O dia era de festa. O presidente da União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no Porto, estava a celebrar três anos de mandato e passou pelo Mercado da Foz para conhecer a mais recente novidade: chama-se Famous Dog e promete mostrar que pão de choco, molho picante com sabores de caril, sementes de chia e salsicha de porco bísaro ou de soja são ingredientes que cabem perfeitamente num cachorro quente.

Na informação enviada aos jornalistas, podia ler-se que os mentores do Famous Dog “sentiram uma falha no mercado e que o cachorro não estava a ser devidamente tratado e aproveitado”. “Eu não acho que estão a ser maltratados“, explica ao Observador Luís Branco Lopes, um dos três sócios. Acha, sim, que o Famous Dog faz a receita tradicional evoluir para novos sabores, fruto de experiências de uma “cozinha ao mais alto nível“.

Cozinha de alto nível aplicada a uma receita que associamos a simplicidade, descontração e baixo preço. “Porque não?”, terão pensado Luís (advogado), o irmão Frederico Branco (médico) e o amigo Paulo Viana (setor bancário). Chamaram o chef Ilídio Barbosa, do restaurante Porto Novo, situado no Sheraton Porto Hotel & Spa, e criaram cinco cachorros quentes de raça: Lassie, Rex, Snoopy, Brian e Scooby.

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O cachorro Scooby leva pão negro feito com tinta de choco, molho artesanal, abacaxi, cebola crocante e salsicha de peru. O que pensaria o comilão Scooby-Doo desta receita? © Divulgação

Se todos os nomes soam familiares, isso não é coincidência: cada cachorro tem o seu nome associado a um herói canino do cinema e da televisão. A saudosa Lassie versão cachorro é feita com pão de frutos vermelhos, molho artesanal, queijo cheddar e salsicha de frango. Rex, o cão polícia, é representado por um pão tradicional com queijo limiano, bacon crocante e salsicha de porco bísaro.

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Snoopy, o herói da série “Peanuts”, é vegetariano e leva pão integral, legumes marinados e salsicha de soja. Brian, o sofisticado e quase humano canídeo da série “Family Guy”, é representado através de um pão tradicional, molho picante com sabores de caril e salsicha de porco bísaro. Por fim encontramos Scooby: pão negro feito com tinta de choco, molho artesanal, abacaxi, cebola crocante e salsicha de peru. É melhor manter-se afastado do comilão Shaggy, seu inseparável amigo na série “Scooby-Doo”.

Cada cachorro custa 4,50€, ou 6€ com batatas fritas e bebida. Por mais 50 cêntimos é possível pedir o menu duo, com dois mini cachorros, para quem quer provar sabores diferentes. Por falar em mini, o Famous Dog também vai servir mini sobremesas, para não se limitar aos almoços. Luís, Frederico e Paulo assumem que espaço na Foz será “um laboratório, para depois expandir”. Ou seja, em breve poderemos avistar mais Famous Dog, não só no Porto e em Portugal como no estrangeiro.

Loja Famous Dog mercado da foz

O Famous Dog tem cinco bancos ao balcão para sentar os clientes. Todos os cachorros são servidos em modo ‘take away’. © Divulgação

A maioria dos negócios escolhe fixar-se na Baixa do Porto, mas os três sócios escolheram o pequeno Mercado da Foz. Estabeleceram-se ali, não só por serem da Foz, mas por esta ser “uma área que está em crescente expansão”. “Notamos que muito do turismo do centro do Porto também chega aqui, já começamos a ver projetos novos engraçados na Foz e o mercado, para além de ter história, vai crescer, não ficou estagnado no tempo”, sublinha Luís Branco Lopes.

O mercado de frescos é para manter

Quem desce da Praça do Império em direção ao mar pode nem reparar que, do lado direito, há uma rampa que dá acesso a 32 lojas, divididas por 25 lojistas. Na primeira linha do olhar, ao centro, estão as frutas e os produtos de mercaria e lar. A partir daí, é preciso optar pelo corredor direito ou esquerdo. Não vale a pena perder muito tempo na decisão, que o mercado é pequeno e percorre-se num instante. Mas nele cabe uma diversidade considerável de negócios, de restaurantes ao talho e peixaria, de cafés, marmeladas e geleias a um sapateiro e uma queijaria.

A falta de visibilidade é um problema identificado. Em novembro, vai ser lançado um concurso para a construção de uma entrada nova, rebaixada, para que quem passa possa ver que o mercado está ali e que vale a pena entrar. O chão também há de mudar todo, assim como toda a parte elétrica, mas não por enquanto. É Nuno Ortigão, o presidente da junta e o rosto da vontade de modernizar e afirmar o espaço, quem o diz ao Observador.

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O Famous Dog fica ao fundo do corredor direito do mercado. © Pedro Granadeiro / Global Imagens

Nuno Ortigão ainda não sabe dizer se será preciso fechar as portas temporariamente, por causa das obras, mas está a tentar de tudo “para que isso não aconteça”. Com as obras na entrada, os clientes terão de dar a volta e aceder ao Mercado da Foz pela Rua de Côrte Real, onde estará uma entrada provisória. Entretanto, já houve intervenções em alguns telhados e vão continuar, para retirar o amianto.

“Nestes três anos, fizemos algo que inexplicavelmente não existia: ligação ao saneamento público. O que era uma coisa inconcebível. A segunda coisa que fizemos foi um pequeno arranjo nas casas de banho”, estando previstas obras de fundo no futuro. “Começámos também a dar alguma visibilidade ao Mercado da Foz”, recorda, o que fez com que tenham aparecido “muitas pessoas à procura de trespasses junto dos atuais lojistas”.

Em três anos, contam-se seis novas lojas. A Hamburgueria do Mercado substituiu o café da entrada. Os Frascos do Mercado, onde se encontram sumos, saladas, snacks, refeições e lanches saudáveis apresentados em frascos ocupam o que antes era “uma loja estranha, que vendia ovos mas nunca estava aberta”. As novidades recentes não se ficam só pelos cachorros. “Em breve vem para aqui uma casa de tapas e a Brigadão, casa do Porto que vende brigadeiros. Será construída ainda uma nova loja e outra vai ser aumentada.

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Em breve haverá mais dois negócios a abrir: uma casa de tapas e a Brigadão, loja portuense de brigadeiros. © Divulgação

Nuno Ortigão ressalva, contudo, que o objetivo não passa por transformar o mercado numa zona de restauração. Para mostrar isso mesmo, a Junta instalou ali, no ano passado, um Espaço do Cidadão, o primeiro a entrar em funcionamento numa freguesia do Porto. No primeiro ano, prestou serviços a cerca de seis mil pessoas e, com isso, atraiu mais clientes. Cecília Ferreira, à frente do talho há 20 anos, confirma que o número de visitantes cresceu. Com o aumento do turismo na zona, o número de estrangeiros a passar a porta da entrada também aumentou, observa Adosinda, que há oito anos prepara comida caseira para take away, no Cantinho da Adosinda.

O projeto completo está orçamentado em 580 mil euros. A concessão tem “um saldo de exploração positivo” para a junta de freguesia mas, por ser uma quantia avultada, as mudanças vão sendo feitas gradualmente. Uma das principais ideias é a de “aumentar o mercado para o Lavadouro da Ervilha“, que fica do lado esquerdo da entrada, explica Nuno Ortigão. Os tanques onde os munícipes podem ir lavar a roupa seriam deslocados e, no seu lugar, irá nascer uma praça de restauração e espaço para mais três lojas. O presidente não arrisca uma data para as obras. “Ou conseguimos atrair um investidor que em hasta pública pegue no projeto, ou temos de esperar, porque a junta não tem capacidade financeira para fazer esse investimento.”

Manter a parte dos frescos é fulcral. “São a essência do mercado”. Mas a praça faz falta. O Famous Dog, por exemplo, não tem espaço para colocar mesas, tem apenas alguns bancos ao balcão e todos os cachorros vêm preparados para serem transportados e comidos onde o cliente quiser: seja num dos bancos à entrada do mercado, seja ao fundo da Rua de Diu, junto à praia.

Uma das promessas de Nuno Ortigão era a de alargar o horário de funcionamento do espaço. Sobretudo agora que há mais sítios para comer. Atualmente, o Mercado da Foz abre às sete da manhã e encerra às 19h00 (nem todos os negócios abrem e fecham à mesma hora). “Estamos quase a conseguir a aprovação do novo regulamento”, explica o presidente, o que vai permitir alargar o horário até à meia noite. E não só. Atualmente, o espaço encerra aos sábados e segundas-feiras após as 15h00, coisa que deixará de acontecer. As lojas familiares não serão esquecidas e poderão encerrar para descanso semanal. “Todo este investimento quer também compensar estes resistentes, porque o Mercado da Foz não tem investimento há mais de 20 anos, estava entregue a si próprio. É justo que estes senhores possam usufruir da nova vida”.