Theodore Roosevelt. Esse mesmo, o presidente dos EUA entre 1901-1909 e o primeiro norte-americano a receber o Nobel da Paz (1906). Em Outubro 1912, no dia 14, o homem está em plena campanha eleitoral e prepara-se para fazer um discurso à porta de um hotel em Milwaukee. Antes do uso da palavra, um tal John Schrank atira a matar e o candidato só é salvo pela caixa de óculos de metal. A bala atravessa metade da caixa, nem mais nem menos. O coração de Teddy está bem, aconselha-se. Vai daí, um naturalmente combalido Roosevelt avisa a plateia de que acabara de ser baleado. “Peço o maior silêncio possível porque não posso falar tão alto como quero.” O povo entra em modo silêncio e toma lá disto: 80 minutos de discurso. Sem parar. Fala, fala, fala pelos cotovelos. De nada lhe vale. Nas eleições, queremos dizer. Roosevelt perde e sai irremediavelmente da política.

Estádio 22 Julho. Esse mesmo, o do Famalicão, 18.º classificado da 2.ª divisão. Em Outubro 2016, no dia 13, o clube está animado com a perspectiva de eliminar o Sporting. E entra cheio de força, através da genica de Diogo Cunha. Por duas vezes, o médio esquerdo semeia ali o pânico na área do Sporting e obriga Jesus a perder a compostura com ordens energéticas para o relvado. Aos sete, Lima cabeceia por cima. O leão só ruge aos 9′, por Douglas. No instante seguinte, Elias pisa a área e toca para Markovic abrir o marcador. Está comprovado o êxito de Marko com equipas do Minho. Tanto ao serviço do Sporting (Vitória em Guimarães, agora Famalicão), como a favor do Benfica (Gil Vicente, Vitória em Guimarães e Vitória na Luz – este aqui é aquela chapelada ao guarda-redes antes de parar a bola na coxa e atirar para a baliza deserta).

Isto agora é tipo Roosevelt: o Famalicão está ferido e vai falar durante 80 minutos. Sem êxito (desculpem este spoiler alert). O monólogo começa aos 20′, com outro remate de Diogo Cunha e defesa atenta de Beto. Aos 33′, o mesmo Diogo Cunha desmarca Medeiros e lá tem Beto de evitar o empate. A situação repete-se na segunda parte, com dois cabeceamentos, um de Medeiros à malha lateral (56′), outro de Pedro Correia por cima (88′). O Sporting assusta Gabriel, por Elias (ao lado, 41′) e Markovic (também ao lado, na sequência de um passe delicioso de William, 55′). Com o 1-0 no marcador, é à base do serviço mínimo rumo aos 16 avos-de-final. Quer dizer, à excepção de Gelson. Quando entra em campo, é um festival de fintas, pára-arrancas, dribles e afins. É ele quem atira os foguetes e apanha as canas. Um espectáculo diferente. E se aquela bola aos 73′ entrasse, aí seria o fim do mundo em cuecas.

Soa o apito e acaba a festa da Taça, com outra vitória do Sporting em Famalicão. A nona em 11 jogos, a segunda por 1-0 (a outra é de 1990, com golo de Gomes). Para Jesus, é o primeiro triunfo em Famalicão, após aquele 2-0 ao serviço do Felgueiras em 1994. Segue-se agora a emoção da Liga dos Campeões, com o Borussia, na 3.ª feira, em Alvalade.

Com arbitragem de Manuel Mota (Braga), eis as equipas
FAMALICÃO: Gabriel; Joel, Nailson, Vilaça e Jorge Miguel; Vítor Lima (Mendes, 87′), Diogo Cunha (Patrick, 80′) e Feliz; Perre, Chico (Correia, 70′) e Medeiros.
Treinador: Ulisses Morais (português)
SPORTING: Beto; João Pereira, Douglas, Paulo Oliveira e Jefferson (Campbell, 86′); Petrovic (William, 46′); Markovic, Elias e Bruno César; Alan Ruiz (Gelson, 63′) e André
Treinador: Jorge Jesus (português)
Marcador: 0-1, Markovic (10′)

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