Cortar de vez com o álcool, fazer sexo em dias alternados durante o período fértil da mulher e apostar no verão, a estação do ano em que a probabilidade de engravidar parece ser maior. Estas são algumas das dicas que reunimos com o contributo de Vladimiro Silva, diretor da Ferticentro — centro especializado no tratamento da infertilidade — e embriologista clínico de profissão.

Ao Observador, o também consultor da Direção-Geral da Saúde partilhou alguns conselhos que prometem ajudar quem deseja engravidar em breve. Mais do que isso, desmistificou os mitos associados a este período — e não, não há posições sexuais mais eficazes do que outras e nenhuma hora do dia é mais apropriada para as relações sexuais.

 Sexo: opte pela qualidade em vez da quantidade (desculpem, rapazes). “Se as mulheres tiverem ciclos menstruais normais, vão ovular a partir do 14º dia [período fértil]. A melhor estratégia para engravidar é otimizar este processo ao ter relações sexuais em dias alternados”, esclarece o embriologista clínico. As relações devem, assim, ser concretizadas entre o 12º e o 16º dia, de maneira a favorecer a qualidade do esperma e a probabilidade de engravidar. Vladimiro Silva salienta que não “vem mal ao mundo” caso a intimidade se prolongue por mais tempo, mas lembra que ter relações sexuais em excesso (por exemplo todos os dias) influencia negativamente a qualidade do esperma.

E por falar em qualidade… aposte muito (se não tudo) no verão. Segundo um estudo publicado em junho deste ano na revista científica Chronobiology International, baseado em 11 anos de pesquisa e com mais de 5.000 participantes do sexo masculino, os espermatozoides estão mais ativos nos meses de julho e agosto, com uma mobilidade de 50% no inverno a chegar a mais de 65% no verão. Sobre isto, o embriologista clínico argumenta que é também nesta altura que existe uma maior disponibilidade de as pessoas estarem juntas, além de andarem também mais descontraídas.

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 Descontraia e desligue-se do stress. Vladimiro Silva esclarece que há vários estudos que mostram que o stress provoca alterações hormonais que acabam por ser nocivas no processo de fertilização. Mas há aqui dois tipos de stress em debate: o do dia-a-dia agitado e a ansiedade que os casais têm quando começam a tentar engravidar. “Ainda estou à espera de receber um casal sem stress na clínica. Há sempre stress, pelo que recomendaria as pessoas a descontrair, a não pensar muito no assunto e até a desvalorizá-lo.”

Tenha uma alimentação saudável. “Há certas vitaminas e minerais que estão envolvidos na produção dos espermatozoides e dos óvulos”, diz Vladimiro, mencionado o zinco (presente em carnes vermelhas, marisco, ostras e queijos), os alimentos biológicos (devido ao impacto negativo dos pesticidas na fertilidade masculina) e as vitaminas B, C e D. O embriologista lembra ainda que, caso uma pessoa tenha uma dieta equilibrada, não há necessidade de recorrer a suplementos vitamínicos.

Diga adeus ao gin e à adega lá de casa. Está claramente comprovado que o álcool tem uma influência negativa no que à fertilidade diz respeito. Embora seja eliminado do organismo numa questão de horas, surgem problemas quando o seu consumo é crónico. Exemplos? Os espermatozoides demoram cerca de três meses a serem produzidos; se um homem consumir grandes quantidades de álcool no período da sua formação, a “fornalha” será afetada (Vladimiro lembra um estudo feito em 2010, o qual avaliou a qualidade de esperma de estudantes universitários, da Universidade de Aveiro, antes e depois da queima das fitas. Consegue adivinhar os resultados?). A isso juntam-se os efeitos diretos na redução da testosterona, a hormona que determina as características masculinas. As mulheres também não escapam ilesas, uma vez que o álcool traz perturbações no processo de ovulação — em causa está a redução da sua capacidade em produzir um óvulo viável.

Tenha atenção à idade. Para o especialista, o ideal é uma mulher começar a tentar engravidar o mais cedo possível. “O pico de fertilidade é atingido entre os 25 e os 26 anos; o índice de fertilidade continua no máximo até aos 30 anos e dos 30 aos 35 há um declínio, mas nada de significativo. A partir dos 35 cai a pico até atingir o nível zero, isto é, a menopausa (que pode acontecer entre os 41 e os 59 anos).” Vladimiro lembra ainda que um casal deve procurar ajuda se ao fim de 12 meses não conseguir engravidar; e quando a mulher tem mais de 35 anos, recomenda que se procure ajuda ao fim de seis meses infrutíferos. 

E, já agora, esqueça estas ideias feitas:

  • Não, não há posições sexuais favoráveis. Para haver fecundação é necessário que os espermatozoides cheguem à zona de fecundação e, segundo o especialista, qualquer posição permite que isso aconteça;
  • Também não existem posições que garantam a conceção de um filho ou de uma filha — em última análise, é sempre o espermatozoide que determina o sexo do bebé;
  • Ao contrário do que se ouve e se lê por aí, não é preciso ficar uns minutos deitada na cama depois da relação (o que supostamente ajudaria a gravidade no que à viagem dos espermatozoides diz respeito). “Não conheço nenhum estudo em que isso tenha sido demonstrado”, esclarece Vladimiro Silva;
  • E, à semelhança dos dois primeiros pontos, não existe melhor hora para pôr a intimidade em dia. Caso para dizer: siga o seu instinto.