidade dos comboios. Há vinte anos era mais fácil fazer esta linha, vir para Lisboa trabalhar e voltar para casa”, assinalou.
Catarina Martins considerou que a recente supressão de 47 comboios diários nesta linha ou a ausência de renovação de carruagens e equipamentos visa baixar os custos para privatizar CP, seguindo a “lógica de vender o país”.
“Sabemos que não há nenhum mecenas privado que vá investir em transportes públicos porque quer apoiar a população portuguesa. Há uma degradação dos transportes que já se está a ver com a lotação extrema das carruagens e dos transportes em geral nas horas de ponta, há muito menos opções, e portanto as pessoas deixam até de contar com o transporte público como opção viável para as suas vidas”, referiu.
Na viagem de barco entre o Cais do Sodré e Cacilhas, vários militantes do BE aproveitam ainda para distribuir jornais contra o Tratado Orçamental e recolher assinaturas para a petição que lançaram em janeiro.
A bordo do ‘cacilheiro’, Márcio Correia, passageiro diário e empregado numa loja na baixa lisboeta, critica o preço dos bilhetes que “não tem nenhuma relação com o poder de compra das pessoas”.
Já Rui Conceição, também a morar na margem sul, disse à Lusa não notar grandes alterações, apesar de se confessar um utilizador frequente do automóvel, “por uma questão de hábito”.
“Parece-me tudo igual, os autocarros e os barcos são os mesmos”, afirma.
Na curta paragem em Cacilhas, a deputada do BE Mariana Mortágua afirmou que as linhas fluviais que ligam Lisboa à margem sul “perderam um em cada cinco dos seus passageiros”, ao mesmo tempo “que os preços aumentaram em média 10%, entre 2011 e 2014, numa altura em que há mais desemprego, em que os salários estão a descer”.
“O que o BE tem defendido é defender os transportes públicos, baixar o seu preço, aumentar a sua qualidade, não é mau para as contas públicas, pelo contrário, é bom, aumenta o número de passageiros, aumenta a qualidade ambiental, aumenta a qualidade de vida desta gente”, sublinhou.
A bloquista observou que a redução de oferta de transportes leva muitas pessoas “a optarem pelo automóvel, sobrecarregando a cidade de Lisboa com mais poluição”, e defendeu que a privatização “obviamente” não vai melhorar o serviço prestado.
“Todo o processo a que temos assistido de aumento dos preços e diminuição da qualidade tem como único objetivo que estes transportes deem lucro operacional, porque a parte financeira, que é aquela que gere os problemas da dívida, ficará sempre para o Estado (…) os contribuintes pagam a dívida através dos seus impostos e todos os utilizadores pagam mais preço, que fica para o lucro dos privados”, concluiu.