Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé. É isso que Pedro Passos Coelho começa a fazer, a partir deste domingo, nos distritos de Bragança e Vila Real: apresentar ao país as propostas para os vários setores que o PSD apresentou no Parlamento no âmbito do Plano Nacional de Reformas, e que acabaram (a maior parte) chumbadas pelos partidos da esquerda. Porque “as propostas que são feitas no Parlamento não chegam muitas vezes à generalidade das pessoas”, disse Passos esta noite durante um jantar em Mirandela.

É Passos, líder da oposição, a querer, seis meses depois de o Governo do PS ter assumido funções, mostrar-se e ser visto. Já o tinha dito aos conselheiros nacionais do partido, na semana passada, na primeira vez desde o congresso em que o líder enfrentou o partido: já há “dados concretos” que mostram o “fracasso do modelo”, e a necessidade de “mudar de trajetória”, pelo que cabe ao PSD, depois de alertar “em tempo útil”, apresentar as suas “ideias e propostas alternativas”.

Em Mirandela, no “pontapé de saída” das jornadas sobre valorização do território que decorrem entre domingo e terça-feira em Trás-os-Montes, Passos Coelho fez um balanço negro dos primeiros seis meses de governo, acusando o Executivo de ter destruído no último trimestre 48 mil postos de trabalho, e, de novembro até agora, “quase 60 mil”. “O Governo previa, ao longo deste ano, que se criassem 30 mil novos empregos, e já estão em falta quase 60 mil”, disse, perante uma plateia de cerca de 70 personalidades dos vários setores de atividade da região, desde a saúde à educação, passando pela agricultura.

Segundo Passos, os “dados concretos do INE, que já estão fechados”, mostram que a “economia está a perder o gás” e prova disso são os números do crescimento económico. Sempre numa perspetiva de comparação com o governo anterior, o líder do PSD lembrou que nada na Europa e em Portugal mudou a não ser o próprio Governo. “Crescemos de janeiro a março bastante menos do que a média europeia, isso significa que quando olhamos para o resto do ano, por melhor que as coisas corram, já não conseguiremos ver a economia portuguesa crescer tanto como cresceu no ano passado. Mudou o governo mas não melhorou a perspetiva de futuro”, disse.

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Acusando a maioria de esquerda que suporta o Governo de “esconder com a retórica” a inversão da trajetória de crescimento, Passos deixou ainda um conselho ao PS, PCP e BE: “já que se reúnem tanto, deviam reunir-se para pensar como vão mudar a estratégia”, disse. “Em vez de estarem tão preocupados com a renegociação da dívida ou as 35 horas deviam estar preocupados com outras coisas”.

Mas a sugestão foi ainda mais precisa: “Juntem-se os três à volta da mesa, os três em conjunto, e não dois a dois, que é mais prático, e digam assim: ‘a nossa estratégia não está a resultar, o que é que precisamos de fazer para alterar isto?’ Porque quem tem a responsabilidade de governar deve olhar para os resultados e corrigir o plano quando for preciso”, acrescentou.

As jornadas do presidente do PSD prosseguem, na segunda-feira, em Bragança e em Vila Real, com a visita a uma estação de tratamento de água numa aldeia de Bragança, e reuniões com a academia, vitivinicultores, agricultores e visita a uma empresa no distrito de Vila Real.