Não foi só anunciar, entregar uns papéis e pronto, de repente estava na corrida. Luís Figo teve de esperar uns dias para saber se, realmente, o deixavam trancar a mira na presidência da FIFA e preparar-se para, a 29 de maio, data marcada para as eleições, premir o gatilho. Antes de ser oficialmente um candidato, o mais internacional de todos os portugueses (127 jogos pela seleção nacional) que um dia resolverem jogar à bola a sério teve de se submeter a um teste de integridade.

E foi a própria FIFA a realizá-lo. Figo anunciou ao mundo que ia ser candidato a 29 de janeiro, tendo entregado a documentação ao organismo no dia seguinte. Logo, entre a data em que a entidade que rege o futebol mundial recebeu a papelada e o momento em que deixou o português entrar na corrida, passaram-se dez dias — precisamente o tempo que a FIFA poderia, no limite, demorar a investigar o passado do ex-internacional português, de acordo com os regulamentos eleitorais da organização.

Fê-lo depois de Luís Figo submeter uma declaração de integridade. E mais: teve de apresentar uma “fotocópia do passaporte válido”. Porquê? A FIFA não o explica. Depois, o português, à semelhança dos outros três candidatos à presidência da entidade, teve de confirmar que não foi “previamente condenado por qualquer ofensa que corresponda a uma violação das regras de conduta, de acordo com a parte II da secção 5 do Código de Ética da FIFA”.

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Nome, apelido, data de nascimento, associação de futebol em que está filiado, nacionalidade e profissão

 

Este ponto prende-se, sobretudo, com “potenciais ou existentes conflitos de interesse”, que ocorrem, como a FIFA explica nos regulamentos, quando uma pessoa “aparenta ter interesses privado ou pessoal que diminuam a sua capacidade de desempenhar os seus deveres de uma forma independente e intencional”. Estes interesses, diz a entidade, poderiam visar “possíveis vantagens para a própria pessoa vinculada ao Código [de Ética, ou seja, Luís Figo], para a sua família, amigos ou conhecidos”. Figo, portanto, está livre de interesses.

O português nunca foi condenado pela justiça por qualquer conflito de interesse. Nem por uma “organização regente no desporto”, o ponto seguinte no qual Figo teve de dar garantias. O ex-capitão da seleção nacional teve depois de especificar se, atualmente, desempenha algum cargo numa entidade ligada ao futebol, e escrever “observações” que podia ser de “potencial relevância no presente contexto”.

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“Não fui não previamente condenado por decisão definitiva de qualquer ofensa intencional ou de qualquer ofensa que corresponda a uma violação das regras de conduta previstas na parte II secção 5 do Código de Ética da FIFA.”

 

No total, a declaração de integridade assentava em sete pontos que Luís Figo, oficialmente candidato à presidência da FIFA, desde segunda-feira, terá cumprido. Ele e Joseph Blatter, atual detentor do cargo, Michel van Praag, presidente da Federação Holandesa de Futebol, e Ali bin Hussein, príncipe da Jordânia.

Questionada pelo Observador sobre como foi realizado o teste de integridade, a FIFA apenas respondeu com um link para a documentação que define os tais pontos que todas as candidaturas tiveram de respeitar. A entidade que rege o futebol mundial não revelou se contactou algum outro organismo durante as investigações. E mais não se sabe.