As motos e as scooters poderão, em breve, circular nas vias reservadas aos transportes públicos – vulgo “corredores Bus”. A proposta, da autoria do vereador João Gonçalves Pereira (CDS), deu entrada esta terça-feira na Câmara Municipal de Lisboa (CML) e deverá ser discutida nos próximos meses.

Ao Observador, João Gonçalves Pereira sublinhou os “ganhos efetivos” da medida a vários níveis – ambiental, económico e para a vida dos condutores. “Os veículos de duas rodas são menos poluentes do que os automóveis; as deslocações de motociclos e ciclomotores passam a ser mais rápidas, com impactos positivos para os restantes condutores; e o stress e a sinistralidade nas estradas de Lisboa vão reduzir significativamente”, explicou o vereador.

Além disso, acrescenta, “[esta medida] vai permitir regularizar uma situação que hoje já acontece – por regra, os agentes de autoridade responsáveis pela monitorização do trânsito não autuam condutores de veículos de duas rodas que circulam nos “corredores Bus”. Mas é fundamental legalizar a situação”, sublinhou.

A medida não é inovadora: já foi aprovada em várias cidades europeias e cá em Portugal já deu os primeiros passos. A Câmara Municipal do Porto, em conjunto com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, conduziu durante seis meses um projeto-piloto com resultados “positivos”, pode ler-se na proposta que o vereador fez chegar ao Observador. Mesmo o Código de Estrada português já prevê que, em casos específicos e depois dos pareceres obrigatórios da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e do Instituto da Mobilidade Terrestre, IP, as autarquias possam implementar estas regras de circulação.

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Ainda assim, defende João Gonçalves Pereira, “Lisboa é a cidade europeia com maior potencial” para promover esta medida. E explica porquê: “Lisboa é a capital europeia com mais horas de sol por ano, pelo que esta medida é mais um incentivo à utilização deste tipo de transportes”, num momento em que muitos condutores já preferem as motos aos automóveis.

E será que o executivo liderado por António Costa vai adotar a proposta? João Gonçalves Pereira acredita que sim. “Não quero acreditar que quem andou alterar os sentidos de circulação na Avenida da Liberdade e na rotunda do Marquês em nome da proteção do ambiente, agora não aprove uma medida que se vai traduzir em ganhos positivos para o trânsito e para a qualidade do ar da cidade”.

Também Armando Marques, diretor-geral da Federação Motociclismo Portugal (FMP), vê com bons olhos esta medida que, acredita, vai ter um “impacto positivo para o ambiente e para a mobilidade dos condutores”. Para Armando Marques, se a proposta for aprovada, o tempo que automobilistas e motociclistas passam no trânsito vai ser inferior, “com grandes melhorias para as condições de bem-estar dos utentes”. “As pessoas querem ter mais tempo para a vida privada e, entre perder uma hora na estrada ou perder meia hora, vão sempre preferir fazer o percurso em menos tempo”, explicou o diretor-geral da FMP.

Mais: se os motociclistas forem autorizados a circular nos “corredores bus”, o trânsito vai circular com muito mais “harmonia” e a sinistralidade, sobretudo a pequena sinistralidade – os toques nos retrovisores, por exemplo – vai diminuir.

“Nós não queremos que a estrada seja um palco de demonstração de autoridade. [Com esta alteração] os motociclistas vão sentir-se mais seguros e os condutores de automóveis vão deixar de se preocuparem com os retrovisores”, explicou Armando Marques.