As sucessivas derrotas do Estado Islâmico durante a ofensiva sobre Mossul deverão levar a mais atentados na Europa como resposta, avança o jornal espanhol ABC, que cita fontes dos serviços de inteligência de Espanha. Desde o início da ofensiva liderada pelo exército iraquiano, que visa tomar o controlo do último bastião do Estado Islâmico no Iraque, a organização terrorista já perdeu cerca de 40% do território que tinha sob controlo.

“O Estado Islâmico necessita que aconteçam coisas, e a cada dia há mais elementos concretos em cima da mesa que apontam para que se esteja a preparar um ataque”, asseguram fontes dos serviços de inteligência e informação ao ABC. O último sinal foi a mensagem enviada pelo líder da organização, Abu Baker al-Baghdadi, aos combatentes, em que apelou aos militantes que resistam aos “ímpios”, que “causem estragos na sua terra” e que façam o “seu sangue correr como rios”.

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Ataques suicidas levados a cabo pelo Estado Islâmico desde o início da ofensiva sobre Mossul.

“Os objetivos mais previsíveis seriam as multidões desprotegidas, e como se viu em Nice nem sequer é necessário que o terrorista leve armas para causar um grande dano, basta ter a determinação necessária”, esclarecem as mesmas fontes, sublinhando que os alvos preferenciais serão recintos como estádios, teatros, concertos ou meios de transporte. Até que isso aconteça deverão passar alguns anos, continuam as fontes ouvidas pelo jornal espanhol. “Parece que se dá por recuperada a cidade de Mossul, quando essa operação não vai ser rápida, nem limpa nem agradável”.

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Apesar de este ser o cenário previsível, “há que ter em conta várias outras coisas”. Primeiro, porque o Estado Islâmico “não quer sair da Síria por razões religiosas, políticas e ideológicas”, visto que “está muito cómodo ali e não é realista pensar que vai desaparecer daquela zona de todo, mesmo que formalmente se controle todo o país”. Depois, há ainda o objetivo de fundo da organização, que sempre foi manter aquele território como base e expandi-lo “para a Europa ocidental, Líbia, Afeganistão, Mali”.

Certo é que não é possível derrubar o Estado Islâmico apenas com um combate militar, porque a base da organização é religiosa. Como recorda o ABC, o derrube da Al Qaeda também foi anunciado pelos Estados Unidos, mas a verdade é que o grupo ainda existe e controla alguns territórios no Médio Oriente e em África. É este o destino que os especialistas preveem para o Estado Islâmico: que se transforme numa organização clandestina, que sobrevive ilegalmente num outro regime. E, atualmente, os extremistas levam uma vantagem: muitos vieram dos serviços secretos iraquianos, antes de se radicalizarem, e “sabem o que pensam, quais vão ser os seus passos seguintes, e antecipam a resposta”. As fontes dos serviços de inteligência ouvidas pelo ABC asseguram: “Têm uma profundidade estratégica bestial”.

Esta queda do Estado Islâmico vai representar uma grave ameaça para a Europa: os mais de três mil combatentes da organização provenientes dos países ocidentais deverão regressar aos seus países de origem, muitos deles ainda radicalizados. Estes combatentes retornados levam uma grande experiência de morte e de luta, e, sobretudo, levam os ideais da organização bem fixados, o que os torna num perigo iminente para as cidades ocidentais em que se instalarem.