A escolha de José Eduardo Martins para coordenador do programa autárquico do PSD em Lisboa criou desconforto no inner circle de Pedro Passos Coelho. A nomeação do advogado e crítico de Passos é uma escolha da concelhia lisboeta e foi feita à revelia de Carlos Carreiras, coordenador autárquico do partido. Está a ser encarada como uma provocação ao líder do partido.

Carlos Carreiras, em declaração ao Diário Notícias, admitiu não ter tido conhecimento prévio da escolha da comissão política da concelhia de Lisboa. Reiterando que a escolha do coordenador do programa eleitoral para Lisboa é da exclusiva competência estatutária da concelhia, o coordenador autárquico afastou qualquer cenário de desconforto.

A distrital social-democrata de Lisboa também teria ficado de fora deste processo de decisão, escreve o mesmo DN, citando fonte da estrutura. A mesma fonte sugere que a escolha de José Eduardo Martins para coordenador do programa autárquico foi uma “provocação” a Pedro Passos Coelho.

No entanto, em declarações à revista Sábado, Miguel Pinto Luz desmente categoricamente esta versão. “Fui informado pelo presidente da concelhia, Mauro Xavier, da escolha de José Eduardo Martins e, nesse sentido, acho que é importante a abertura do partido a quadros que por diversas razões têm estado afastados de dar o seu contributo aos mais diversos níveis”, garante. O dirigente assegura que foi avisado “dois dias” antes de se tornar público que José Eduardo Martins avançaria para coordenador autárquico.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mauro Xavier, presidente da concelhia, procurou relativizar a polémica — ele que tem sido um crítico da gestão que a direção do partido está a fazer sobre o processo autárquico. E justificou a decisão de apresentar um coordenador do programa autárquico quando ainda está por fechar o nome do candidato a Lisboa. “O candidato vai ser apresentado no primeiro trimestre [de 2017], não tem tempo depois de fazer um programa“, explicou o social-democrata ao DN.

“É tempo de discutir as ideias. Se vir várias declarações de Carlos Carreiras – e só para citar as públicas –, ele tem sempre dito que não é um tempo de nomes, é um tempo de ideias, é isso que estamos a fazer”, acrescentou Mauro Xavier. “Percebo que, como não está apresentado o candidato, o nome do coordenador do programa toma uma relevância diferente”.

Como explicava o Observador, José Eduardo Martins é um dos nomes que tem sido falado como possível candidato à câmara de Lisboa, caso a solução “Pedro Santana Lopes” falhe. De resto, o antigo secretário de Estado era dado como o preferido de Mauro Xavier. Em julho, o Observador avançou com a notícia de que o jurista da Abreu Advogados estava na linha para poder aparecer com uma candidatura. Com este posicionamento como coordenador do programa, José Eduardo Martins não entrará na corrida para a câmara.

José Eduardo Martins confirmou isso mesmo ao Diário de Notícias. “A minha disponibilidade foi para coordenar o programa do PSD, um programa para uma cidade onde ainda há muito para desejar, da Ameixoeira ao Chiado. Um programa para uma cidade vítima de obras de sustentabilidade questionável. É um desafio não para ter protagonismo, mas para ajudar o PSD numa tarefa muito importante. Há muito tempo que não me desafiavam para nada do género”.

*Artigo às 12h23 atualizado com as declarações de Miguel Pinto Luz