Em ano de privatização, a TAP anuncia os piores resultados dos últimos seis anos. Os prejuízos consolidados do grupo ascenderam em 2014 a 85,1 milhões de euros, revela o relatório divulgado esta sexta-feira. É preciso recuar a 2008, ano da crise financeira para encontrar um resultado mais negativo.

Nesse exercício, a TAP SGPS apresentou um prejuízo de 288,4 milhões de euros que refletiu também a transição para as normas internacionais de contabilidade. Ainda em 2008, o negócio da aviação revistou uma perda de 209 milhões de euros, então muito influenciada pela escalada do preço dos combustíveis. Desde esse ano, que a TAP SA, empresa que concentra o transporte aéreo, tem apresentado lucros. O ciclo foi interrompido em 2014 devido a problemas operacionais que pesaram 108 milhões de euros nas contas da companhia aérea, arrastando a TA SA para um prejuízo de 40,4 milhões de euros no ano passado.

Em 2013, o grupo TAP tinha perdido 5,8 milhões de euros. O negócio da aviação lucrou 34 milhões de euros.

Investimento privado para sanear TAP tem de superar 500 milhões

Como consequência da evolução negativa dos resultados, a situação líquida da empresa voltou a agravar-se, estando agora nos 512 milhões de euros. Este valor serve de referência ao investimento que os privados terão de fazer na TAP para recapitalizar a companhia. O saneamento e relançamento da expansão da TAP, são objetivos apontados pelo governo para prosseguir com a venda da empresa. No entanto, a transportadora vive há vários anos com capitais próprios negativos (situação de falência técnica). 

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O relatório e contas, ainda sem a opinião do auditor, é conhecido mais cedo este ano, uma antecipação associada ao processo de privatização da TAP que está a decorrer. Estes números servirão de base para a apresentação de propostas de compra de 66% da transportadora, que terão de ser entregues até 15 de maio.

O atrasos nos aviões, as greves e as ameaças

Os problemas que afetaram o ano de 2014 incluem as greves e ameaças de paralisações, ainda que suspensas, mas também o impacto do atraso nas entregas de aeronaves por parte da Airbus que penalizaram as operações no segundo semestre. Estas perturbações obrigaram a companhia a assumir custos extraordinários com o fretamento de aviões e a compensação a clientes e realocação de passageiros, para além de perder a receita dos bilhetes não vendidos e das consequências indiretas na imagem da empresa.

Na apresentação das contas do negócio de transporte aéreo, a TAP garantiu que, na maioria destes casos, “são fatores de ordem conjuntural, que não contaminarão os resultados de 2015, o que parece ser confirmado pela retoma do crescimento do tráfego.” No entanto, já esta semana, o sindicato dos pilotos ameaçou romper o processo negocial, na sequência do que classificou de “impasse insanável” nas conversas com a empresa, que decorriam no quadro do acordo anunciado no final do ano passado. A rutura pode representar o regresso às greves, ou pelo menos, às ameaças.

Aumento das taxas da ANA

No relatório, a empresa assinala uma estagnação dos proveitos, não obstante o reforço da capacidade de oferta, o que diminuiu o yield (rentabilidade) e alerta para “um significativo acréscimo” das taxas aeroportuárias “em virtude de alterações contratuais impostas pela ANA−Aeroportos de Portugal, posteriormente à sua privatização”. As taxas também subiram no Brasil.

Apesar de descida acentuada do preço dos combustíveis, a fatura da TAP com esta rubrica aumentou 4%, muito pelo efeito quantidade, com o reforço da oferta. Os combustíveis pesam 27% nos custos da companhia, tendo representado 797,8 milhões de euros.

A área da manutenção permanece deficitária, mas a empresa salienta uma nova redução dos prejuízos para 22,6 milhões de euros, em resultado do plano de reestruturação. Já a Groundforce, empresa de handling onde a TAP tem 49,9%, apresentou um lucro de 2,4 milhões de euros.

19 milhões retidos em Angola

Os resultados ressentiram-se igualmente do agravamento dos resultados financeiros em 17,3 milhões de euros, podendo esta rubrica vir a degradar-se, caso continuem as dificuldades de repatriamento de capitais. Um dos casos referidos é o da Venezuela. O problema coloca-se também em relação a Angola onde estavam retidos 19,2 milhões de euros no final do ano passado.

“Importa salientar que os depósitos bancários existentes em Angola à data de 31 de dezembro de 2014, no
montante de 19.161 milhares de euros, apresentam-se atualmente com dificuldades de repatriamento dos
fundos.” Para ultrapassar o problema, a companhia negociou uma linha de crédito corrente com o Banco BIC, que tem como colateral os referidos depósitos.