É difícil de acreditar, olhando para as imagens, que tenha 80 anos acabados de fazer. Mas é mesmo assim. Wang Deshun é um ator chinês que se estreou no ano passado como modelo de passarela e que está a inspirar milhares de pessoas pela sua forma de encarar a vida, o caminho para a “felicidade” e o “sucesso”, mas, sobretudo, pela forma como encara a idade e o processo de envelhecimento. “Aos 80 anos ainda tenho muitos sonhos por concretizar”, diz, defendendo que a ideia de que “é tarde demais” não é mais do que uma desculpa para não ser bem-sucedido.

Num país como a China, a idade legal de reforma para os homens ronda entre os 55 e os 60 anos, dependendo se se é ou não funcionário público, e para as mulheres fixa-se nos 50. Ser “velho” na China costuma significar ser sábio, respeitado, e não é raro ver uma pessoa com 50 anos ou menos a ser tratado pelo equivalente ao nome carinhoso de “avô”, independentemente de ter ou não netos. Mas para este homem, cuja história se tornou um fenómeno da internet nos últimos meses, os 80 são só o início. E é para este momento que, diz, se anda a preparar “há 60 anos”.

Estreou-se aos 24 anos como ator, mas só aos 44 decidiu aprender inglês. Aos 50 começou a sua ingressão no ginásio, fazendo treinos físicos diários, aos 57 voltou a pisar os palcos e criou a sua própria performance artística intitulada “Escultura viva”, e aos 70, nas palavras do próprio, entrou “a sério” no mundo do exercício e da preparação física. Aos 79, no ano passado, pisou pela primeira vez uma passarela, sendo a estrela de um desfile de moda, e foi isso (a par do seu tronco nu digno de um jovem de 20 anos) que o lançou para a ribalta.

“Aos 80 ainda resta muita coisa em mim, ainda tenho muitos sonhos por concretizar. Acreditem em mim, quando pensarem que é tarde demais pensem melhor e não deixem que isso se torne uma desculpa para desistir. Ninguém vos pode impedir de ter sucesso senão vocês próprios”, diz num vídeo divulgado a propósito do seu aniversário, em setembro, altura em que completou oito décadas.

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Foi a estreia na moda, há um ano, que o catapultou para a ribalta, mas antes já tinha passado pelo mundo do cinema. De acordo com a base de dados cinematográfica IMDB, Wang Deshun entrou em filmes como O Reino Proibido (2008), Di Renjie: Tong tian di guo (2010) e Guerreiros do céu e da terra (2003). Foi, no entanto, o desfile em tronco nu que chamou a atenção para si e para a sua história de vida.

Multiplicou-se em explicações sobre o seu percurso e forma de encarar a vida, que se tornaram uma inspiração para muitas pessoas e começaram a mudar a forma de os chineses encararem a velhice.

Não é que Wang Deshun não seja avô, porque é, com dois filhos e uma neta de dois anos, mas fora da genealogia não se sente o “avô” que o povo chinês está habituado a apelidar. E a prova disso, explica, é que ainda consegue responder afirmativamente à pergunta “queres experimentar uma coisa que nunca fizeste antes?”. Sim. Porque, disse numa recente entrevista, “é a natureza determina a idade, mas és tu que determinas o teu estado de espírito”.