Aí está o primeiro camisola amarela do Tour de France deste ano: Rohan Dennis. O ciclista australiano da equipa BMC bateu todos os principais candidatos à vitória no prólogo em Utreque, nos Países Baixos, e é agora o líder da volta a França. Fim da história? Pelo contrário, agora é que as coisas vão ficar interessantes. E há uma série de aspetos que o fã do ciclismo – ou simplesmente das paisagens – tem de ter em conta.

1. O percurso

https://www.youtube.com/watch?v=eryYgokNN3s

Começa nos Países Baixos, passa pela Bélgica e só à quarta etapa chega a França, pelo norte. Essa será, aliás, a primeira tirada interessante para quem gosta de ver montanha, ainda que neste caso seja apenas uma quarta categoria (ou seja, subidas pouco acentuadas).

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Só quando os corredores descerem para os Pirenéus, a 14 de julho, é que a montanha a sério começa. Essa etapa, a décima, acaba com uma categoria especial (a mais íngreme) em La-Pierre-Saint-Martin, cuja inclinação varia entre os 7 e os 10%. No dia seguinte, nova prova de fogo para trepadores: a subida ao Tourmalet, pico mítico dos Pirenéus que já é percorrido por ciclistas há mais de cem anos, ainda antes do Tour existir.

Depois, para ver outra grande montanha, igualmente mítica, é esperar pela penúltima etapa, já nos Alpes, quando os ciclistas subirem o Alpe d’Huez, montanha habitualmente decisiva para a definição da classificação e que este ano, por estar tão perto do fim, pode dar um picante especial à corrida. Tudo dependerá da classificação.

Para ver ou rever algumas das paisagens que o Tour já nos deu, veja a fotogaleria no topo do artigo.

2. Os candidatos

Há uns anos, chegou a pairar sobre o Tour de France a possibilidade de a competição ficar polarizada entre dois homens por muitos anos: Alberto Contador e Andy Schleck. Os dois marcavam-se tão cerradamente e eram tão claramente superiores ao restante pelotão que parecia que aquele duelo ia animar todas as edições do Tour que se seguissem. Nada disso. Andy Schleck nunca ganhou nada na estrada (aquela correia que saltou da bicicleta, lembra-se?), mas acabaria por ser coroado vencedor da prova-rainha do ciclismo quando se descobriu que Contador se tinha dopado em 2010. O espanhol esteve suspenso, passou um mau bocado e está lentamente a regressar à ribalta, sendo apontado como um dos principais candidatos. (Schleck, já agora, reformou-se devido a uma lesão no joelho e agora é dono de uma loja de bicicletas)

Alberto Contador chega ao Tour com o Giro d’Italia deste ano já no palmarés, o que tanto coloca uma certa pressão nas costas do espanhol como lha retira, uma vez que já tem uma grande volta no papo. Acontece que Contador já não vai para novo, como os seus mais diretos adversários, e a última vez que ganhou um Tour foi em 2009 (o de 2010, já dissemos, perdeu-o), quando ocupava o primeiro lugar do ranking da União Ciclista Internacional. Hoje, com 33 anos, o espanhol está no segundo lugar dessa lista, depois de anos afastado do top 10.

Nairo Quintana tornou-se famoso no mundo do ciclismo em 2013, quando arrebatou a camisola branca (da juventude) e a das bolinhas (trepador), além de ter ficado em segundo lugar na geral. Foi, disse-o na altura, como um sonho longínquo que se tornava realidade, e deixou muitos adeptos de boca aberta: como é que um rapaz de apenas 23 anos, nascido, criado e treinado na Colômbia tinha chegado, visto e vencido daquela forma? Depois de um interregno voluntário em 2014, Nairo está de regresso ao Tour, agora com o estatuto de grande candidato. Se na geral as coisas não correrem bem, há sempre a camisola da juventude, que ainda está à mão de semear.

Christopher Froome ganhou o Tour de 2013 depois de, em 2012, ter sido o que mais trabalhou para que Bradley Wiggins ganhasse. Trabalhou tanto que ofuscou mesmo o primeiro britânico a vencer a prova, que era o chefe de fila mas nem sempre esteve à altura de Froome, que rapidamente assumiu candidatura própria ao título. A equipa que o acompanha, a Sky, foi escolhida a dedo e está absolutamente focada em o levar de novo à vitória. Traz uma vitória no Critérium du Dauhiné deste ano na mala.

Vicenzo Nibali é o homem que corre com o dorsal número um, depois da vitória no Tour do ano passado, em que deixou a concorrência a sete minutos de distância – coisa rara. Dizem os críticos que não teria vencido em 2014 se Contador e Froome não tivessem caído na estrada (naquela que foi uma das edições mais acidentadas dos últimos anos) e se Quintana tivesse aparecido. Agora, estão todos juntos e, contando que ninguém cai, podem tirar as teimas.

3. E Rui Costa?

O poveiro Rui Costa é o melhor e mais famoso ciclista português da atualidade, já com um vasto palmarés que o coloca à espreita para eventuais voos maiores neste Tour. Deste ano já leva uma vitória no campeonato nacional, uma vitória de etapa e terceiro lugar na geral do Critérium du Dauphiné. Mas são as três vitórias na Volta à Suíça e as três vitórias de etapa no Tour (em 2011 e 2013) que alentam mais esperanças de que Rui Costa possa ter outro sucesso este ano. É fácil identificá-lo no pelotão: tem uma camisola com a bandeira nacional estampada, é o dorsal 151.