Hollande passou a semana a recolher apoios para a coligação que está a levar a cabo ataques aéreos na Síria e no Iraque, em pontos estratégicos do Estado Islâmico, mas nem todas as respostas foram conclusivas. O Parlamento britânico está dividido em relação ao apoio a esta iniciativa e deverá votar para a semana, sem que o Partido Trabalhista se entenda no sentido de voto – mas também não há consenso nos conservadores -, a Alemanha já se comprometeu a participar e Espanha diz que decisão só deverá ser tomada depois das eleições. Em Portugal, será o novo Governo a decidir.

“Temos de atingir os terroristas nos seus territórios agora: e não nos devemos furtar à nossa responsabilidade em troca de segurança e com a ideia que os outros é que nos devem manter seguros. Durante a nossa história, o Reino Unido defendeu os seus valores e a sua maneira de viver a vida”, disse David Cameron na quinta-feira quando se dirigiu ao Parlamento. O voto sobre o avanço britânico para a coligação internacional deverá acontecer para a semana, caso o primeiro-ministro tenha a certeza que a medida passará com largo apoio.

No Partido Trabalhista, David Corbyn não está a conseguir unir o partido para chumbar qualquer apoio que vise intervenção militar na Síria, com muitos dos seus ministros sombra a apoiarem a iniciativa de David Cameron. No entanto, dentro dos próprios conservadores, a decisão de avançar com apoio à coligação internacional não é consensual e há muita preocupação com as possíveis retaliações do auto proclamado Estado Islâmico. Em 2011, o Reino Unido avançou com intervenção militar na Líbia e isso acabou por resultar na morte de Muammar Khadafi, agravando a instabilidade na região.

Já o Governo alemão decidiu dar apoio através do envio de jatos de reconhecimento e da disponibilização do seu sistema de satélites. A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, disse que a decisão foi “difícil”, mas “importante”. Estas medidas deverão ser agora aprovadas no Parlamento. Angela Merkel garantiu na quarta-feira que a Alemanha estava pronta a responder ao apelo de Hollande. “Quando o Presidente francês me pede para pensar no que é que podemos fazer mais, é o nosso dever refletir e agir rapidamente”, afirmou a chanceler após o encontro com Hollande.

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Em Espanha, com as eleições tão próximas – acontecem já a 20 de dezembro -, Rajoy deverá deixar a decisão para janeiro, altura em que já haverá novo Governo e a medida deverá ser aprovada pelas Cortes Gerais – o Parlamento espanhol foi dissolvido a 27 de novembro e há apenas uma comissão permanente. O atual ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, disse que França terá de concretizar “que tipo de ajuda é que quer” e depois a iniciativa será encaminhada por Rajoy, embora não haja tempo para que isso aconteça antes de 20 de dezembro. Mas Pablo Iglesias, líder do Podemos, disse que está provado que “a guerra não traz segurança” e opõe-se a qualquer intervenção na Síria. 

Por cá, esta semana o antigo ministro da Defesa, Aguiar Branco, disse no Parlamento que França pediu ajuda a Portugal, mas que o executivo não podia “eticamente” comprometer-se com este tipo de auxílio militar. A decisão vai passar assim para o Governo de António Costa e a responsabilidade dos esforços que Portugal virá a encetar serão do novo ministro, Azeredo Lopes.

Fora da UE, ajuda deve ser reforçada

François Hollande foi ainda aos EUA e à Rússia em busca do reforço da ação da coligação internacional. Barack Obama disse que vai apoiar França, mas ainda não é certo qual o tipo de reforço dado à coligação internacional. O Presidente norte-americano está agora pressionado pelos republicanos e pelo seu próprio partido a ter uma ação mais efetiva na região. “Nós somos todos franceses”, disse o Presidente dos Estados Unidos em francês, indicando a sua vontade de aumentar os esforços contra o Estado Islâmico, mas dificilmente com tropas no terreno.

Já na sua visita à Rússia, que decorreu esta quinta-feira, Hollande ouviu de Putin uma tomada de posição definitiva: “Estamos prontos a cooperar com a coligação liderada pelos Estados Unidos”. Este encontro aconteceu poucos dias depois de a Turquia ter atacado um jato russo que estaria a levar a cabo uma missão em território sírio. A Rússia já está a levar a cabo aos seus próprios esforços militares contra o Estado Islâmico, embora seja criticada pela sua posição benevolente face a Bashar Al-assad, ditador sírio, que mantém redutos no país.