O passado dia 14 de agosto marcou os 70 anos da vitória norte-americana sobre o Império do Japão, a última nação da aliança do Eixo a render-se. Vários países comemoraram com fogo-de-artifício, mas os Estados Unidos da América celebraram com beijos. Este ano a cerimónia dos 70 anos da data, apelidada de “Dia V-J” nos EUA, juntou dezenas de casais na praça Times Square, em Nova Iorque, para reencenar o famoso beijo entre um marinheiro e uma enfermeira.

A fotografia é conhecida em todo o mundo, sendo considerada uma das imagens mais icónicas do século XX. A marca da vitória norte-americana sobre o Japão é replicada todos os anos, mas para muitos a fotografia celebra o assédio sexual. Afinal, marinheiro e enfermeira não se conheciam.

Mistério revelado: não se conheciam e o marinheiro de família portuguesa estava com outra mulher

Durante anos a identidade do casal permaneceu um mistério. Desde que a fotografia foi publicada pela revista Life em 1980, imensos pares identificaram-se como os protagonistas da imagem. Contudo, uma investigação da professora de História, Lawrence Verrie, aponta o filho de emigrantes portugueses George Mendonsa e a austríaca Greta Friedman, como o casal mais provável. A história é narrada no livro “The Kissing Sailor” (O Beijo do Marinheiro) publicado em 2012.

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Embora à primeira vista o abraço pareça apaixonado, os dois nunca se tinham visto. Greta era uma assistente de um dentista que foi a Times Square para confirmar as notícias do fim da guerra e Mendonsa era um marinheiro de uma família de pescadores portugueses num encontro com outra mulher.

No livro aprendemos que Greta não tinha noção da presença de George até este a agarrar e a beijar, arrebatado pela alegria com a vitória dos EUA. Após o beijo, separaram-se e não se voltaram a ver durante anos. Em 2012, a CBS conseguiu entrevistar o par original. Segundo Friedman, “Eu não o vi a chegar, mas subitamente estava presa num abraço forte.” Mendonsa justifica as suas ações ao dizer que “Estava entusiasmado com o fim da guerra, além de que já tinha bebido alguns copos. Quando vi a enfermeira, agarrei-a e beijei-a”.

O fotografo Alfred Eisenstaedt acrescenta que Mendonsa estava eufórico, beijando qualquer mulher que se aproximasse dele sem perder o tempo para pedir autorização.

Para muitos a imagem glorifica o Assédio Sexual: “Eu não o estava a beijar, ele estava-me a beijar a mim” 

As declarações do par levam muitos a ver o beijo como assédio sexual. Friedman terá sido citada a dizer, “O homem era muito forte. Eu não o estava a beijar, ele estava-me a beijar a mim.” As palavras da enfermeira austríaca terão originado bastante controvérsia e levam a fotografia a ser considerada como um exemplo de “Rape Culture” (cultura da violação). O grupo francês Osez le Féminisme declara que a imagem não imortalizou um instante romântico, mas sim o ataque de uma mulher que não deu autorização para ser beijada.

Contudo, a enfermeira austríaca recusa ser vista como uma vítima. Em declarações ao  New York Post Greta disse “Não consigo pensar em ninguém que tenha visto o beijo como assédio”. Embora não conhecesse Mendonsa na altura, fala com ele regularmente e lembra-se da data como “um evento feliz”.

As palavras de Mendonsa  à CNN são mais controversas: “Muitos dizem-me ‘Tu agarraste uma enfermeira quando estavas num encontro com outra’. Eu digo. ‘ Pelo amor de Deus, a guerra tinha acabado!’ Lembro-me do que muitas enfermeiras fizeram naquele dia.”

Apesar da polémica, ambos dizem ter orgulho em fazer parte de uma imagem que simboliza o fim da Segunda Guerra Mundial.

A fotografia original de Alfred Eisenstaedt, em 1945.

A fotografia original de Alfred Eisenstaedt, em 1945.