Os treinadores dizem-nos que não. Mas mentem. Dizem-nos que o todo é mais importante que a parte. Viu-se. No Sporting, quando a parte se lesionou — e leia-se por “parte” um tal de Adrien Silva –, o Sporting penou. Ora empatou (no primeiro de três empates consecutivos, em Guimarães, Adrien saiu cedo, lesionado, e ainda com o Sporting na frente) para o campeonato, ora perdeu na “Champions” — no melhor jogo das derrotas, em Dortmund, o capitão regressou na segunda parte. Esta noite, e diante do Arouca, Adrien voltou a vestir a “verde-e-branca”, voltou a dar-lhe amarelo à manga esquerda, o amarelo da braçadeira, e voltou a ser o melhor.

(Sim, Bas Dost “molhou a sopa” duas vezes. Mas Adrien esteve diretamente envolvido em dois dos três golos com que o Sporting arrumou os “tenros” visitantes do José Alvalade. E fez mais do que isso: jogou, fez jogar, impediu que o Arouca o fizesse.)

Mas a primeira parte foi em ritmo de treino, há que dizê-lo. O Sporting foi melhor. Muito melhor. E melhor do que em partidas bem recentes. Mas só fez um remate na direção da baliza. Assim sendo, contar-lhe-ei a primeira parte em precisas noventa-e-sete palavras:

Tudo começou no lateral João Pereira e num lançamento looooongo à direita. Força nas canetas (ou melhor: nos braços) é coisa que não lhe faltou, a bola lançada chegou à área, Rúben Semedo cabeceou-a para trás, esta vai ter com Coates, que a cabeceia para a frente. Nenhum deles o fez na direção da baliza. Não era isso que queriam fazer. Mas neste bola-vai, bola-vem, trocaram as voltas à defesa do Arouca, o último desvio (de Coates) cai no pé direito de Bas Dost dentro da pequena área, e sem marcação o holandês desviou para o golo.

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Tudo contado.

Viria a segunda parte. E falando dela, quero falar-lhe de karma — e de como este pode ser cruel e justo. Cedo, aos 49′, o lateral Vítor Costa impede que João Pereira faça rapidamente um lançamento, vê o segundo cartão amarelo e vai tomar duche mais cedo. Sem contestação possível. A haver, é de Lito Vidigal. Mas contra o seu atleta — é desavergonhado (e desnecessário também) o empurrão ao 47 do Sporting. Ainda sem ninguém na posição que era a de Vítor à esquerda do Arouca, 51′, esteve para se assistir a coisa rara no estádio José Alvalade. Não, não é o cometa Halley que está de visita. É mais raro do que isso: João Pereira fazer um golo de cabeça. Mas esteve perto de acontecer. Não aconteceu por um palmo, a distância a que o cabeceamento passou do poste esquerdo do Arouca. Pereira, agora sem a marcação do lateral Vítor, subiu pela direita, entrou na área, William ergueu a cabeça e viu-o lá longe, picou-lhe a bola e o defesa do Sporting cabeceou à vontade. Mas falhou. Foi meio karma, para Vítor não ser “espertalhão”. Ou a ausência disso.

O outro meio (karma, entenda-se) foi aos 55′. Tudo aí. Sessenta segundos e nem mais um. Primeiro, sai Artur e entra Gegé; um extremo por um lateral. Até aqui, tudo bem: Lito tinha que reforçar a segunda posição depois da expulsão de Vítor. O que não faz sentido é Artur sair a passo, vindo sabe Deus de onde, lentamente, quase sofregamente, quando a sua equipa está a perder — e ainda falta tanto para o fim da partida. Enfim, mentalidades. Pequeninas, mas mentalidades.

Lembra-se do minuto a que estamos, certo? Pois bem. Rrrrrola a bola. Bryan Ruiz é canhoto. Mas foi desmarcado à direita. Espaço para correr era coisa que não lhe faltava. E ele correu. Mas faltava-lhe um pé destro para cruzar. Usou do que tinha, que é “cego”, o cruzamento saiu assim-assim, e terminou em Adrien, para lá do segundo poste. Para rematar, não deu. Mas Adrien recebeu a bola, esperou uns segundos mais — ainda no minuto 55 –, os defesas do Arouca correram até ele, chegaram lá, mas quando chegaram rapidamente viram que a bola sido cruzada para Joel Campell, que na pequena área teve espaço e tempo para cabecear ao ângulo superior direito da baliza de Bracali. Pois, o karma é tudo isso que a língua inglesa lhe chama…

Aos 64′, João Pereira cruzou para a esquina da área, à direita desta, Adrien receciona a bola, e quando se volta para seguir com ela para a baliza é derrubado por Sema Velázquez. Penálti. “Sem espinhas”. O problema foi depois. Adrien chegou-se à frente para o bater, Bracali caiu para a esquerda, o capitão do Sporting chutou para a direita, mas nem na baliza acertou. Três pontos para Gales! Mas a um capitão tudo se perdoa. Até porque cinco minutos depois, Adrien viu Campbell sozinho à direita. Assim viu, assim lá colocou a bola, redondinha, certeira. O costa-riquenho cruzou, um cruzamento à Bruce Lee, todo “carateca” e no ar, Bas Dost estava sozinho na pequena área e desviou como quis.

E é isto. Tudo contadinho. Contas feitas, o Sporting recupera pontos a Benfica e FC Porto, que empataram no Dragão. É agora segundo (21 pontos) classificado, ex aequo com o FC Porto; do rival de Lisboa está separado por cinco pontos. O Arouca mal se viu em Alvalade.