A Missão do Iraque em Nova Iorque tem um segredo obscuro: o seu porão foi utilizado como sala de detenção e tortura quando o ditador Saddam Hussein se encontrava no poder. A sala foi construída num edifício de cinco andares perto do Central Park, Nova Iorque, segundo oficiais iraquianos contaram ao New York Post.

“Era uma sala escura. As portas foram reforçadas para que ninguém pudesse entrar ou sair. Nem sequer eram necessários sistemas à prova de som” afirmou um oficial. O segundo oficial acrescentou ainda: “Ninguém conseguiria ouvir se alguém gritasse aqui de baixo.”

De acordo com os oficiais iraquianos que falaram com o New York Post em regime de anonimato, os chamados agentes Mukhabarat (Serviços de Inteligência Iraquiano) procuravam e prendiam, durante 15 dias, cidadãos iraquianos que viviam nos EUA, utilizando-os chantagem para a cooperação de familiares seus com o regime.

Segundo os oficiais, as técnicas de tortura utilizadas pelos Serviços de Inteligência incluíam arrancar as unhas aos prisioneiros e espancá-los com fio de cobre, pranchas de madeira ou mangueiras de borracha. Em quase quatro décadas, Saddam transformou a Mukhabarat numa agência de segurança nacional para um grupo de espiões selvagens. Se não houvesse cooperação por parte dos prisioneiros, estes poderiam ser executados e enviados de volta para Bagdad, dentro de caixas diplomáticas que não teriam a autorização para serem abertas ou revistadas.

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As salas de detenção e tortura encontradas em Nova Iorque são similares a outras existentes noutras embaixadas iraquianas à volta do mundo, nomeadamente na Europa Oriental e países árabes, explicou um dos oficiais.

Mas várias das provas que poderiam incriminar a organização terão sido eliminadas antes da invasão do edifício, em 2003, logo após a queda de Saddam do poder.

“Os oficiais do governo dos EUA entraram e fiscalizaram discos rígidos e computadores. Entraram dentro de cofres que foram esmagados até se abrirem.” explicou um dos oficiais.

Em 2014, o espaço subterrâneo foi convertido e completamente renovado numa kitchenette, remodelação que custou aproximadamente 120 mil dólares.

Antes desta alteração, a cave encontrava-se dividida em três espaços principais: um escritório, um centro de comunicações (onde eram enviadas as mensagens encriptadas para Bagdad) e um espaço de detenção, para onde se entrava através de uma porta de metal gigante cercada por barras de aço. Também o terraço do edifício foi eliminado, para que as Forças aéreas dos EUA e os satélites não fossem capazes de ver nada do que se passava no interior. Havia ainda um grande patrulhamento nas ruas por parte dos Mukhabarat.

Embora seja bastante difícil de calcular a verdadeira escala do número de mortes provocadas por Saddam, a Amnistia Internacional adianta que só em 1997 se registaram 3,000 mortes.