Se a OCDE dedicasse um dos seus afamados rankings à criatividade dos empresários de restauração, cafetaria e afins na hora de batizar os respetivos estabelecimentos, era bem possível que o resultado não fosse famoso para o ego português. Basta pensar na inexplicável moda de usar o sufixo -ria em tudo quando é negócio, seja a venda de ostras, croquetes, cervejas, empadas, cachorros, picolés, rum ou até, espante-se, chouriças.

Escrito isto, é sempre de aplaudir quando alguém pensa diferente. Mesmo que o pensar diferente leve a um nome nada memóravel e impossível de encaixar no título deste artigo como Água da cascata vai correndo na ribeira e acaba no mar. “É um haiku [forma de poesia curta japonesa] que está relacionado com a ribeira que corre mesmo aqui atrás do restaurante e que desagua no mar”, explica Pedro Jesus, um dos seis sócios do restaurante, aberto desde o final de janeiro em São Pedro do Estoril. E não, não se pretende que os clientes decorem a expressão. “O giro é ver umas pessoas a chamar-lhe ‘cascata’ e outros ‘ribeira'”, conta o mesmo responsável.

Outro dos sócios, Tomás Colaço, é o artista por trás do conceito do restaurante. Perdão, da ideia. “Na verdade, só existem seis conceitos no mundo, tudo o resto são ideias”, avisa, bem-humorado, recorrendo às memórias da sua tese de doutoramento. A ideia, portanto, foi “transformar o espaço mais numa casa do que num restaurante”, resume. Assim, fez da sala de refeições uma instalação artística permanente, que se insere na sua intenção de “passar do espaço museológico para o espaço real”. Permanente e em constante mutação, por muito que isso possa exigir algum esforço aos proprietários: “Daqui a nada vamos buscar um piano a um quinto andar sem elevador. Vai ser bonito…”, lembra Pedro a meio da conversa com o Observador.

AGUA CASCATA TP7

Para decorar a sala, os responsáveis passaram vários meses a recolher e a recuperar mobiliário antigo em sítios tão diferentes como a Feira da Ladra ou casa dos avós.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Mas o Água da Cascata — chamemos-lhe assim para atalhar caminho — não é só arte, também é alimento. A ementa divide-se em duas partes: uma que designam por vegetariana (mas que na verdade é vegan, sem quaisquer produtos de origem animal), e outra centrada no sushi. “Queremos, sobretudo, ter uma oferta saudável e o mais possível à base de produtos biológicos”, explica Pedro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Da secção vegetariana destacam-se, por exemplo, propostas como o portobello no forno com cebola confitada (5€), a bolonhesa crudívora (7,50€), um esparguete fingido de legumes com molho de tomate, cogumelos e manjericão crus, ou o hambúrguer vegetariano, a Grande Cascata (6,50€), onde a carne picada é substituída por uma mistura de espinafres, cenoura, alho francês, courgete, cebola e amendoim ligada por pão ralado. E a provar que os responsáveis também estão atentos às tendências alimentares do momento estão as famosas trufas energéticas, uma das opções de sobremesa (1€ cada).

AGUA CASCATA TP12

Cogumelos portobello com cebola confitada e lâminas de courgette marinada em pesto, duas das propostas vegan da respetiva carta.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Também no que respeita ao sushi a sustentabilidade é uma preocupação. Pedro Jesus exemplifica como: “Queremos usar o máximo possível peixe da nossa costa, temos vários amigos pescadores aqui da zona que nos trazem corvinas e carapaus que depois usamos nas peças de sushi.” A faca está na mão do chef Hira. E o queijo também, mas, felizmente, só o usa em algumas, poucas, peças. “O nosso sushi não é de fusão, é moderno, ou seja, adapta o tradicional aos sabores da nossa gastronomia”, afirmam. Pode ser pedido à la carte ou em combinados que vão das 14 peças de sushi (16€) às 50 de sushi e sashimi (55€).

Para acompanhar tudo isto, o restaurante tem uma carta de bebidas capaz de agradar a gregos, troianos, egípcios e, quiçá, romanos. Isto porque vai dos sumos detox, cuja designação corresponde à respetiva cor, aos cocktails, passando pelo vinho biológico (à garrafa ou a copo) e com uma incursão curiosa pela cerveja artesanal biológica, a eborense Sant’Iago, que até já foi notícia neste jornal. Já a banda sonora traz sempre o leve crepitar do vinil, mais uma vez com o patrocínio das garagens dos pais e avós dos sócios. Mas essa até nem era a ideia inicial. “No início pensámos em ter só barulhos da natureza, só que não resultou”, recorda Pedro. Sobrou natureza suficiente, ainda assim.

Nome: Água da cascata vai correndo na ribeira e acaba no mar
Morada: Rua 9 de abril, 21 (São Pedro do Estoril)
Telefone: 21 468 3736
Horário: De terça a domingo, das 12h30 às 15h e das 19h às 00h (cozinha fecha às 23h)
Preço Médio: 20 a 25€
Reservas: Aceitam
Site: facebook.com/aguadacascata