Com o nosso sistema solar localizado na parte interna da Via Láctea, os investigadores têm mais dificuldade em estudar alguns dos pormenores da nossa própria galáxia do que os das galáxias mais distantes. Mas o esforço de compilação de dados registados desde a década de 1970 permitiram a uma equipa multinacional mostrar, pela primeira vez, que existe matéria escura no interior da galáxia. Ou seja, somos vizinhos de uma grande quantidade de matéria que não emite nem absorve luz.

Apesar de a matéria luminosa ser mais visível porque emite luz, a matéria escura é cinco vezes mais abundante no universo. Mas se não se é possível vê-la, como se sabe que existe? Porque é a única forma de explicar a velocidade a que as estrelas e os gases viajam em torno do centro das respetivas galáxias, explica ao Observador Miguel Pato, investigador na Universidade de Estocolmo e co-autor o estudo publicado na Nature Physics.

Já se sabia da existência de matéria escura noutras galáxias desde 1970 e também já tinha sido possível medi-la na periferia da Via Láctea, mas não no centro. Enquanto o diâmetro total da galáxia será de 100 mil anos-luz, o Sol está a cerca de 26 mil anos-luz do centro. “Como estamos no interior da galáxia é mais difícil percebermos como é na nossa galáxia”, diz o físico. Mas não havia dúvidas sobre a existência de matéria escura porque “se só existisse matéria luminosa, a velocidade das estrelas seria inferior”.

Foram analisados “2.700 dados independentes de velocidade de estrelas ou de regiões onde existe gás”, referentes à parte mais interna da galáxia onde se encontra o sistema solar. Numa primeira fase foi possível definir a massa total da parte interna da galáxia, depois, por comparação com a matéria luminosa já identificada, quantificou-se a matéria escura existente.

Só não se sabe ainda do que é feita esta matéria escura. Mas como lembra o investigador, primeiro é preciso saber que quantidade existe e onde se localiza antes de ser possível dizer qual a constituição da mesma.

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