O advogado social-democrata José Eduardo Martins aparece num site da concelhia de Lisboa do PSD — que ainda não foi lançado — como coordenador do programa autárquico do partido, mesmo antes de ser conhecido o nome do candidato do partido à capital. “Lisboa é uma cidade tolerante. Mas os lisboetas estão fartos de políticos que a encaram não como um fim mas como um meio, usando-a como trampolim para outros palcos”, escreve o ex-secretário de Estado do Ambiente num texto publicado nesse projeto de homepage a que o Observador teve acesso. O título do site é “Lisboa com futuro 2017”. Um anteprojeto para as eleições autárquicas que deverá ser lançado no dia 3 de outubro.
“Esta é uma plataforma de iniciativa do PSD Lisboa com o objetivo de construir o próximo programa eleitoral da cidade”, anuncia o site sobre uma foto do alto do Parque Eduardo VII, de onde se pode ver o Marquês de Pombal e o rio Tejo. A homepage deve servir para a recolha de sugestões e divulgação de projetos e iniciativas nas 24 freguesias da cidade.
José Eduardo Martins é um dos nomes que tem sido falado como possível candidato à câmara de Lisboa, caso Pedro Santana Lopes não avance e era dado como o preferido de Mauro Xavier, presidente da concelhia do PSD, que promove esta plataforma. Em julho, o Observador avançou com a notícia de que o jurista da Abreu Advogados estava na linha para poder aparecer com uma candidatura. Com este posicionamento como coordenador do programa, José Eduardo Martins não entrará na corrida para a câmara.
O próprio militante social-democrata, que apareceu no último congresso do PSD, em Abril, como uma das vozes críticas de Pedro Passos Coelho, nunca foi taxativo a afastar uma candidatura. No programa “O Outro Lado”, na RTP3, José Eduardo Martins comentou a notícia do Observador sobre o seu provável interesse deixando tudo em aberto. “Não vale a pena acrescentar mais nenhum nome por agora, porque ainda não é tempo de personalizar as candidaturas”, afirmou na televisão pública. Em abril, no rescaldo do congresso do partido, já tinha dado uma entrevista ao Expresso onde não descartou uma candidatura e até afirmou que era “um desafio estimulante”. O seu envolvimento será a outro nível.
Mauro Xavier, o presidente da concelhia do PSD, abre o site com um texto onde diz que Lisboa se orgulha de receber turistas, mas “não pode ser governada para os turistas”, e também sublinha que não invoca “o nome de Lisboa a pensar noutros voos”. O dirigente não fala em candidatos, nem menciona as eleições: “É a pensar nos lisboetas que lançamos esta plataforma digital. Queremos que esta seja a voz de todos”, escreve.
O projeto do site deverá ser aprovado na reunião da comissão política da concelhia de Lisboa na tarde desta terça-feira. Contactado pelo Observador, Mauro Xavier não quis falar do projeto antes da reunião. José Eduardo Martins não respondeu aos contactos do Observador.
No texto publicado no projeto do site, José Eduardo Martins critica as obras que estão em curso na cidade: “Não pode continuar a confundir-se obra bem planificada com ruas e praças transformadas num estaleiro perpétuo em função dos calendários eleitorais.” O militante social-democrata diz que “alguns problemas estruturais da capital portuguesa permanecem adiados, à espera de soluções que nunca chegam”. E sem dizer que Fernando Medina é natural do Porto, também escreve que Lisboa “exige, por exemplo, ter autarcas que estejam com ela profundamente identificados, em vez de gente que só a conhece de passagem”.
O tabu de Pedro Santana Lopes mantém-se
Pedro Santana Lopes mantém-se irredutível na atitude de não revelar o que vai fazer em relação à câmara de Lisboa. Numa declaração ao Expresso há semana e meia, por ocasião dos cinco anos de mandato na Santa Casa da Misericórdia, voltou a dizer que só deixaria de ser provedor caso houvesse circunstâncias “excecionais”. Nunca explicou, porém, se a falta de um nome ganhador em Lisboa se enquadra nessa exceção.
No início de setembro, antes de Assunção Cristas, líder do CDS, anunciar a sua candidatura à capital, o coordenador autárquico do PSD, Carlos Carreiras, fez um apelo direto a Santana Lopes pela primeira vez. Carlos Carreiras afirmou à Sábado que o partido não podia ficar refém dos timmings do provedor da Santa Casa: “Isto não depende só da vontade de uma das partes, depende da vontade do próprio. Nós aguardamos por essa decisão, que o dr. Santana Lopes terá de tomar, mas o partido não pode ficar refém desse adiamento.” Uma semana antes, na SIC, Santana Lopes dissera que não queria ser um fator de instabilidade para o partido: “Amigo não empata amigo”, disse. “Não pedi a ninguém para ser candidato”.
Nessa ocasião, Carreiras disse à Sábado que, “não acontecendo [uma decisão] no sentido positivo ou nos tempos que são aconselháveis, o PSD não tem de ficar refém” e abrirá um “novo processo” de seleção de um candidato.