Na era do GPS, a Pato Lógico responde com o GDS — guia de sofá. Com ele também se pode viajar e também se fazem roteiros, mas não há sinaléticas eletrónicas nem vozes gravadas sempre com a mesma entoação. Há um mapa em papel que também é um livro, com 12 pontos de paragem escolhidos, desenhados e descritos por um ilustrador local convidado.

“Isto não é um guia turístico, é mais um retrato pessoal”, começa por dizer André Letria sobre a nova coleção a que deu o nome de “A Minha Cidade”. “Quando vamos para Paris não queremos saber onde fica a Torre Eiffel, queremos saber o que é que as pessoas que lá vivem fazem, qual é o seu sítio favorito.” Com um mundo afetivo inteiro por descobrir e vontade de trabalhar mais com ilustradores estrangeiros, o editor viu aqui o pretexto ideal para desafiar artistas que admira a partilharem o que mais gostam no sítio onde vivem. Os dois primeiros a dizerem que sim já chegaram às livrarias: Susa Monteiro mostra o que fazer em Beja e Marcus Oakley quais os sítios a descobrir em Edimburgo.

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Cada dobra corresponde a uma ilustração original e a uma sugestão. Foto: Pato Lógico

Dos 25 mil habitantes da cidade alentejana aos 500 mil da capital da Escócia tem-se já uma amostra da abrangência que a coleção pretende ter. “Queremos que haja um equilíbrio entre a cidade grande e a cidade pequena, e também entre ilustradores estrangeiros e portugueses”, diz André Letria. Independentemente da nacionalidade ou da densidade populacional escolhidas, todos os mapas deverão seguir a mesma orientação: fugir dos guias turísticos habituais.

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Os mapas são reais e marcam pontos reais, mas eu vejo-os mais como guias de sofá. São objetos artísticos, não são tanto para levar debaixo do braço e abrir num cruzamento à procura de uma morada — embora possam ter essa utilização — mas para desdobrar pouco a pouco e descobrir não só uma cidade nova mas também a pessoa que lá vive.”

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No verso das sugestões está o mapa com uma pequena descrição da cidade e todos os pontos sugeridos assinalados. Foto: Pato Lógico

Do alfarrabista preferido de Marcus Oakley à ciclovia onde Susa Monteiro passeia as cadelas, todas as sugestões estão escritas na primeira pessoa e têm uma ilustração original associada. Quando Oakley confessa que a sua planta preferida no Jardim Botânico de Edimburgo é o musgo-alpino, ou que é possível ver os tecelões a trabalharem lentamente nos estúdios de tapeçaria Dovecot, torna-se evidente que estes são guias afetivos. E o cuidado com que cada sugestão é partilhada traz uma contradição ao discurso de Letria que agradará ao editor: os seus guias de sofá dão vontade de sair de casa e pegar no carro ou no bilhete de avião.

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Todos os mapas têm uma capa em forma de cinta. Foto: Pato Lógico

De Huesca a Teerão, os próximos destinos improváveis

Com o mundo inteiro a pedir para ser desenhado, André Letria tem duas formas de decidir quais são os próximos mapas de “A Minha Cidade”. “O ponto de partida tanto pode ser um ilustrador que admiramos — enviamos-lhe um e-mail e perguntamos-lhe onde é que vive — como pode ser uma cidade específica”, diz, dando como exemplo Teerão, que gostaria de ver na coleção por ser “uma cidade misteriosa” e ao mesmo tempo “uma escolha improvável”. “Exatamente para fugir à ideia de guia turístico, queremos mostrar coisas que não estamos à espera de ver”, diz o editor.

Já apalavrados estão três mapas, todos a falaram espanhol, como os seus autores: Manuel Marsol, que trará mais uma capital à coleção — Madrid –, Paloma Valdivia, que vive em Santiago do Chile, e Isidro Ferrer, de Huesca, “uma cidade um pouco abaixo dos Pirenéus que nem nos lembraríamos de visitar”, diz Letria.

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O preço de cada mapa é sempre o mesmo: 13,50€. Foto: Pato Lógico

Aos irredutíveis do GPS resta dizer: estes mapas não falam mas contam histórias e — coisa rara — não são nada difíceis de voltar a dobrar.