Cinco pessoas ficaram feridas e quatro foram detidas em confrontos na madrugada desta segunda-feira entre manifestantes e a polícia em Hong Kong, horas após uma marcha ter juntado milhares contra a intervenção de Pequim nos assuntos da região.

Os cinco feridos são dois polícias e três manifestantes, informou a polícia, citada pela agência de notícias Efe.

Entre os detidos estava o presidente do grupo político Liga dos Sociais-democratas, Avery Ng Man-Yuen, conforme confirmado pelo próprio, através da sua página de Facebook, depois de ter sido colocado em liberdade sob fiança.

Cerca de 13 mil pessoas, segundo os organizadores, ou 8.000, segundo as autoridades, protestaram na antiga colónia britânica contra a intenção do Governo chinês de intervir num conflito que se vive no seio do Conselho Legislativo (parlamento) da região chinesa há quase um mês.

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O Governo de Hong Kong está a tentar impedir que os deputados pró-independência Baggio Leung e Yau Wai-ching ocupem os seus lugares no Conselho Legislativo (Legco) por terem feito alusões independentistas e referências consideradas prejorativas em relação à China na cerimónia de juramento do cargo.

Horas depois do fim do protesto, centenas de manifestantes dirigiram-se para o Gabinete de Ligação do Governo de Pequim em Hong Kong.

Em cenas que lembram os protestos pró-democracia de 2014, os manifestantes carregaram as barreiras metálicas montadas pela polícia no lado de fora do edifício.

Os manifestantes utilizaram chapéus-de-chuva – símbolo do protesto de 2014 – para se protegeram do gás lacrimogéneo enquanto tentavam aproximar-se do edifício, enquanto alguns atiraram objetos, como garrafas de plástico ou tijolos arrancados do pavimento.

As tensões estenderam-se por mais de cinco horas e envolveram pelo menos 700 polícias, segundo informou o jornal local South China Morning Post, obrigando a cortar temporariamente o trânsito na zona, que foi restabelecido por volta das 3h da madrugada de hoje (19h de domingo em Lisboa).

Desde a transferência da soberania, em 1997, que Hong Kong, com o estatuto de Região Administrativa Especial da China, beneficia, tal como Macau, de um regime de “elevada autonomia”.

Contudo, nos últimos anos tem aumentado a preocupação com a interferência de Pequim nos assuntos de Hong Kong.

A agência oficial chinesa Xinhua noticiou no sábado que o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da China afirmou ter de intervir na disputa em Hong Kong para travar os defensores da independência, falando numa ameaça à segurança nacional.

A agência cita um comunicado do órgão que refere que as ações dos dois deputados “representam uma grave ameaça à soberania e segurança nacional”.

O Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da China decidiu discutir a interpretação de um artigo da Lei Básica (miniconstituição) de Hong Kong sobre os juramentos dos deputados, considerada necessária e oportuna pelos seus membros, segundo a Xinhua.

À semelhança dos restantes 68 deputados, Baggio Leung e Yau Wai-ching, dois ‘localists’ do Youngspiration eleitos nas legislativas de 4 de setembro, prestaram juramento a 12 de outubro, mas recorreram a ao uso de várias formas de protesto.

Ambos pronunciaram a palavra China de uma forma considerada ofensiva e acrescentaram palavras suas às do juramento, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”.

Esses juramentos não foram aceites e o presidente do LegCo decidiu dar a oportunidade aos deputados de os repetirem.

No entanto, o chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, pediu uma intervenção urgente do tribunal. O veredito judicial ainda não é conhecido.