Um dos discursos mais marcantes da Convenção do Partido Democrata coube ao advogado Khizr Khan, o pai de Humayun Khan, um muçulmano norte-americano morto em combate no Iraque em 2004. Durante seis minutos, com a mulher, Ghazala Khan, ao seu lado, lançou duras críticas ao candidato do Partido Republicano, Donald Trump, acusando-o de “[insultar] consistentemente o caráter dos muçulmanos”.

Além disso, depois de contar como perdeu o seu filho, morto por um bombista-suicida, atirou-lhe: “Você nunca sacrificou nada nem ninguém”. Mais à frente, perguntou-lhe: “Alguma vez leu a Constituição?”. “Teria todo o gosto em emprestar-lhe a minha cópia”, disse, segurando numa edição da Constituição dos EUA.

Poucos ficaram indiferentes ao discurso, marcado pelo tom emotivo. Inclusive Donald Trump, que no sábado respondeu a Khizr Khan. “A mulher dele, se olhar para ela, estava ali sem fazer nada. Provavelmente não a deixaram dizer nada”, disse numa entrevista à ABC.

Mais tarde, no mesmo dia, lançou um comunicado onde dizia: “Embora eu sinta profundamente a perda do seu filho, o senhor Khan nunca me conheceu e não tem o direito de dizer perante milhões de pessoas que eu nunca li a Constituição, o que é falso, e dizer tantas outras coisas que não são verdadeiras”. No Twitter, escreveu: “Eu vou ferozmente atacado pelo senhor Khan na convenção democrata. Não posso responder? A Hillyar votou a favor da guerra do Iraque, eu não!”.

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Este domingo, tanto Khizr Khan como a sua mulher Ghazala responderam ao candidato do Partido Republicano, lançando-lhe novas acusações.

Khizr Khan: “Donald Trump tem uma alma negra”

Em entrevista à CNN, Khizr Khan acusou Donald Trump de ter “uma alma negra” e de não ter dois “traços necessárias a liderança” dos EUA: “Uma referência moral e empatia”.

“As suas políticas, as suas práticas, não refletem que ele tem qualquer conhecimento dos fundamentos básicos e essenciais da Constituição que tornam esete país excecional em toda a Humanidade”, disse, sobre a sua acusação de Donald Trump não ter lido a Constituição dos EUA. “Ou está a violar deliberadamente esses princípios ou então não a leu.”

Sobre a mulher, Ghazala Khan, e o seu silêncio durante o discurso do seu marido, algo que foi mencionado por Donald Trump, Khizr Khan tornou às críticas. Segundo o advogado, a sua mulher tem tensão alta e estava bastante nervosa antes do discurso. Antes de entrarem em palco, ela terá dito indicado que “podia cair” dele. Nessa altura, o marido ter-lhe-á dito que ela tinha de se “erguer perante a beleza do tributo que está a ser feito”.

Sobre Trump, e a referência à sua mulher, disse: “Quando um candidato à presidência não tem presente o respeito que uma mãe Gold Star [Estrela Dourada, atribuída aos familiares próximos daqueles que morreram em combate pelos EUA] tem neste país e dar-lhe um golpe como aquele, do alto da sua ignorância… Este país tem pessoas como ela em grande estima e ele não sabe, do topo da sua ignorância, que ela é doente e tem tensão alta”.

“Ele precisa mesmo de perguntar porque é que eu não falei?”

Também neste domingo, Ghazala Khan, mãe de Humayun Khan, reagiu às declarações de Donald Trump num texto de opinião publicado no Washington Post. Naquele artigo, Ghazala Khan explica como não consegue “entrar numa sala que tenha fotografias” do seu filho morto em combate. “Quando fui para o palco da convenção, com uma fotografia enorme do meu filho atrás de mim, mal conseguia controlar-me. Que mãe é que conseguiria?”, questionou. “Donald Trump tem filhos a quem ama. Será que ele precisa de perguntar porque é que eu não falei?”

Sobre a acusação de Donald Trump, que disse que “provavelmente não a deixaram dizer nada” no palco da convenção democrata, Ghazala Khan disse que “isso não é verdade”. “O meu marido perguntou-me se eu queria falar e eu disse que não era capaz”, explicou. E fez valer o seu silêncio: “Sem dizer o que fosse, todo mundo, toda a América, sentiu a minha dor. Eu sou uma mãe Gold Star. Quem quer que me tenha visto sentiu-me nos seus corações”.

A fechar o texto, Ghazala Khan referiu-se à declaração em que Donald Trump disse que tinha feito “muitos sacrifícios”. “Ele não sabe o que a palavra ‘sacrifício’ significa”, respondeu.