Fosse por falta de base científica ou na tentativa de diminuir a liberdade e os direitos das mulheres, os médicos do século XIX diagnosticaram algumas doenças estranhas às senhoras que viveram há dois séculos. O La Voz del Muro descreve seis delas.
Vapores femininos
Desmaiou de repente? Está com vapores femininos. O seu sentido de humor tem variado muito? Está com vapores femininos. A menstruação está a bater à porta e tem dores? Vapores femininos, com certeza. Os médicos diagnosticavam os “vapores femininos” para todos estes problemas. Na dúvida, se uma mulher não estivesse em pleno, estava com os vapores. E isso englobava até aquelas que no século XIX lutavam pelo direito de votar. Eram vistas como doentes mentais que precisavam dar muito repouso ao corpo e usar sais aromáticos para acalmar o espírito.
Neurastenia
O nome é estranho, precisa de tempo para ser lido, mas não é disparatado. É uma doença do foro psicológico incluído na lista da Organização Mundial de Saúde que se refere à fadiga mental crónica. O termo existe desde o início do século XIX, quando o ritmo de vida aumentou. Na altura os médicos defenderam que as mulheres eram seres especialmente vulneráveis ao frenesim diário. E era por isso que ficavam tão ansiosas, cansadas e deprimidas.
Sobrecarga de emoções
Se é daquelas mulheres que sente uma lágrima no canto do olho mal olha para um cachorro adorável na rua, é uma pessoa emotiva. Tão simples quanto isso. Mas se vivesse há dois séculos era doente. Mesmo muito doente. Tão doente que um médico de nome Walter Freeman chegaria mais tarde com a solução radical para o seu problema: cortar os nervos cerebrais. Um dia, o médico realizou uma lobotomia (procedimento inventado pelo nosso nobel Egas Moniz) a uma dona de casa para a transformar numa mulher mais meiga. A partir daí até 1950, 50 mil mulheres dos Estados Unidos foram operadas ao cérebro para ficarem com o coração mais controlado.
Loucura
Hoje a ciência define a loucura como uma perturbação mental em que o doente não consegue, entre outras coisas, seguir as regras sociais. Mas há dois séculos, num mundo dominado pelo sexo masculino, ser mulher era ter um pé dentro dos manicómios. Bastava uma irritação, um pensamento peculiar, uma opinião ligeiramente revolucionária para estar ir parar aos hospitais psiquiátricos.
Histeria
Lembra-se da neurastenia? A histeria é mais um conceito que nasceu com a agitação da vida moderna. Sigmund Freud foi um dos médicos que estudou o fenómeno e dizia que surgia quando uma mulher – sim, sobretudo elas – eram expostas a lembranças muito emocionantes. Sintomas: ansiedade, nervosismo, desejo, lubrificação vaginal e insónias. A cura? Uma massagem genital para a qual apenas os médicos estavam preparados. A certa altura, a senhora doente entrava em “paroxismo” e tinha uma série de convulsões seguidas de uma sensação de plenitude e bem estar. Hoje, os nomes são diferentes: a histeria é afinal uma excitação sexual e o paroxismo não passa de um orgasmo. Mas na época estimou-se que quase 1/4 das mulheres estavam histéricas.
Útero errante
Cada vez que uma mulher se queixava de vertigens, dores de cabeça ou joelhos, era certo e sabido que saía do consultório com um terrível diagnóstico: deslocamento interno do útero. A doença provocava também sonolência, arritmias e até a morte, diziam os médicos do século XIX. Mas havia solução: colocar sais aromáticos na vagina era uma boa alternativa. Mas a mais eficaz era apenas uma: engravidar.
Texto editado por Filomena Martins