Têm 170 por 130 centímetros mas chegam do norte ao sul do país: feitas na Serra da Estrela com padrões inspirados nas casas da Costa Nova, vendidas nos mercados de Lisboa e nas lojas do Algarve — as mantas da by Stró não tapam apenas pernas arrepiadas. Com décadas de história em cada fio de lã, provam que o que é do campo tem lugar na cidade, e que a tradição ainda pode ser o que era.
“O trabalho da nossa marca é muito baseado na cultura portuguesa”, diz Pedro Tavares, metade da by Stró juntamente com Cláudia Mateus, ambos com 35 anos, ela formada em artes plásticas, ele em museologia e, ironia das ironias, apostado em não ver os ofícios antigos transformados em peças de museu. “Portugal é um país riquíssimo e para quem tem um projeto como este, muito apoiado na tradição e de muita pesquisa, é uma descoberta constante. Queremos perpetuar produtos que são parte da nossa herança e isso passa por explorar o rústico, o que era feito para o trabalho, e transformá-lo em objetos de desejo modernos e cosmopolitas.”
Isto vale para boinas e cachecóis que recuperam modelos e técnicas típicas mas com cores vivas, para chapéus de palha que não são para conjugar com uma enxada mas uma bicicleta citadina, para mantas de lã de cordeiro feitas no interior e tingidas com padrões como bolas, e ainda para sacos e cadernos às riscas que transformaram o padrão das casas da Costa Nova, em Aveiro, em acessórios para trazer na mão ou ao ombro.
Estando tão ligada às raízes portuguesas, a by Stró começou agarrada à terra e com os pés bem assentes no chão, com um nome provisório — “uma agulha no palheiro” — e uma coleção de chinelos de retalhos. “Eu vivi parte da minha vida perto da Serra da Estrela, no distrito de Viseu, e este tipo de chinelos é feito lá com restos das fábricas têxteis locais”, diz Cláudia, ao que Pedro acrescenta: “Não existem dois pares iguais.”
No catálogo da by Stró há chinelos para adultos e criança, em modelos que deixam ver as costuras propositadamente, uma espécie de chamada de atenção para as mãos por trás da máquina que coseu aqueles pontos. “Todos os nossos produtos são feitos no país e isto é algo que é importante para nós”, diz Cláudia, referindo-se aos chapéus de palha, fabricados no norte, e a todos os produtos têxteis de inverno, das boinas aos cachecóis espinhados — outra influência das montanhas onde mais neva em Portugal, aqui disponíveis em várias cores, e não apenas lã natural –, que são feitos na Serra da Estrela. “Quando estivemos os dois sem emprego, ponderámos mudar-nos para a Serra mas não pudemos porque lá não havia trabalho. Assim que começámos a desenvolver a marca, passou a ser uma preocupação deslocar a produção dos grandes centros e criar postos de trabalho no interior. Também por questões éticas, não era correto estar a pegar no ofício que se faz lá há décadas e vir para Lisboa contratar outras pessoas.”
Capaz de picar tanto como uma agulha, a consciência da marca estende-se também à questão ecológica. Ainda antes do governo de Pedro Passos Coelho começar a taxar os sacos de plástico com a nova lei da reforma da fiscalidade verde, já a by Stró andava a aproveitar antigas sacas de café, cacau, arroz e especiarias para fazer acessórios ou artigos de decoração.
“A minha família sempre esteve ligada aos produtos alimentares e eu cresci nos armazéns do meu pai a saltar em cima das sacas de amendoins e sultanas”, conta Pedro. “O próprio cheiro da serapilheira é-me muito familiar e por isso eu sempre soube que queria fazer algo com este material, que é extremamente ecológico mas infelizmente está a desaparecer, substituído pela ráfia sintética.” Acrescenta Cláudia: “Os poucos alimentos que se mantiveram embalados em juta foram o cacau e o café, provavelmente porque este material ajuda a manter os níveis de humidade regulados.”
Excepção a tudo o resto, as sacas que Pedro e Cláudia aproveitam são provenientes de outros países como o Brasil, Colômbia, Guatemala, Nicarágua e Costa do Marfim. “Muitos são lusófonos e isso faz com que estejamos nas lojas do Museu da Marinha e do Museu do Oriente, para além de podermos vir a trabalhar com uma ONG”, avança Pedro. O aproveitamento segue a mesma lógica dos retalhos dos chinelos: aproveitar as partes boas do tecido para fazer sacos de usar à tiracolo, com alças de couro amovíveis que dão para todos os modelos da marca. “Quando a saca não está danificada, aproveitamos tudo e pomos-lhe um fecho e um forro para fazer uma almofada ou até mesmo um pouf”, diz Cláudia.
Apesar de a loja online ser muito completa e já ter levado a cultura portuguesa a países como a Austrália, a melhor forma de conhecer tudo isto é também à moda antiga, em mercados de rua onde Pedro e Cláudia contam estas histórias e ainda fazem promoções. Presença assídua no Mercado do CCB Novo e Antigo, no Crafts & Design, no Jardim da Estrela e nos mercados temáticos do Príncipe Real, a by Stró vai estar este sábado, 21 de fevereiro, também no Mercados no Museu, no Jardim Botânico, com um nome que chama a atenção dos turistas. “Quando tivemos de registar a marca, em maio de 2014, optámos por by Stró porque queríamos que houvesse alguma relação com o nome anterior, uma agulha no palheiro, mas também queríamos ser fixados pelos estrangeiros”, diz Cláudia. “Isto seria como um português diria straw, que é palha em inglês.”
Ou seja, tudo isto é pensado, nada disto é palha.
Nome: by Stró
Data: 2014
Pontos de venda: Loja online, Armazém das Malhas, Museu do Oriente, Museu da Marinha, Museu da Cidade de Aveiro, Sardinha Fresh
Preço: 6,45€-68€
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.