Ao contrário do esperado, Miguel Macedo não foi interrogado na sede do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, localizada na rua Alexandre Herculano, em Lisboa, mas sim a 200 metros – no n.º 2 da rua do Vale do Pereiro. Depois de o Observador ter revelado em exclusivo que o interrogatório iria decorrer ontem da parte da tarde, o Ministério Público decidiu mudar o local da diligência para despistar as televisões que assentaram arraiais à porta do DCIAP.

Trata-se de um prédio da Procuradoria-Geral da República (PGR), no n.º2 da Rua do Vale de Pereiro, que não tem propriamente uma história ligada à investigação criminal. É a sede de diferentes departamentos da PGR como o Gabinete de Documentação e Direito Comparado ou da Biblioteca da PGR, assim como tem áreas reservadas para o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) – o órgão de gestão e disciplinar daquela magistratura. É naquele edifício, por exemplo, que os membros permanentes do CSMP têm gabinete.

A última ligação directa do edifício à investigação criminal passa pelas equipas especiais de investigação que foram criadas pelo procurador-geral Pinto Monteiro e lideradas pela procuradora-geral adjunta Maria José Morgado (actual directora do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa).

A primeira foi criada em 2006 para coordenar a investigação de todas as certidões nascidas do processo Apito Dourado – mais de 60 e a maior parte espalhadas por comarcas de todo o país. Foi na rua do Vale do Pereiro que trabalhou uma equipa multidisciplinar de procuradores e de inspectores da Polícia Judiciária e onde foram ouvidos os principais implicados no maior escândalo do futebol português relacionado com corrupção desportiva e manipulação da classificação e da nomeação de árbitros. Tal como foi a partir dos dados recolhidos pelo procurador Carlos Teixeira em Gondomar e desenvolvidos pela equipa especial liderada por Maria José Morgado que a Liga de Clubes abriu processos disciplinares a clubes e dirigentes desportivos que culminaram na descida de divisão do Boavista e na condenação disciplinar de um grande do futebol português: o FC Porto.

A segunda equipa especial, criada um ano depois, dedicou-se às suspeitas de crimes urbanísticos na Câmara Municipal de Lisboa. Nascida a partir da gestão de Santana Lopes e de Carmona Rodrigues na autarquia lisboeta entre 2004 e 2007, e de uma sindicância aos serviços camarários (com especial destaque ao departamento de urbanismo) concluída já com António Costa à frente da edilidade lisboeta, esta segunda equipa especial não teve tanto sucesso. Muitas das irregularidades nos negócios urbanísticos acabaram por cair por terra devido a lacunas da lei penal que impediram acusações. Foi o trabalho desta equipa, contudo, que levou à criação de dois novos crimes: violação de regras urbanísticas por funcionário e violação de regras urbanísticas por parte de titulares de cargos políticos.

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