Os sinais vêm de fora, sobretudo, mas também começam a ser visíveis por estas bandas: almoçar ou jantar sozinho num restaurante está a tornar-se um ato cada vez mais banal e descomplexado que não implica — pelo contrário — uma dose de compaixão por quem o pratica. Até porque, e aqui é que está a novidade, está a crescer o número de pessoas que o fazem por opção. Quererá isto dizer que as refeições fora de portas já não são predominantemente sociais? São. Exclusivamente sociais? Nem por isso.

Refere a Fox News a este propósito, tal como o Quartz, que as reservas online para uma pessoa na plataforma Open Table aumentaram 62% nos últimos dois anos, sendo, assegura a empresa, o tipo de reserva que mais cresceu entre os seus utilizadores.

https://twitter.com/bbcworldservice/status/564936060569145345/photo/1

A nível nacional, a plataforma The Fork (que resultou da aquisição da BestTables pelo TripAdvisor) confirma, após contacto do Observador, que também verifica um aumento nas reservas individuais nos últimos três meses, ressalvando, no entanto,  que estas representam unicamente 1,26% do total do site. É impossível contabilizar uma evolução maior porque até à dita aquisição (em junho) a BestTables permitia apenas reservas para um mínimo de duas pessoas.

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Ainda a este propósito, é impossível não mencionar o restaurante holandês Eenmaal, criado em 2013 exclusivamente para comensais solitários. Os seus criadores chamam-lhe “um lugar para uma desconexão temporária num mundo hiper-conectado”. Era suposto ter sido uma experiência pop up de dois dias mas dura até hoje, e com tanto sucesso que o conceito foi replicado temporariamente noutras cidades.

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No Eenmaal, em Amesterdão, só há mesas para um. (DR)

Lisboa ainda não tem um Eenmaal ou algo que se lhe pareça — como o Moomin Café, em Tóquio e Hong Kong, onde os visitantes individuais podem desfrutar da companhia de um peluche gigante. Mas quem quiser almoçar ou jantar fora sozinho também não tem de se resignar ao food court de um centro comercial ou qualquer outro sítio onde possa passar despercebido. Até porque não há razões para isso. Eis uma dúzia de restaurantes lisboetas bons para assumir a individualidade à mesa:

A Cevicheria
Num espaço onde o polvo — o que está pendurado no tecto — é quem mais ordena, o luminoso balcão é uma óptima opção para aqueles que querem experimentar, sozinhos, um dos excelentes ceviches da casa, cortesia de Kiko Martins, chef que muitos conhecem de andanças televisivas e literárias. Para acompanhar, o pisco sour é obrigatório.

Rua Dom Pedro V, 129 (Príncipe Real). 21 803 8815. Todos os dias, das 12h30 às 00h.

Sala de Corte
Nesta steakhouse inaugurada em junho último não abundam os lugares, pelo que ir sozinho garante mais possibilidades de lá conseguir almoçar ou jantar. Mais uma vez, o balcão é o melhor amigo de quem desloca sozinho: oferece vista privilegiada sobre o rebuliço da cozinha, o que inclui a preparação dos diversos cortes de carne disponíveis.

Rua da Ribeira Nova, 28 (Cais do Sodré). 21 346 0030. De segunda a sexta das 12h às 15h e das 19h às 00h. Sábado e domingo das 12h às 00h 

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A montra da carne e o balcão da Sala de Corte (foto: DR)

Gambrinus
Poucos locais na cidade batem a classe do balcão — ou da barra, como lhe chamam — do Gambrinus, onde refeição que se preze (a solo ou não) começará sempre pelas finíssimas torradas com manteiga, prosseguirá pelos míticos croquetes, os melhores de Lisboa, sem esquecer uma incursão pelos históricos prego do lombo e sanduíche de rosbife. A tulipa da casa, o café de balão ou a constante gentileza do senhor Brito, mestre de cerimónias, completam o ramalhete e conferem à casa o estatuto de clássico intemporal.

Rua das Portas de Santo Antão, 23-25 (Rossio). 21 342 1466. Todos os dias, das 12h à 01h30.

Ground Burger
Se o filme A Canção de Lisboa tivesse sido rodado em 2015, em vez de 1933, era provável que em vez de “chapéus há muitos” o bordão fosse algo como “hamburguerias há muitas”. Mantendo-se, claro, o sufixo “seu palerma”. Mas se é verdade que não faltam hamburguerias na capital — e elas continuam a abrir — muito poucas têm a qualidade na carne, no pão e nos complementos (como os incríveis batidos) desta Ground Burger. Quem vai sozinho pode desfrutar dos lugares ao balcão ou junto a uma das paredes envidraçadas. E a falta de companhia pode ser suprida por uma das cervejas artesanais da carta.

Avenida António Augusto Aguiar, 148A (São Sebastião). 21 371 7171. De terça a sabado, das 12h às 00h.

Café do Paço
Aqui o balcão serve apenas para beber um copo enquanto se espera por mesa, mas nem por isso este é um destino menos próprio para clientes individuais que qualquer outro da lista. Por duas razões, essencialmente: não só o Café do Paço é uma casa discreta, à antiga — no melhor sentido do termo –, como Antunes e Ismael, os proprietários, são dois dos melhores anfitriões que esta cidade tem. A cozinha, de onde sai o magnífico bife à café (ou frito com alho), os fígados de aves com arroz ou o pato à Alice, faz o resto.

Rua do Paço da Rainha, 62A (Campo Mártires da Pátria). De segunda a sábado, das 18h às 02h.

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No Café do Paço, a comida é a melhor companhia possível. (foto: DR)

Galeto
Apesar de haver quem jure que a qualidade da cozinha já não é a de outros tempos, o Galeto continua a ser um balcão marcante na cidade. Marcante, serpenteante e único — ou não tivesse sido desenhado por Victor Palla –, com mais de uma centena de lugares espalhados por uma sala enorme, como já não se fazem. Muitos deles são ocupados por clientes solitários, precisamente, que sabem encontrar ali pouso ideal para uma refeição tardia. O prego e o hambúrguer em pão de brioche são escolhas seguras.

Avenida da República, 14 (Saldanha). 21 354 4444. Todos os dias, das 07h30 às 03h30.

Zapata
A única desvantagem de ir ao Zapata sem companhia é correr o risco de não conseguir terminar as generosas doses da casa, que não são feitas para pessoas de pouca fome. De resto, seja no pequeno balcão à entrada ou num lugar individual da sala interior, não há como resistir à cabidela, ao bitoque ou, principalmente, aos magníficos filetes de polvo com açorda.

Rua do Poço dos Negros, 47-49 (São Bento). 21 390 8942. Das 10h às 02h. Encerra às terças.

Coelho da Rocha
Depois da mudança de mãos e respetiva renovação, em maio último, o clássico Coelho da Rocha ganhou um balcão com cerca de uma dezena de lugares, ideal para quem procura, sozinho, petiscar alguma coisa, ou mesmo, quiçá, fazer uma refeição mais substancial. A cozinha é de absoluta confiança: soube manter os clássicos da casa, como a empada de perdiz, mas não se coibiu de ir buscar as boas influências alentejanas do outro restaurante da nova gerência, o excelente (e vizinho) O Magano.

Rua Coelho da Rocha, 104 (Campo de Ourique). 21 390 0855. De segunda a sábado, das 12h às 00h. 

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O Coelho da Rocha ficou com este aspeto, já depois da renovação.
(© Tiago Pais / Observador)

Toscana Casa de Pasto
Quem, aqui, pedir uma mesa para um não estranhe ouvir  como resposta “sai já mesa para dez”. Os múltiplos fazem parte do dialeto desta casa, tal como outros trocadilhos diversos, boa parte deles de autoria do senhor Emídio, ou Bigodes, o empregado mais carismático da Toscana e seu ex-dono. O serviço rápido, atencioso e bem humorado e o peixe sempre fresco pronto a saltar para a grelha são (boa) companhia garantida.

Rua do Sacramento a Alcântara, 72-76 (Alcântara). 21 396 8633. De terça a sábado, das 12h às 15h e das 19h às 22h.

Hikidashi — Taberna Japonesa
Se é verdade que os melhores restaurantes japoneses de Lisboa têm um balcão, casos do Tomo ou do Aron Sushi, não é menos verdade que arranjar lugar nesses balcões é mais complicado que encontrar um cenário de governabilidade para o país. O Hikidashi, que abriu no final do ano passado em Campo de Ourique, pode não ter a fama dos outros dois mas tem um balcão bem maior, com 22 lugares, e um sushiman responsável que percebe muito do assunto, Agnaldo Ferreira. E isso chega.

Rua Coelho da Rocha, 20A (Campo de Ourique). 21 395 5555. De terça a domingo, das 12h30 às 15h e das 19h às 00h.

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No Hikidashi come-se de frente para quem cozinha. (© André Correia / Observador)

Sea Me — Peixaria Moderna
Seja ao balcão ou até numa das enormes mesas corridas, o Sea Me acolhe bem quem ali se desloca sozinho com a certeza de que vai encontrar um dos locais da cidade onde o peixe é melhor tratado, seja em que contexto for, do sushi à grelha, passando pelo tacho ou por uma das sugestões do dia. Importante: não esquecer, também, os magníficos pregos (de atum e lombo) que deram origem à outra marca do grupo, o Prego da Peixaria.

Rua do Loreto, 21 (Chiado). 21 346 1564 / 65. De segunda a sexta, das 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 00h. Sábado e domingo das 12h às 00h.

La Bottega Piadina
Para uma refeição rápida a solo, as mesas altas do La Bottega Piadina, principalmente aquela junto ao vidro que a separa da Calçada do Combro, são exemplo raro que outros sítios da cidade deviam seguir. E se essa receita é fácil de copiar, já a da massa das excelentes piadinas, a especialidade italiana da casa, não há-de ser tanto. É bom sinal.

Calçada do Combro, 8 (Chiado). 21 099 0668. De terça a domingo, das 12h às 23h (sexta e sábado até às 00h)