“Perguntei porque é que o FMI continua a insistir na receita de austeridade tantos anos depois, agora que conhecemos os resultados no crescimento económico e nos níveis de desemprego”, disse Carlos Silva à agência Lusa.

O dirigente sindical participava num painel dedicado à abordagem do FMI ao mercado de trabalho. No mesmo painel, participaram os conselheiros do FMI Praksh Loungani e Helge Berger e o dirigente sindical grego Yannis Panayopoulos.

“Comecei por apresentar os principais vetores que nos preocupam, como os valores do desemprego, a diminuição de salários e as alterações à legislação laboral, e defendi que as políticas do FMI só podiam ser entendidas se olhássemos para os países como um conjunto de números e fronteiras, onde não habitam pessoas”, explicou Carlos Silva. O responsável perguntou ainda “como é que o FMI critica a subida do salário mínimo nacional, no seu último relatório de 30 de janeiro, quando este é um dos mais baixos da União Europeia e está significativamente abaixo dos da Espanha e Grécia.”

O secretário-geral da UGT diz que as críticas à austeridade marcaram os dois primeiros dias do encontro, que termina esta quinta-feira. “Comecei a minha intervenção lembrando que tinha ouvido responsáveis do Uganda, do Nepal, do Egito, do Peru, de todo o mundo, e que todos tínhamos as mesmas preocupações. Para mim, isso só significa uma coisa: a austeridade, mais do que uma teoria, é uma afirmação ideológica sem sentido”, explica.

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O sindicalista diz que os conselheiros do FMI presentes mostraram-se solidários com as dificuldades mencionadas. “Disseram que compreendiam, mas que avaliavam apenas os dados. Comprometeram-se a avaliar os efeitos da austeridade caso a caso”, diz. Carlos Silva viu neste compromisso uma admissão de culpa. “Quando admitem que cada país é um caso, admitem o erro que cometeram, que foi aplicar a mesma receita para todos os países”, garante.

Carlos Silva já se tinha encontrado esta semana em Washington com o ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar e com o diretor-executivo adjunto do Banco Mundial, Nuno Mota Pinto. “Defendi que se houver atenuantes aplicadas à Grécia que Portugal deve fazer valer a sua posição e negociar”, disse à agência Lusa, acrescentando que “Vítor Gaspar pareceu concordar com esta ideia.”

O encontro entre FMI, Banco Mundial e sindicatos termina esta quinta-feira com uma intervenção do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, e do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.